O escritor angolano José Eduardo Agualusa criticou hoje Venâncio Mondlane, candidato à Presidência da República de Moçambique, por se ter autoproclamado vencedor das eleições gerais de 09 de outubro, defendendo que demonstrou “atitude de pouca maturidade democrática”.
“Não me parece correto que ele tenha proclamado a vitória antes de haver resultados definitivos e que tenha, inclusive, ameaçado com a subversão da Constituição e do processo eleitoral. Isso não se faz, não está certo, não é correto e não pode ser aceite”, defendeu Agualusa, em entrevista à Lusa, em Maputo.
Apesar de ter nascido em Angola, o escritor está radicado há vários anos em Moçambique e vai lançar em Portugal, em 25 de outubro, o seu novo livro.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) declarou-se, em 10 de outubro, vencedor das eleições para Presidente da República com base nos resultados das atas e editais da votação que estão a ser processados pela sua candidatura.
“Estamos a fazer uma declaração pública de vitória em face das atas e dos editais originais, verdadeiros, que chegaram a nós”, disse o candidato.
Instado a comentar este anúncio, Agualusa disse que se trata de “uma irresponsabilidade enorme”, destacando que o político chegou a ameaçar a comunidade internacional que esteve em Moçambique em missão de observação eleitoral.
“Não se pode aceitar uma atitude destas. É de pouca maturidade democrática, até porque ele agora tem responsabilidades, quer dizer, mesmo que não ganhe [as eleições], os resultados dele implicam maior responsabilidade”, acrescentou Agualusa.
O escritor defendeu que os resultados alcançados por Venâncio Mondlane e que vêm sendo anunciados pelos órgãos oficiais implicam ainda a sua entrada no xadrez político nacional, argumentando que não pode ser “ignorado” pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder) e pela oposição.
“Isto dá-lhe uma responsabilidade acrescida. Ele precisa de ser mais responsável nas afirmações que faz e precisa de ser responsabilizado por essas afirmações”, afirmou, descrevendo o político Mondlane como “a grande revolução” do atual processo eleitoral.
“Sem dúvida que é um dos grandes vencedores, porque ninguém estava à espera, um homem que aparece sem ter uma carreira de anos na política, sem ter sequer um partido e teve que se associar a outro e depois consegue estes resultados”, comentou Agualusa.
O escritor acrescentou que os resultados que estão a ser anunciados significam que “os moçambicanos anseiam por uma mudança”, pedindo que a Frelimo e a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo, principal força de oposição) estudem o atual processo eleitoral.
“Isso significa que o partido no poder precisa de avançar no sentido de uma mudança interna para responder a essa inquietação da população moçambicana e a oposição também precisa de encontrar lideranças mais responsáveis”, avançou.
“Tem que se pensar porque é que isto aconteceu. A Renamo, de facto, é a grande derrotada neste processo e o atual dirigente da Renamo é realmente é o grande derrotado”, concluiu Agualusa.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.
Além de Venâncio Mondlane, à eleição à Presidência da República concorreram Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frelimo, e Ossufo Momade, apoiado pela Renamo.
A votação incluiu legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir. A CNE aprovou listas de 35 partidos políticos candidatas à Assembleia da República e 14 partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores às assembleias provinciais.
A Semana com Lusa
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