Cerca de 17,2% da população de Cabo Verde era “multidimensionalmente pobre”, em 2015, de acordo com um novo índice divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e que deverá ser atualizado ainda este ano.
As privações enfrentadas pelos cabo-verdianos “concentravam-se, sobretudo, nas condições de habitação, anos de escolaridade, combustível de cozinha, saneamento, sobrelotação de habitação e nutrição”, lê-se no boletim do INE que apresenta o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) nacional, que avalia 12 aspetos do bem-estar quotidiano cabo-verdiano, além das tradicionais medições monetárias.
Cerca de um terço da população (a rondar 500 mil pessoas, dispersas por nove ilhas do Atlântico), em 2015, não tinha acesso a saneamento ou combustível adequado para cozinhar e mais de um quarto da população vivia em habitações excessivamente sobrelotadas.
Além disso, cerca de um terço da população vivia em agregados familiares onde nenhum dos adultos completou o oitavo ano de escolaridade (ensino mínimo obrigatório em Cabo Verde) ou mais.
Quase um quarto dos cabo-verdianos vivia em agregados “com pelo menos uma pessoa subnutrida ou sem acesso à fonte segura de água potável”, lê-se no documento do INE.
O IPM indica ainda que quase um quarto fazia parte de famílias que “não tinham acesso à Internet ou em que nenhum indivíduo com 10 anos ou mais a utilizava regularmente”.
Os habitantes rurais eram “2,3 vezes mais propensos a serem multidimensionalmente pobres do que os seus homólogos urbanos”.
Os dados mostram ainda que todos os 22 municípios “apresentam uma taxa de pobreza multidimensional inferior à sua taxa de pobreza monetária”.
Conhecer as múltiplas privações de um agregado familiar “permite ter informações precisas sobre como erradicar a pobreza”, complementando a medição da pobreza monetária, justifica o INE.
Cabo Verde junta-se aos países que medem a pobreza enquanto um fenómeno multidimensional para avaliar “o progresso social alcançado pelas suas políticas”, acrescenta.
O IPM é calculado com base no Inquérito às Despesas e Receitas Familiares (IDRF), que serve também para calcular a pobreza monetária e que já foi feito por quatro vezes em Cabo Verde: 1988/89, 2001/02, 2015 e 2023.
Os dados de 2023 estão a ser trabalhados e o INE espera ter resultados até final do mês, o que permitirá atualizar o IPM e avaliar “a evolução do bem-estar dos cabo-verdianos em 2023, tanto em termos monetários como à base das múltiplas privações que vêm sofrendo, sem esquecer os choques enfrentados pelos agregados familiares, impostos pelas secas, pela pandemia da covid-19 e pela invasão da Ucrânia pela Rússia”.
O Governo estabeleceu como meta o ano de 2026 para erradicar a pobreza extrema, que atinge 9,4% da população do arquipélago.
A proposta de um IPM nacional para Cabo Verde está a ser trabalhada desde final de 2022 pelo INE em colaboração com o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
A Semana com Lusa
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