O discurso do rei Mohammed VI por ocasião do 23.º aniversário da sua chegada ao trono (aos 35 anos), focado nos "desafios da atualidade", como as medidas anti-Covid, ou o investimento da UE, surpreendeu pela larga parte dedicada às marroquinas e à condição feminina.
Mohammed, o sexto do nome, indicou desde o primeiro momento no trono, em 1999, o seu projeto de modernizador de Marrocos, o mais estável país do Norte de África, e que, embora não sendo afetado diretamente pela “Primavera Árabe” de há uma década, soube logo tirar ilações sobre as ambições dos estratos da sociedade marroquina.
No ato solene deste vigésimo-terceiro ano do seu reinado expressou que "o desenvolvimento de Marrocos está subordinado ao estatuto das mulheres e à sua participação efetiva nas várias áreas de desenvolvimento".
"Todos devem entender que conceder direitos às mulheres não significa que tal seja feito em detrimento dos homens, nem em detrimento das mulheres", declarou Mohammed VI, valendo-se do peso simbólico da sua dupla condição de rei e de comandante dos crentes, este último um prestigioso título que advém de a dinastia alauita ser descendente do profeta Maomé.
Quotas. As últimas eleições legislativas, em 2021, viram a percentagem de deputadas passar de 20% para 24%, um feito celebrado como mais um passo positivo na “igualdade de género”. O novo governo quis reforçar esse ganho de representatividade das marroquinas e sete pastas foram para mulheres — um recorde.
As quotas obrigatórias para mulheres nos conselhos de administração de empresas cotadas em bolsa, com uma meta de (pelo menos) 30% de representação feminina até 2024 e 40% até 2027 são outra iniciativa, muito aplaudida a nível da ONU e Banco Mundial.
As marroquinas estão de há muito no mundo dos negócios (tal como na academia, na diplomacia, na cultura, etc.), mas a ideia é garantir que a tendência acelera, acompanhando e motivando o aumento da participação das mulheres na população ativa, onde ainda são só um quarto do total.
Isto demonstra a atenção devida às exigências da sociedade, sobretudo das novas gerações, e à necessidade de corrigir injustiças históricas e velhos preconceitos. Condição necessária para que o desenvolvimento avance no reino, para mais prosperidade da população e a atenuação das desigualdades sociais (Marrocos aplica lei para erradicar o trabalho doméstico infantil, 04.out.018).
Relações com a ArgéliaNeste discurso régio, destaca-se o claro apelo para o reino de Marrocos estender a mão à vizinha Argélia, para tentar ultrapassar o mau momento nas relações bilaterais.
Outro destaque ainda: as várias medidas sociais para atenuar os efeitos da crise económica criada pela Covid-19 nos últimos dois anos.
Mas sobressai sobretudo como destacou a imprensa estrangeira da referência, a mensagem do soberano à sociedade marroquina sobre a importância de continuar a combater as desigualdades de género e de garantir às mulheres, em especial as pertencentes às classes sociais mais desfavorecidas, condições de vida melhores do que aquelas denunciadas através das estatísticas.
Fontes: EPA/AFP/Le Quotidien de Benin/ Le Monde.fr/ Expresso.pt/ ... Relacionado: Dia do 1º ouro olímpico de Marrocos: "Todas as meninas serão Nawal", 03.ago.022.
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