Cabo Verde foi esta quarta-feira apontado como um exemplo no combate à malária, no seguimento da aprovação pelos ministros da saúde africanos de um compromisso contra esta doença que exige ações e mais financiamento.
Num encontro com os jornalistas que se seguiu à Conferência Ministerial sobre a Malária, em Yaoundé, capital dos Camarões, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a diretora regional desta organização para África, Matshidiso Moeti, disse que teve oportunidade de testemunhar a política desenvolvida por Cabo Verde contra a malária.
No passado dia 12 de janeiro, Cabo Verde foi certificado pela OMS como país livre de malária, uma certificação concedida após a transmissão autóctone da doença ter comprovadamente sido interrompida por pelo menos três anos consecutivos.
Moeti elogiou as medidas e a utilização de recursos pelas autoridades cabo-verdianas e concordou que os exemplos devem ser utilizados nesta nova abordagem contra a doença e, nomeadamente, a mortalidade que provoca em África, onde em 2022 se registaram 94% dos casos de malária (233 milhões) e 95% (580.000) das mortes por malária.
Determinação, foco e financiamento foram as ideias reiteradas pelos participantes da conferência de imprensa, com o diretor-geral adjunto para a Cobertura Universal de Saúde, Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis da OMS, Jérôme Salomon, a classificar de “histórica” a conferência de hoje.
Sobre a declaração assinada pelos participantes, disse que “expressa um comprometimento em reduzir o número de mortes causados pela malária”.
“Vamos mudar a história da malária” para “uma África sem malária”, o que “não é um sonho”, afirmou.
Por seu lado, o ministro da Saúde Pública dos Camarões, Malachie Manaouda, elogiou o empenho de todos e considerou que a declaração “marca um ponto importante” na luta contra o paludismo e associa, a partir de hoje, os Camarões a “uma África unida, solidária”.
“Esta declaração reflete o nosso compromisso comum, enquanto nações e parceiros, de proteger os nossos povos das consequências devastadoras da malária. Trabalharemos em conjunto para garantir que este compromisso se traduz em ação e impacto”, afirmou Manaouda Malachie.
Os participantes foram perentórios em recomendar a vacinação contra a malária, assegurando que a mesma é segura e uma medida importante na redução da doença.
Na declaração assinada hoje em Yaoundé, os ministros comprometeram-se a reforçar a liderança e a aumentar o financiamento interno dos programas de controlo da malária, a garantir um maior investimento em tecnologia de dados, a aplicar as mais recentes orientações técnicas em matéria de controlo e eliminação da malária e a intensificar os esforços de controlo da malária a nível nacional e subnacional.
Os ministros comprometeram-se ainda a aumentar os investimentos no setor da saúde para reforçar as infraestruturas, o pessoal e a execução dos programas, a reforçar a colaboração multissetorial e a criar parcerias para o financiamento, a investigação e a inovação.
Além de ministros da saúde, participaram no encontro parceiros mundiais da malária, agências de financiamento, cientistas, organizações da sociedade civil e outras partes interessadas.
A região africana alberga 11 países que suportam aproximadamente 70% do fardo global da malária: Burkina Faso, Camarões, República Democrática do Congo, Gana, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Sudão, Uganda e Tanzânia.
Os progressos na luta contra a malária estagnaram nestes países africanos com elevada incidência da doença desde 2017 devido a fatores como as crises humanitárias, o baixo acesso e a qualidade insuficiente dos serviços de saúde, as alterações climáticas, as barreiras relacionadas com o género, as ameaças biológicas, como a resistência aos inseticidas e aos medicamentos, e as crises económicas mundiais.
Segundo a OMS, o financiamento para o controlo da malária a nível mundial também é inadequado. Em 2022, estavam disponíveis 4,1 mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros) - pouco mais de metade do orçamento necessário - para a resposta à malária.
“Globalmente, o mundo fez progressos significativos contra a malária nas últimas décadas e, no entanto, desde 2017, esses progressos estagnaram”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado num comunicado da organização.
A Semana com Lusa
07 de Março de 2024
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