Os sucessivos desacatos que têm acontecido desde segunda-feira após a morte do cabo-verdiano Odair Moniz, baleado pela polícia na Cova da Moura, Amadora, já resultaram em contentores e viaturas queimados, incluindo autocarros, detenções e feridos.
A onda de contestação já vai na segunda noite e terceiro dia, na Cova da Moura, onde a vítima foi baleada, em Zambujal, onde morava, e na noite de terça-feira, 22, em Portela de Carnaxide, Oeiras, sendo que os dois primeiros bairros são do município da Amadora, onde reside milhares de cabo-verdianos e descendentes.
De acordo com os dados oficiais, polícias foram atacados e ficaram feridos e três pessoas já foram detidas por dano qualificado, ofensa à integridade física, quando também dois autocarros da Carris foram furtados e incendiados, para além de várias viaturas e contentores, ao longo desses dias, com relatos também de tiros.
Vizinhos da família de Odair Moniz acusaram a polícia de ter entrado na noite de terça-feira na casa da vítima sem qualquer justificação, por isso a família já disse que vai apresentar queixa contra a Polícia de Segurança Pública (PSP), que nega arrombamento de casa durante luto.
Um inquérito criminal e disciplinar foi aberto, ordenado pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e a Inspecção Geral da Administração Interna (IGAI) está a investigar o ocorrido, sendo que o polícia que atirou contra o Odair, não foi suspenso nem transferido, mas já foi constituído arguido.
A Embaixada de Cabo Verde em Portugal emitiu um comunicado na terça-feira, a dizer que aguarda com serenidade os resultados do inquérito, tendo hoje reforçado que confia e espera que as autoridades portuguesas farão tudo o que estiver ao seu alcance para apuramento rigoroso e em tempo útil de todos os factos relevantes e correspondentes responsabilidades que venham a ter lugar.
“Esta missão diplomática, no entanto, deplora profundamente e repudia com veemência certas declarações vindas a público que não fazem outra coisa que não seja estigmatizar as comunidades imigradas, pondo rótulos em função da raça ou da origem, como se esses factos determinassem, fatalmente, comportamentos anti-sociais e criminosos”, disse.
De acordo com a embaixada, “aplaudir ou festejar a morte violenta de um cidadão, chefe-de-família, com sugestões de condecoração do agente suspeito desse facto, alinhando fiapos convenientes de notícias para extrair conclusões incendiárias, poucas horas após a tragédia, revela não só falta de seriedade como também afronta aos mais elementares princípios do humanismo numa sociedade democrática, roçando até a fronteira da barbárie”.
Várias autoridades portuguesas já manifestaram e lamentaram o sucedido, pedindo que se faça justiça, conforme a lei, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao contrário do partido Chega, de André Ventura, que pediu que o polícia que atingiu o cabo-verdiano fosse condecorado.
A SOS Racismo condenou a morte na Cova da Moura, bairro também da Amadora, e criticou a PSP, afirmando que “Odair Moniz junta-se à longa lista de pessoas negras mortas às mãos da Polícia de Segurança Pública”.
O Movimento Vida Justa também já contestou a versão da polícia exigindo uma comissão independente para “investigar as mortes em circunstâncias estranhas que ocorrem na periferia” de Lisboa.
A vítima de 43 anos, cozinheiro e pai de três filhos, faleceu no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde foi socorrida depois de ter sido baleada pela PSP, segundo comunicado oficial da polícia, por ter resistido a uma ordem policial e ter avançado com uma arma branca sobre uma patrulha.
A polícia continua nos bairros da Grande Lisboa, já que pelos comentários e manifestações, os desacatos podem prolongar-se até ao fim-de-semana.
A Semana com Inforpress
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