sexta-feira, 04 julho 2025

ENTREVISTA: Independências: Ex-PR cabo-verdiano defende política externa de Cabo Verde “atrevida” e “inteligente”

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O ex-Presidente cabo-verdiano Jorge Carlos Fonseca defende que o país deve ter uma política externa “atrevida” e “inteligente”, a propósito dos 50 anos de independência e das transformações na política mundial.

 

“A questão da partilha dos valores, das grandes opções, vai se tornar cada vez mais exigente e teremos de escolher parceiros com os mesmos valores que nós. Somos pela democracia, estado de direito, direitos humanos e temos de nos orientar, neste contexto, por esses valores e não nos escondermos com hesitações ou estarmos em cima do muro e não sermos claros”, descreve.

 

“Eu sempre defendi, já quando era ministro dos Negócios Estrangeiros (1991-1993), que devíamos ter uma política externa atrevida, ousada e alinhada por valores – e, hoje em dia, cada vez mais”, refere, em entrevista à Lusa, no seu gabinete de antigo Presidente, no Plateau, centro da cidade da Praia.

O antigo chefe de Estado (2011-2021) considera que “os alinhamentos por valores, no futuro, vão ser cada vez mais claros”.

“Eu tenho defendido, por exemplo, que o que se joga, hoje, com a invasão russa à Ucrânia, é a sobrevivência das democracias e o seu peso relativo face a regimes autocráticos e ditatoriais. Assistimos à investida crescente das forças, ideias, correntes e pensamento dos países que se consubstanciam como autocracias e ditaduras”, diz.

Hoje, uma “grande parte” da humanidade está submetida a autocracias.

Neste cenário global, Cabo Verde “é um país pequeno, uma gota de água no oceano” e “a tentação das autoridades cabo-verdianas” pode ser a de seguir o mesmo guião de há 50 anos, por altura da independência: “Somos pequenos, não temos recursos, somos um país pobre, dependemos da ajuda e cooperação internacional e temos de ser cautelosos, prudentes, quase escondidos em termos de política externa”.

E é aqui que Jorge Carlos Fonseca sugere atrevimento inteligente, com Cabo Verde a assumir “uma posição clara no contexto internacional, porque deve estar preparado para aquilo que prevejo como resultado dos conflitos que nós vivemos”.

“A questão da partilha dos valores, das grandes opções, vai se tornar cada vez mais exigente e teremos de escolher parceiros com os mesmos valores que nós. Somos pela democracia, estado de direito, direitos humanos e temos de nos orientar, neste contexto, por esses valores e não nos escondermos com hesitações ou estarmos em cima do muro e não sermos claros”, descreve. 

Questionado sobre os detalhes de uma política externa “atrevida”, o ex-Presidente refere que deve ser “inteligente”. 

“Não podemos ir de peito aberto”, mas tomar “as precauções necessárias” ao nível das parcerias, até do ponto de vista da segurança, diz.

“Não podemos ter ilusões de estar a enganar os outros, todos sabem quem nós somos”, diz, e se Cabo Verde não tiver dimensão para estar na “vanguarda”, deve afirmar-se “pelos valores” e inteligência, astúcia e ousadia.

Com o histórico que o país já conquistou e como referência quanto ao funcionamento regular de uma democracia e do estado de direito, o país devia ainda ter a ambição de colocar mais representantes em cargos de relevo internacionais, refere Jorge Carlos Fonseca, apelando a uma renovação do corpo diplomático.

“Um momento alto da diplomacia aconteceu quando Cabo Verde foi membro não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 1992, quando eu era ministro dos Negócios Estrangeiros. E na altura tinha gente contra, internamente, que dizia ser uma ambição desmedida”, considerando que o país se expunha excessivamente a investidas e “podia não ter como resistir”.

“Avançámos”, durante o primeiro Governo da abertura democrática, recorda Jorge Carlos Fonseca.

Hoje, perante um mundo diferente, entende que também na abordagem a cargos internacionais, os cabo-verdianos devem ser “mais ousados e mais criativos – mesmo comparando com países vizinhos, como o Senegal, que tem uma diplomacia muito ativa” e encontram-se “muitos senegaleses, costa-marfinenses ou nigerianos em postos relevantes a nível internacional, na ONU, Banco Mundial ou Banco Africano de Desenvolvimento (BAD)”.

“Não temos apostado, talvez, como devíamos, nessa base”, acrescenta.

Em relação à política externa, acredita que, “do ponto de vista do corpo diplomático”, é preciso “fazer um esforço de modernização, de ‘upgrade’ porque ainda é um corpo um bocadinho formatado pelo passado, do imediatamente pós-independência”.

Ou seja, de uma altura em que se exigia um discurso para “mobilização de recursos para o país, num não-alinhamento ativo”.

Só que, esse, era “outro contexto internacional” e eram “outras opções, não as que o país tem hoje”, conclui.

 

A Semana com Lusa

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