sábado, 23 novembro 2024

O Princípio da Epopeia e da Utopia: 13 de janeiro de 1990

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 Em terra de cego, o zarolho lidera, como foi a 13 (treze) de janeiro daquele ano de 1990 quando, e pela segunda vez, o Arquipélago de Cabo Verde se despertou com a conquista do poder por militantes discedentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde.

Por Péricles Tavares

Os privilegiados e filhos da terra organizados à pressa em movimento pela democracia, coisa nova em voga, em que o povo abraçou a ladainha demagoga apregoada em democracia de falsidade desta gente com hábitos e garras de felino doméstico, e que em tão pouco tempo desfalcou os cofres da República, na primeira vez, chegados e desembarcados sem conhecimento e consentimento do povo, e que na mochila traziam a proclamação da independência a 5 (cinco) de julho de 1975, acontecimento que passou a ser uma veneração, uma festa festiva nunca individual ou partidária, mas pertença coletiva, de todo o nacional, de todos os cabo-verdianos, chamados a partilhar episódios marcantes que legitimam a nossa existência enquanto povo e nação soberana.

A data de 13 (treze) de janeiro de facto foi um dia em que houve pela primeira vez a disputa eleitoral entre partidos tendencialmente políticos, e podemos admitir que soma à história como acontecimento memorável que bem merece ser recordado com reconhecimento patriótico de participação ordeira para a conquista da social-democracia com a emenda da Carta Magna, com a rasura do artigo 4º.

A liberdade torna-se um processo de ilimitação sistemático ao ser, ao cidadão, todos livres com dedicação e respeito ao outro. Então, começa a liberdade entre todos, definida pelas normas e princípios prescritos observados na constituição da república. Talvez a vislumbrar no horizonte, quem não tem vez e voz, possa ser ouvido sem receio de castigo, mas falta o principal no direito de ser cidadão, o ser digno da nação e de um estado que é natural e legítimo.

A democracia, um instrumento de construção social sem pai nem padrasto, é um meio de comunicação e partilha igualitária pelo mérito em que cada indivíduo, com os pés fincados no território, dá o que sabe e pode fazer para o crescimento global e o bem-estar entre si, jamais com a intenção e o aguardo de qualquer recompensa do estado, para uma subserviência uma vez que a maior e nobre recompensa reside no servir, e servir bem, em benefício de todos. Só assim a nação prospera e floresce para as gerações subsequentes.

Para uma melhor compreensão do populismo democrático do político crioulo cabo-verdiano dos longínquos anos decorridos de 1975 passando pelos anos 1990 do século passado, e com a história sempre presente, são dados os acontecimentos relevantes, como a independência nacional, o multipartidarismo, as eleições livres e atrofiadas, mas sempre aceites pelos alistados em partidos participativos como salvação dos próprios interesses gananciosos e menos da democracia com a voz do povo no poder.

A 13 (treze) de janeiro de cada ano, a classe política sem a presença do poder absoluto, o povo claro está, lá estará a representar a maioria nacional daqueles 72 (setenta e dois) fanáticos ao serviço partidário, disfarçados de lobos democráticos e invocando a democracia como único meio de organização social desejável que garante a sustentabilidade do bem-estar, em alternação a quem, por utopia do destino, assume o poder político em Cabo Verde ao ignorar que a democracia enquanto sistema de governo não admite a vivência conectiva com a corrupção na administração dos assuntos comuns públicos, onde os atos cometidos deverão ser punidos exemplarmente e saneados da função. Cabo Verde de alto a baixo, desde a assunção ao degrau do poder, está infetado de mãos de corruptos. Até quando?

Cabo Verde, a 5 (cinco) de Julho de 1975, deixou de ser província ultramarina portuguesa, ou colónia, para passar a ser um estado independente. Este fato trazia consequências políticas imprevisíveis e de uma complexidade da qual não esperávamos, a começar pela mente do povo, que naturalmente passaria a ser mais exigente para com a nova administração publica, esperando expressivas melhorias na satisfação dos seus interesses, principalmente porque não foi chamado, nem se quer, a intervir na mudança ou na indigitação dos representantes do poder político.

O povo na sua maioria não reconhecia a legitimidade do PAICV, partido único, para o representar politicamente. A maioria dos intelectuais cabo-verdianos, mais conhecedores da realidade cabo- verdiana do que os chefes do PAIGCV, opunha-se a uma independência imediata incondicional, propondo uma situação de autonomia semelhante aos Açores e à Madeira. De qualquer modo, Cabo Verde tinha se tornado um estado e, nessa qualidade, tinha de cumprir as suas funções.

Torna-se imperioso conhecer a história do parlamento cabo-verdiano, uma abordagem ainda que superficial por estar indissoluvelmente ligado ao processo da formação do Estrado de Cabo Verde, a qual implica, desde logo, uma reflexão sobre as várias fases do constitucionalismo.

O segundo ato praticado pela assembleia constituinte, em 5 (cinco) de julho de 1975 na cidade da Praia, foi a aprovação da Lei sobre a Organização Política do Estado, comummente conhecido como LOPE. A Assembleia aprovou a LOPE, atribuindo-lhe força constitucional, mas com caracter transitório.

A LOPE instituiu o órgão do Poder do Estado, a única orgânica jurídico-política indispensável à governação e administração do país, até que fosse adotada a Constituição da República e se procedesse à eleição de uma Comissão presidida pelo Presidente da Assembleia Nacional, constituída por 6 (seis) Deputados, à qual era confiada a missão de elaborar e submeter à Assembleia, no prazo de 90 (noventa) dias, um projeto de Constituição da República de Cabo Verde.

A Constituição da República de Cabo Verde viria a ser aprovada em Setembro de 1980 e consagrava o PAIGC (força política dirigente da sociedade e do Estado) como o real detentor do poder, designadamente o de estabelecer as bases gerais do programa político, económico, social, cultural, de defesa e segurança do estado, e a faculdade de definir as esferas da construção nacional e estabelecer as vias da sua realização.

Definia, também, a República de Cabo Verde como um estado de democracia nacional e na efetiva participação popular no desempenho, controle e direção das atividades publicas, orientado para a construção de uma sociedade liberta da exploração do homem pelo homem.

Com o golpe de estado ocorrido na Guiné-Bissau, a constituição de 1980 sofreu a sua primeira revisão, pondo fim à união com a Guiné-Bissau, pelo que o partido deixou de ser bi e supranacional.

A última revisão da constituição ocorreu em 1990, quando o partido deliberou instituir o regime de multipartidarismo. A Constituição de 1992 viria a instituir o chamado parlamento mitigado.

No decorrer da pena e do pensamento se conclui que o espírito da democratização do estado e do país, do povo faz fé na primeira constituição de 1980, jamais a 13 (treze) de janeiro de 1990 com a vitória eleitoral (MpD), seguida da mudança dos símbolos nacionais sem qualquer referendo popular, tornando os senhores da República, democratas sem escrúpulos, em empresários legitimados, tendo sido este o princípio das dores, da ganância, da corrupção e da insegurança nacional.

Instalados no poder político administrativo nos anos 90 (noventa), os tidos como intelectuais governaram em benefício da minoria representativa, governantes seus equiparados, manjando e esbanjando a pertença de todos os filhos da recente República edificada, que nunca estiveram acordados na construção de uma sociedade justa e igualitária.

Os partidos e seus dirigentes de ontem são também os atuais, uns disfarçados de gente digna e justa que cometem a pior atrocidade que consiste em diminuir o princípio do exercício da cidadania, dos direitos humanos fundamentais e da dignidade humana.

A luta pelo poder não vale tudo, mentiras e hipocrisia pelo meio não engrandece a classe política, muito pelo contrário, a democracia definha e a confiança nos governantes cabo-verdianos a cada dia é mais desacreditada e periclitante.

O sistema de governação semipresidencialista, de extensão e designação partidária parlamentar, demonstra que o parlamento se tornou um centro de subsistência de políticos incapazes e profundamente fanáticos e fanatizantes, orientados por idiotas convictos, sem honras de desmerecida glória recordada.

Um Parlamento que comporta e suporta deputados de toda a casta de baixaria social, e que mantém debaixo de imunidade e impunidade na casa parlamentar, a casa do povo, a exercer e defender a corrupção, é prova evidente que algo vai mal e algo merece ser feito em defesa da república.

Devemos recorrer e apresentar como exemplo os deputados da primeira constituição de 1980, cidadãos dignos entregues à causa de servir o povo e a pátria.

Democracia em solo de cidadãos carenciados, famintos de cachupa, de justiça, de insegurança, creio que não se trata de democracia, para não usar outro palavrão, e diria que estamos perante uma onda de selvageria de mau gosto.

A História de Cabo Verde está teimosamente a ser contada para que a juventude não se aliene e não se deixe corromper pelos trapaceiros que não se compadecem com o sofrimento do povo que só tem como tábua de salvação a emigração.

Pela República, a nossa luta contra os tiranos e os corruptos, é para melhorar Cabo Verde, terra de prosperidade e felicidade para todos os seus naturais, todos aqueles que, com absoluta liberdade, diferenciam, escolhem e decidem viver em paz e em harmonia com todo o nacional.

Viva a República!

Janeiro, 2024

 

Péricles Tavares

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Colunistas

Opiniões e Feedback

David Dias
10 days 21 hours

Todos querem ser escritores. Todos, todos, todos.

António
12 days 20 hours

Descilpem, mas os antigos reformados não vivem assim, pois pensões não foram atualizadas.

António
20 days 18 hours

Quando as eleições terminarem fiscalize essas construções em russ estreitas e que são autenticas autenticas bombas

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