sábado, 06 julho 2024

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Antropóloga diz que Cova da Moura é lição para Cabo Verde travar "barril de pólvora"

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Uma antropóloga portuguesa que trabalhou com jovens na Cova da Moura, Amadora, e acompanhou as suas dificuldades, encontrou os mesmos problemas na capital de Cabo Verde, onde vai publicar uma investigação para ajudar a travar este “barril de pólvora”.

“Os problemas que identifiquei na Cova da Moura, e que são problemas complexos, como o desemprego e a delinquência juvenil, têm de ser tratados de uma forma integrada, sistémica”, disse à agência Lusa a antropóloga Cláudia Vaz, autora do estudo “Rap e graffiti na Kova da Moura como mecanismos de reflexão identitária de jovens afrodescendentes”.

O estudo partiu da sua tese de doutoramento e, juntamente com o antropólogo visual Ricardo Campos, resultou num artigo publicado na revista brasileira Goiânia, em 2013.

Cláudia Vaz continuou a acompanhar os jovens da Cova da Moura, de quem se diz “fã”, face aos desafios que enfrentam, mas também às respostas que encontram para os mesmos.

Cada vez mais, esses jovens que crescem em ambientes, desfavoráveis numa série de contextos - social, político, cultural, educacional - foram-se apercebendo que a forma que tinham, e que não surgiu neste bairro, de dar a conhecer os seus problemas, quer para fora, quer para dentro”, era através da expressão musical, da escrita e do graffiti.

É a forma, entre outras, de “se expressarem e de se fazerem ouvir para além dos muros, desses guetos, e conseguirem reclamar os direitos que têm, enquanto seres humanos”, adiantou.

Considerando o hip-hop “incontornável”, Cláudia Vaz referiu que esta é “uma forma de comunicação” e “uma forma de narrar as suas lutas, as suas dificuldades, os seus sonhos”, principalmente o rap.

Ao nível dos temas destas expressões musicais e visuais, a investigadora observa que o rap é “mais político”, situando-se sobretudo na “reivindicação de direitos”.

Eu identifiquei mais os temas da discriminação, do estereótipo, do estigma, orgulho, a questão da africanidade, o pan-africanismo”, indicou.

Como referências, muito presentes nos graffitis que existem em várias ruas e becos da Cova da Moura, encontrou figuras como Malcom X, Martin Luther King, Amílcar Cabral.

“Vão buscar muito a esses africanistas. Tem a ver com a história, o conhecimento histórico. Estamos a falar de líderes negros que conseguiram motivar e inspirar gerações, com mensagens diferentes, mas a maior parte deles tem uma mensagem de união pela paz e não pela guerra”, disse.

E prosseguiu que o que estas mensagens transmitem é que ser negro e da Cova da Moura não é impedimento para ser líder.

Cláudia Vaz reconhece que o seu trabalho de vários anos na Cova da Moura ensinou-a a identificar o potencial destes jovens, mas também a tornou sensível às problemáticas que então encontrou.

Por essa razão, quando decidiu viver na ilha cabo-verdiana de Santiago, e na capital Praia, cedo se apercebeu de alterações relacionadas com o rápido crescimento urbano que a fizeram sentir-se “em casa”.

Este é um problema grave - violência juvenil, desemprego juvenil. Há padrões, que têm a ver com contextos humanos, que produzem e reproduzem comportamentos”, sublinhou.

E adiantou: “Violência juvenil, aparente desinteresse dos jovens, o abandono escolar prematuro, a gravidez precoce, estamos a falar de uma cultura juvenil de determinados contextos”.

Cláudia Vaz defende uma resposta que evite que estes fenómenos que agora estão a crescer em Cabo Verde, sobretudo na Praia, atinjam “as proporções que atingiram no Brasil, Estados Unidos ou Portugal”.

Não precisamos de lá chegar, se as medidas forem pensadas com os jovens e de uma forma concertada a médio e longo prazo”, disse.

Conta contribuir para essa solução com o lançamento da sua tese de doutoramento na cidade da Praia, em maio, até porque defende que estes estudos, pela sua importância, devem ser “orientados para as políticas públicas e não podem ficar nas universidades”.

O seu objetivo é “suscitar a reflexão”, pois considerou que este tipo de fenómenos “não deve ser ignorado nem tratado como exclusivo de um determinado momento e lugar”.

“Em termos de índice de abandono escolar, violência juvenil, em Portugal acredito que [o problema] seja maior, porque já existe há mais tempo. Aqui [em Cabo Verde] é mais recente e, por isso, comecei a circular e a identificar problemas e até soluções que já existem na Cova da Moura há 20 anos”, disse.

A Semana com Lusa 

02 de Março de 2024 

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Daniela Santana
7 days 22 hours

Devemos todos fazer uma subscrição a favor do Leão Vulcão. Todos, todos, todos.

Americo costa feritas
8 days 1 hour

Esta noticia peca em todos os aspetos; presença dum governante, melhor vodka do mundo, produção de vodka num pais tropic

Antonio
18 days 23 hours

Paz à sua alma.

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