O presidente do PAICV, Rui Semedo, afirmou neste domingo,18, que Cabo Verde está “no caminho errado” e que o Governo se tem demonstrado “insensível” aos problemas que os cabo-verdianos enfrentam, nomeadamente o desemprego com predominância entre os jovens.
Segundo o líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que falava na cidade da Praia, esta é a “convicção da maioria” dos cabo-verdianos, “quase 60% expressa no estudo do Afrobarómetro, apresentado em Janeiro de 2023”.
“Na verdade, esse estudo veio confirmar as manifestações de desalento do cidadão anónimo no seu dia-a-dia, em relação aos mais variados aspetos da sua vida: no emprego, na saúde, na educação, na atividade económica, na segurança, só para enumerar alguns”, declarou Rui Semedo.
O líder da oposição falava à Inforpress à margem da primeira reunião ordinária deste ano do Conselho Nacional do PAICV, que se reuniu sábado, 17, e hoje, para avaliar a situação política nacional e os desafios atuais de Cabo Verde.
Conforme referiu, além do impacto diretos das crises internacionais, Cabo Verde vive uma outra crise, com “efeitos mais nefastos, a da governação do País”.
“A crise que assola Cabo Verde tem na composição do governo da república, o seu primeiro fator. Um Governo sobredimensionado que absorve avultados recursos do erário público, com gastos inusitados que bem podiam ser canalizados para aliviar a precariedade de vida de muitas famílias cabo-verdianas”, considerou a mesma fonte.
Trata-se, segundo Semedo, de um Governo “insensível aos problemas” que a população enfrenta, “desfocado da realidade” do país, “fechado sobre si próprio”, que “não dá ouvidos à população, não dialoga com a oposição e prefere insistir nos erros”.
Muitos dos quais, continuou, já cometidos no anterior ciclo de governação do MpD e “impregnados no seu DNA”, como os relacionados com “a transparência, as privatizações e as concessões”.
Para o presidente do PAICV, o País vive sob “o signo da degradação a todos os níveis”, nomeadamente na oferta do emprego, no poder de compra e na qualidade de vida das pessoas, com predominância nos jovens, que buscam uma saída fora de Cabo Verde, caindo por terra os elevados custos neles investidos na formação e desperdiçando mão-de-obra qualificada “tão necessária” para os desafios de desenvolvimento de Cabo Verde.
“A degradação tem agudizado a pobreza, feito aumentar exponencialmente a desigualdade social, com incidência desmedida em áreas chave para o desenvolvimento global do país como, por exemplo, a educação e o sistema de transportes aéreos e marítimos, em que as respostas que o Governo foi capaz de oferecer aos cabo-verdianos, falharam redondamente”, vincou Rui Semedo.
Salientou ainda que o Governo ainda não percebeu que sendo Cabo Verde um país arquipelágico e insular, a sustentabilidade de toda e qualquer medida de política, passa, “crucialmente”, pela mobilidade de pessoas e bens intra e entre ihas, bem como pela ligação com o exterior e com a nossa vasta diáspora, constituindo a pedra basilar e o eixo vital para o desenvolvimento de Cabo Verde.
O Governo não percebeu também que, mais do que um fim em si, um sistema de transporte moderno, eficiente e eficaz representa “a principal alavanca” para viabilizar o desenvolvimento económico nacional e garantir a integração de Cabo Verde no mundo, potenciando as vantagens competitivas que o país pode oferecer.
Pelo que, precisou, vários outros factores de crise afectam a vida dos cabo-verdianos, entre eles a crise energética, com os cortes de energia na capital e não só, a crise no abastecimento de água, com comunidades e bairros a passarem meses sem ter o precioso líquido e a procurar, de novo, a água auto transportada.
Relativamente ao estado da democracia, decretou que Cabo Verde está “encalhado na mesma pontuação sem qualquer evolução há já muito tempo”, e que há uma “certa manipulação” dos parâmetros da pontuação e ranking para fazer passar a ideia de ganhos conseguidos.
A Semana com Inforpress
19 de fevereiro 2024
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