quinta-feira, 07 novembro 2024

ENTREVISTA: Crise económica deixa população da Guiné Equatorial com medo da fome – músico

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A profunda crise económica na Guiné Equatorial deixou a população a viver com medo da fome, alertou o músico Negro Bey, que culpa a corrupção pelo esbanjamento das receitas do petróleo e acusa o Ocidente de hipocrisia.

 

A Guiné Equatorial é considerada a terceira nação mais corrupta do continente africano, descendo um lugar, para o 172.º, entre 180, no Índice de Perceção da Corrupção, segundo um relatório divulgado em janeiro.

 

A descoberta de reservas de petróleo ao largo da costa por empresas dos Estados Unidos, em 1996, tornou a Guiné Equatorial um dos países com maior rendimento 'per capita' (por pessoa) em África.

No entanto, esta descoberta não se traduziu num maior bem-estar para a população do país, que ocupava em 2023 o 145.º lugar entre 191 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

“Como é que num lugar que beneficia deste nível de riqueza podes ver pessoas a morrer de fome todos os dias?” lamentou em entrevista à Lusa Negro Bey, que se descreve como um ‘rapper’ contestatário do regime.

Às vezes perguntam-me: ‘não tens medo’? O receio que eu mais tenho é que não haja arroz, não haja leite para os bebés, não haja luz nas casas, não haja água potável, e isso é um receio na Guiné [Equatorial]”, disse o músico de 40 anos, que falou à Lusa em Macau.

No final de julho, o Presidente Teodoro Obiang Nguema admitiu que a Guiné Equatorial vive uma “crise económica sem precedentes” e prometeu “medidas drásticas para evitar o possível colapso da economia”, uma vez que “as reservas estão esgotadas”.

Negro Bey recordou que já em 2016 tinha perguntado, na canção “Carta Al Presidente” (‘Carta ao Presidente’): “o que será da nossa gente quando no futuro o petróleo se esgotar”.

O ‘rapper’ disse que as suas músicas “falam apenas, e sem hesitações, do que toda a gente já sabe, mas ninguém diz, que muitos na administração pública roubam”.

A Guiné Equatorial é considerada a terceira nação mais corrupta do continente africano, descendo um lugar, para o 172.º, entre 180, no Índice de Perceção da Corrupção, segundo um relatório divulgado em janeiro.

Em agosto, um dos filhos do Presidente, Ruslan Obiang Nsue, foi a tribunal acusado de vender ilegalmente um avião pertencente à companhia aérea estatal da Guiné Equatorial e arrisca uma pena de 18 anos de prisão.

Nsue encontra-se desde janeiro de 2023 em prisão domiciliária, por ordem do meio-irmão, o vice-Presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como “Teodorin”.

Em julho de 2021, “Teodorin” foi condenado pelos tribunais franceses a uma pena de prisão suspensa de três anos e a uma multa de 30 milhões de euros por desvio de fundos públicos.

Negro Bey acusou também o Ocidente de hipocrisia, recordando que continua a fazer negócios com as ditaduras africanas que critica.

Mas não se importam, porque pegam o que querem, vão embora e não ligam ao que fazem com o resto. E depois dizem que a culpa não é vossa”, disse o músico.

Negro Bey falou à Lusa na região chinesa de Macau, onde deu dois concertos no âmbito da 16.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Fórum de Macau.

A Guiné Equatorial integra, desde 2022, o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (CPLP), comunidade de que faz parte também, desde 2014

A Semana com Lusa

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