segunda-feira, 27 janeiro 2025

Guiné-Bissau precisa de começar do zero para construir o Estado - economista

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O economista guineense Braima Mané defende, em entrevista à agência Lusa, que “qualquer político sério na Guiné-Bissau tem que assumir que se tem de começar do zero para construir o Estado”.

 

“O atual poder não está interessado em seguir os caminhos que Cabral abriu. Exemplo disso é a proibição de colocar cartazes de Cabral nas ruas, e também a proibição de visitar o túmulo de Cabral que está na fortaleza de Amura [em Bissau, onde está o Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses] e também a celebração desse dia”, detalha.

 

“Olhando para a Guiné, no estado atual, qualquer político sério para dar a volta à situação da Guiné, tem que se assumir que temos de começar de zero para construir o Estado a partir do exemplo de Amílcar Cabral”, afirmou o economista, assistente na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, onde está a fazer um doutoramento em Economia.

O economista é autor, juntamente com o cartoonista também guineense Fernando Júlio, do livro “100 Cabral – A Epopeia de um Simples Africano”, que é lançado sábado em Lisboa, numa cerimónia em que se assinala o primeiro aniversário da fundação da Casa da Cultura da Guiné-Bissau.

Muito crítico da contínua falta de sensibilidade dos dirigentes guineenses que se têm sucedido na liderança do país quanto ao respeito pela vida e obra de Amílcar Cabral, ‘pai’ das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Braima Mané encontra na sociedade civil do país onde nasceu e em Portugal ações de divulgação do ‘cabralismo’.

“Acho que chegou o momento dos cidadãos guineenses deixarem de depender sempre no futuro: quando estiver melhor. Ou seja, é preciso assumirem-se os cidadãos como catalisadores do ideal de Cabral. E, muito modestamente, este gesto de fazer este livro com o Fernando Júlio vai nesse sentido”, considera.

Somos nós que temos que trazer à luz aquilo que foi a obra, a luta de Cabral, o ideal de Cabral, em termos da cultura, do desenvolvimento, sobretudo para as novas gerações, porque não se ensina a história da Guiné-Bissau no sistema de ensino, e nomeadamente dos heróis nacionais. E daí ser importante assumirmos, cada um como pode, com os meios que dispõe, para trazer à luz aquilo que é o ‘cabralismo’”, acrescenta.

Fernando Júlio acompanha Braima Mané na crítica, designadamente, ao atual poder em Bissau.

“O atual poder não está interessado em seguir os caminhos que Cabral abriu. Exemplo disso é a proibição de colocar cartazes de Cabral nas ruas, e também a proibição de visitar o túmulo de Cabral que está na fortaleza de Amura [em Bissau, onde está o Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses] e também a celebração desse dia”, detalha.

Braima Mané recorda à Lusa que nos seus tempos do estudante de liceu, durante o regime de partido único (1973-1994), se abordava a luta de libertação nacional numa perspetiva de resenha histórica.

Depois, com o advento do multipartidarismo, renovado o plano curricular, Braima Mané diz que aprendeu histórias sobre o Império Otomano, Egito ou Grécia, por exemplo, mas não a história da Guiné “com detalhes, de como é que se formou, como é que as populações, os diferentes grupos étnicos se juntaram, como é que se forjou, por exemplo, qual o surgimento da língua crioula, a chegada dos portugueses”.

Tudo isto não se ensina. Isto são os elementos essenciais para formar aquilo que é a identidade nacional, que para mim, na Guiné-Bissau, a construção da identidade cultural guineense parou em 1980”, quando um golpe de Estado liderado por João Bernardo “Nino” Vieira derrubou o então Presidente, Luís Cabral, irmão de Amílcar.

O lançamento do livro de Braima Mané e Fernando Júlio é um dos pontos do programa que assinala sábado o primeiro aniversário da criação da Casa da Cultura da Guiné-Bissau (CCGB).

Bia Djassi, da comissão organizadora do primeiro aniversário da CCGB também lamenta que no domínio da Cultura tanto esteja por fazer.

Como o Braima disse, é quase como começar de novo, porque, por exemplo, não existe uma biblioteca nacional. Aqui em Portugal, todas as cidades têm uma biblioteca”, exemplifica.

No domínio da Educação também “é preciso começar do zero”.

“O ensino na Guiné-Bissau tem que começar do zero, tem que ser um Estado que realmente funcione, tem que haver um Ministério da Educação que realmente funcione, que tenha como principal objetivo pôr as pessoas a ler. A taxa de analfabetismo é bastante grande ainda. Tem melhorado ao longo dos anos. No tempo dos meus pais era uma coisa, na altura da Guerra Colonial, e tem melhorado, mas mesmo assim a taxa de analfabetismo é bastante grande. É quase como começar um país do zero”, sintetiza.

Quanto à CCGB, a falta de uma sede física não impede a organização de eventos e uma agenda de iniciativas onde cabem exposições de artes plásticas, ciclos de cinema e conferências que visam corresponder à necessidade de assegurar um espaço de valorização e promoção da cultura da Guiné-Bissau.

“Sim, não temos quatro paredes, mas temos muita força de vontade”, sintetiza Bia Djassi, que destaca as parcerias com a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), a Casa do Comum.

“Com os nossos próprios meios, não temos financiamento, conseguimos fazer eventos bastante dignos, bastante interessantes, e que tanto nós como a comunidade, não só a comunidade guineense, se orgulha”, frisa.

A Seman com Lusa

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Dje d Soncent
9 days 9 hours

Mulheres no poder

Julio Goto
9 days 9 hours

...Desrrespeito Nacional .Ausencia da TCV/RTC num mundial.Somos Proficionais Amadores ou o Deus Dará.

Terra
12 days 19 hours

Ha muitos que estou apagar por essas brucracia e falsificar os documentos?

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