O ministro da Administração Interna cabo-verdiano disse esta quarta-feira à Lusa que os alarmes deviam disparar antes da morte dos migrantes que arriscam viajar de África para as Canárias em embarcações que depois chegam a Cabo Verde à deriva.
«O movimento migratório dura há vários anos e leva muitos a arriscar a vida em barcos precários para fugir da pobreza, violência e instabilidade no continente, nos países da África Ocidental, procurando porto seguro».
“Agora, o que podemos fazer é comunicar” quando um barco dá à costa e dar a informação sobre os sobreviventes, referiu Paulo Rocha.
O governante comentava a situação de um barco artesanal que terá partido do continente com 65 ocupantes e que ficou um mês à deriva, sobrevivendo quatro náufragos, no domingo, na ilha de São Vicente.
Entretanto, um outro barco com 11 pessoas também deu à costa da ilha, esta quarta-feira, aparentemente sem vítimas mortais durante a viagem, estando ainda as equipas de proteção civil no local.
“Este assunto é debatido em todos os países do Atlântico. Todos os países estão conscientes de que existem vagas de imigração e que, neste momento, há uma vaga do continente para as ilhas Canárias [parte de Espanha, Europa]. E é daí que decorrem estes eventos de deriva, no mar, e que acabam por vir aqui parar”, disse, em entrevista à Lusa.
Sobre os quatro sobreviventes de domingo, ainda estão a receber tratamento, devido ao grave estado debilitado em que foram resgatados da embarcação, explicou o governante.
“Não se conseguem locomover”, depois de semanas sem se alimentar.
Estima-se que tenham entre 15 e 26 anos, são naturais do Senegal, Mauritânia e dois do Mali, mas pouco mais se sabe, aguardando-se que as condições de saúde se estabilizem.
“Depois deste processo de completa identificação, as autoridades diplomáticas entrarão em contacto com países de origem para localizar os familiares e para se proceder ao repatriamento, nos termos da lei”, explicou.
“As autoridades já estão treinadas”, devido a outros casos com que têm lidado nos últimos anos, referiu, acrescentando que “o tempo que o processo vai levar depende, sobretudo, da recuperação física dos náufragos, que estavam no mar há 20 a 30 dias”, disse.
Na embarcação que no domingo de manhã foi encontrada na zona de Calhau, em São Vicente, foram encontrados inúmeros documentos, objetos pessoais e moeda que fazem crer que, além do Senegal, Mali e Mauritânia, havia também naturais da Guiné-Conacri entre os ocupantes.
O Governo cabo-verdiano já solicitou o apoio da Organização Internacional das Migrações (OIM) para acompanhar o caso e os náufragos.
O movimento migratório dura há vários anos e leva muitos a arriscar a vida em barcos precários para fugir da pobreza, violência e instabilidade no continente, nos países da África Ocidental, procurando porto seguro.
Além dos dois barcos artesanais que encalharam na ilha de São Vicente, no domingo e hoje, registaram-se outros três casos nos últimos 16 meses.
Em novembro de 2022, uma embarcação com 66 imigrantes senegaleses deu à costa, na ilha do Sal.
Em janeiro de 2023, uma piroga chegou à ilha da Boa Vista com 90 migrantes africanos a bordo, dois deles mortos.
Um barco que partiu do Senegal em julho de 2023, com 101 pessoas, foi encontrado à deriva junto à ilha do Sal, Cabo Verde, em agosto, com 38 sobreviventes, assistidos e repatriados.
A Semana com Lusa
07 de Março de 2024
Terms & Conditions
Subscribe
Report
My comments