O ex-primeiro-ministro são-tomense Patrice Trovoada acusou o Presidente da República de executar um "golpe palaciano", que culminou na nomeação de um Governo de iniciativa presidencial e “inconstitucional”.
“Esse Governo que se quer chamar de constitucional não é o Governo da ADI [Ação Democrática Independente], não é um Governo constitucional, mas é um Governo da iniciativa do Presidente da República que preparou esse golpe já há largos meses, no sentido de se apoderar de todos os poderes que não lhe confere a Constituição”, disse Patrice Trovoada num vídeo publicado na rede social Facebook, na noite de quarta-feira.
Patrice Trovoada, que é presidente da ADI, afirmou que “o atual primeiro-ministro [Américo Ramos] não foi escolhido pela direção do partido, não foi indigitado pelo partido que venceu as eleições legislativas, por conseguinte é um primeiro-ministro ilegal”.
“Esse Governo que querem chamar de nova esperança, no fundo é um Governo de amigos e compadres que tem como denominador comum resolver os seus problemas pessoais e de ego hipertrofiado”, insistiu Patrice Trovoada.
O XIX Governo são-tomense, liderado pelo economista Américo Ramos, foi empossado na terça-feira e é composto por 10 ministros, seis homens e quatro mulheres, e quatro elementos fizeram parte do executivo anterior, liderado por Patrice Trovoada.
Américo Ramos, escolhido pelo Presidente da República, após rejeitar dois nomes propostos pela ADI, foi ministro das Finanças (2010-2012 e 2014-2018) de governos do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, secretário-geral da ADI e Governador do Banco Central de São Tomé e Príncipe, cargo que ocupava até assumir a chefia do Governo.
“Este é um Governo liderado pela ADI [Ação Democrática Independente], partido do qual faço parte e que tenho orgulho de servir como dirigente. A ADI conquistou com mérito a confiança da maioria dos eleitores nas últimas eleições”, afirmou Américo Ramos no seu discurso de tomada de posse, assegurando que será “um primeiro-ministro para todos os são-tomenses, independentemente da sua filiação política”.
Após a posse do Governo, o segundo vice-presidente da Ação Democrática Independente, Orlando da Mata, afirmou que “muitos membros” da ADI com função de relevância no partido, “e que puseram, acima de tudo, o país [à frente]”, apoiam o novo Governo são-tomense, contrariando a contestação da direção do partido.
“Hoje nós temos uma figura da ADI [Américo Ramos] no poder, nós temos um elenco maioritariamente da ADI com algumas áreas estratégicas […], nós vemos um Governo competente e que irá ter muito apoio, não só dentro da ADI como fora”, disse Orlando da Mata.
Todos os partidos com assento parlamentar defenderam deveria ser a ADI a indigitar o novo primeiro-ministro, mas mudaram de posição e declararam apoio ao novo Governo, o que mereceu criticas de Patrice Trovoada que os acusou de “aceitar essa farsa”.
“O MLSTP [Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, líder da oposição] está à espera do momento certo para dar a machadada final nesse Governo e por conseguinte no ADI. Por isso que é muito importante nós dizermos ao país, ao nosso povo e à comunidade internacional que esse Governo não é o Governo do ADI”, declarou Trovoada.
Admitindo os riscos de “retaliações, intimidações e tentativas de corrupção” que disse existir no país, o ex-governante e líder partidário disse aguardar uma decisão "sem receio” do Tribunal Constitucional sobre o pedido apresentado pela ADI para a anulação do decreto presidencial que demitiu o Governo.
O Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, demitiu o 18.º Governo liderado por Patrice Trovoada em 06 de janeiro, apontando “assinalável incapacidade” de solucionar os "inúmeros desafios" do país e “manifesta deslealdade institucional”.
A Semana com Lusa
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