"Francisco tem um discurso claramente de esquerda, alinhado com as camadas mais fragilizadas da sociedade, oferecendo promessas que alimentam a esperança da maioria da população, ávida de mudança. Isso pode tornar Francisco num candidato sério e um desafio para Ulisses Correia e Silva", disse.

"Vamos ter um PAICV mais combativo, sobretudo no primeiro ano, por necessidade. A nova liderança terá de se afirmar como alternativa ao Governo, sem paninhos quentes", afirmou à Lusa o analista António Ludgero Correia.

A vitória de Francisco Carvalho, no domingo, como novo líder do PAICV, "pode representar um novo começo".

"Francisco precisa unir o partido, urgentemente, sobretudo depois da intranquilidade” causada pelo recurso ao Tribunal Constitucional que tentou impugnar a candidatura.

"Houve divisões difíceis, laços quebrados, camaradas que deixaram de ser amigos", afirmou.

Faltam menos de 12 meses para "enfrentar o verdadeiro adversário" – o Movimento para a Democracia (MpD), liderado pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva.

Francisco Carvalho "tem conseguido apoios até em regiões onde se esperava dificuldade", enquanto o MpD pode ser julgado em função dos resultados da governação.

"Francisco estará em desvantagem, pois terá pouco tempo e precisará de arte para tornar o partido vencedor em menos de um ano. Mas Ulisses Correia e Silva também não estará tranquilo, apesar da forte propaganda", acrescentou.

Para as legislativas, o novo líder terá de "melhorar a articulação" com algumas ilhas do país, concluiu o analista.

O presidente do Fórum Cabo-verdiano da Sociedade Civil, Dionísio Simões Pereira, afirmou que a vitória de Francisco Carvalho pode significar "uma rutura com práticas antigas no partido".

"Ele traz um discurso diferente do habitual e isso pode alterar o paradigma do PAICV", explicou.

No entanto, Pereira tem dúvidas sobre a capacidade de união do partido, dado o "ambiente de forte crispação".

"Não parece fácil conseguir isso, num curto prazo. Se acontecer, o partido ficará mais forte e poderá aproveitar a diversidade de ideias. Mas, sem boa gestão [do contexto] e alguém a facilitar a aproximação, essa união pode não acontecer", indicou.

"Francisco tem um discurso claramente de esquerda, alinhado com as camadas mais fragilizadas da sociedade, oferecendo promessas que alimentam a esperança da maioria da população, ávida de mudança. Isso pode tornar Francisco num candidato sério e um desafio para Ulisses Correia e Silva", disse.

O MpD confirmou em janeiro o apoio à recandidatura do atual primeiro-ministro, que deverá tentar um terceiro mandato, em 2026.

Francisco Carvalho, presidente da Câmara da Praia, venceu no domingo as eleições internas do PAICV, a que concorreu depois de reeleito com votação reforçada, na capital, nas autárquicas de dezembro.

Na campanha interna prometeu "Um PAICV para todos, para um Cabo Verde para todos".

As suas propostas incluíram baixar os preços das viagens internas (barco e avião), garantir acesso gratuito à universidade, consultas, medicamentos e exames para quem não pode pagar, além de promover um Estado mais eficiente, com mais concursos públicos e fiscalização.

Ao assumir a vitória, assumiu o "compromisso profundo de, junto dos militantes, transformar o PAICV e organizá-lo internamente", considerando que as eleições, com quatro candidatos, acabaram por ser um processo de "união".

A Semana com Lusa