Quatro séculos separam os nascimentos do poeta Luís Vaz de Camões e do líder africano Amílcar Cabral, mas a sua “invulgar cultura” e convicção pelas causas uniu-os e este ano serão ambos homenageados num encontro de escritores lusófonos.
“Eram pessoas de uma invulgar cultura”, disse à agência Lusa o secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), organização que, juntamente com a Câmara Municipal da Praia, promove o XII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorre entre quinta-feira e domingo na capital cabo-verdiana.
Vítor Ramalho refere-se a Camões e a Amílcar Cabral como “homens que defendiam causas”: “Isso é muito importante nos dias de hoje, em que as respostas, mesmo do ponto de vista de alguns políticos internacionais, ou tidos como tais, e não só, têm posturas pragmáticas de navegação à bolina, sem que haja uma projeção relativamente ao futuro”.
“Luís de Camões foi uma personalidade invulgar da cultura universal, um homem que tinha uma vivência muito grande, pessoal, mas também uma cultura muitíssimo enriquecedora dele próprio e enriquecedora para os outros”, disse.
Sobre os Lusíadas, considera que se trata de “uma obra-prima, que é reflexo daquilo que ele entendia que era o génio do povo português, sendo ele também naturalmente a encarnação dessa genialidade, e projetou uma obra que é uma obra sempre de futuro, sempre atual”.
Em relação a Amílcar Cabral, considerado o “pai” da independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, identifica-o como “uma personalidade de causas” e sublinha uma das suas frases, quando afirmou que a luta que o povo cabo-verdiano e guineense desenvolveu não era contra o povo português, mas uma luta contra um regime que oprimia, embora em formas diversificadas, também o povo português e, naturalmente, os povos colonizados.
Cabral “teve a premonição, com vista à luta em prol dos dois países – nasceu num [Guiné-Bissau] e viveu muitos anos noutro [Cabo Verde] –, que a luta da libertação de Cabo Verde não podia deixar de ser associada à da Guiné, porque não havia condições em Cabo Verde para a independência decorrente de uma guerra de guerrilhas que nas dez ilhas não havia hipótese de ser desenvolvida”.
O quinto centenário do nascimento de Camões e o primeiro de Cabral, que se assinalam este ano, justificam a homenagem que ambos terão na Praia, que vai acolher vários escritores lusófonos, num encontro que tem como tema geral “Literatura, Liberdade, Inclusão”, uma escolha que levou em conta os 50 anos do 25 de Abril, que se comemora em 2024.
Além das homenagens, os participantes – escritores de todos os países de língua oficial portuguesa, mas também de Macau e da Galiza – irão “tratar com pluralidade” o tema central.
“Vai estar uma plêiade muito significativa de escritores, desde logo dois Prémios Camões, que são aliás cabo-verdianos - Germano de Almeida e Arménio Vieira -, para além de intelectuais de todos os nossos países, sem exceção”.
Segundo a organização, marcarão presença Alfredo Ferreiro Salgueiro (Galiza), António Correia e Silva (Cabo Verde), Arménio Vieira (Cabo Verde), Augusta Teixeira (Cabo Verde), o comandante Pedro Pires (Cabo Verde), Daniel Mendes (Cabo Verde), Domício Proença Filho (Brasil, por vídeo), Fernanda Ribeiro (Brasil), Germano Almeida (Cabo Verde), Inês Barata Raposo (Portugal), Isabel Alçada (Portugal, por vídeo), Jorge Arrimar (Angola e Macau), José Luiz Tavares (Cabo Verde), José Pires Laranjeira (Portugal), Luís Cardoso (Timor), Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Mário Lúcio (Cabo Verde), Nardi Sousa (Cabo Verde), Olinda Beja (S. Tomé e Príncipe), Rita Marnoto (Portugal), Tony Tcheka (Guiné Bissau), Vera Duarte (Cabo Verde), Cheila Delgado e Paulo Veríssimo (moderadores).
A Semana com Lusa
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