sexta-feira, 14 março 2025

A ATUALIDADE

A indústria dos raptos está a "tornar-se uma pandemia na África do Sul" - investigadores

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Willem Els, coordenador do programa de Crime Organizado e Terrorismo no Institute for Security Studies (ISS) sul-africano, considerou, em declarações à Lusa, que a indústria de raptos está a “tornar-se uma pandemia na África do Sul”.

O investigador admitiu não ter informações específicas sobre o sequestro de um pequeno empresário português no início da semana nos arredores de Joanesburgo, mas sublinhou não apenas o “forte crescimento” desta atividade criminosa na África do Sul, onde “está realmente a ficar fora de controlo”, como as suas fortes ligações a Moçambique.

A prática de raptos para obtenção de resgates “está realmente a ficar fora de controlo na África do Sul, que tem já, de longe, a maior taxa de raptos entre os países africanos” sublinhou, e é uma das mais elevadas do mundo, com cerca de 9,57 raptos por cada 100.000 habitantes, de acordo com o relatório de 2024 da organização World Population Review.

“Não verifiquei pormenores sobre este último cidadão português raptado, mas demos já conta [no ISS] de uma ligação bastante forte entre o rapto de pessoas falantes de língua portuguesa na África do Sul e Moçambique”, acrescentou o especialista do instituto de análise sul-africano.

“A máfia em Moçambique é muito forte, rapta pessoas falantes de português aqui na África do Sul, e por isso defendemos recentemente a necessidade de cooperação transfronteiriça para travar os raptos em ambos os países”, afirmou Willem Els.

Borges Nhamirre, antigo jornalista da Bloomberg e atualmente colaborador do ISS em Maputo, especialista em questões relacionadas com o crime organizado e terrorismo, foi o autor do estudo referido por Els, publicado pelo instituto sul-africano em março de 2023.

Segundo este investigador, os sindicatos de crime organizado a operar no eixo Maputo-Gauteng-KwaZulu Natal - as duas maiores províncias sul-africanas – reclamam a grande maior parte do volume financeiro obtido pela indústria dos raptos nos dois países.

“Em termos de volume financeiro, os raptos associados ao eixo Maputo-Gauteng – que podem incluir a participação de atores paquistaneses e indianos – são responsáveis pela maior soma de dinheiro resultante dos resgates”, afirmou à Lusa.

A África do Sul registou mais de 16.000 sequestros em 2023, começou por ilustrar o especialista moçambicano, “mas menos de 20 raptos movimentaram a maior parte do dinheiro, porque os alvos são empresários”.

A escala e visibilidade destes raptos têm vindo a “inspirar pequenos grupos criminosos, num efeito dominó”, acrescentou Nhamirre, levando à atual situação de “descontrolo”, descrita por Els.

“A situação é muito complicada na África do Sul, porque já não são só estes sindicatos de crime organizado a atuar, começamos agora a ter gangues imitadores, porque este crime é muito lucrativo”, disse o analista sul-africano.

De acordo com os dois investigadores, esta prática “transfronteiriça”, que começou por afirmar-se em Moçambique há mais de uma década – Nhamirre recordou a “grande manifestação contra os raptos em outubro de 2013, que quase paralisou a cidade de Maputo” – tem como principais mandantes cidadãos moçambicanos de origem asiática e pertencentes a essa comunidade em Moçambique, e conta com participação decisiva de agentes das polícias de ambos os países.

“Para ser bem-sucedido, o que qualquer sindicato de crime organizado tem primeiro de fazer é comprometer um ator estatal, e o primeiro ator estatal que normalmente é comprometido é a polícia”, disse Els.

Nhamirre descreve a organização destas redes criminosas em três níveis: “o dos que mandam, que são empresários que gozam de grande influência e impunidade, têm muito dinheiro, conseguem movimentar-se facilmente, e vivem entre Maputo, África do Sul e Dubai - ou seja, podem estar baseados em Maputo ou na África do Sul, mas as suas famílias, esposas e filhos, estão no Dubai ou algures nos Emirados Árabes Unidos”.

O segundo nível, o intermédio, faz a ligação entre os mandantes e os operacionais. “Alguns intermediários estão na cadeia e fazem esses trabalhos a partir das prisões, que usam como local seguro para fazer as chamadas telefónicas, movimentar dinheiro e tudo mais”, descreve o analista moçambicano.

Os atores do último nível, o dos “operativos”, “são normalmente agentes da polícia, no ativo ou desvinculados”, concluiu Nhamirre.

Ambos os investigadores apontam a falta de “provas” que permita ligar esta atividade ao financiamento do terrorismo, como em outras regiões do mundo e do continente africano.

Els admitiu que “o nexo entre o terrorismo e o crime organizado transnacional é grande, um alimenta o outro, usam os recursos semelhantes para movimentar dinheiro, etc.".

"Portanto, sim, os grupos terroristas podem estar a usar a indústria de raptos como fonte de financiamento, embora não tenhamos provas disso na África do Sul. Mas é plausível”, disse.

Nhamirre, por outro lado, sublinhou que essa tem sido uma narrativa das autoridades moçambicanas para a qual "não há quaisquer provas até agora".

Os dois investigadores apontaram recomendações semelhantes ou complementares para atacar a “pandemia”, incluindo uma “efetiva” cooperação transfronteiriça.

Els considera que um dos caminhos – apresentado recentemente às autoridades sul-africanas, que recorreram ao aconselhamento do ISS para definir as “prioridades” do novo titular das polícias, que deverá ser conhecido em breve - é o da criação de equipas multidisciplinares “na reação ao crime”, que envolvam a participação do setor da segurança privada.

A polícia sul-africana, à semelhança da moçambicana, perdeu muito capital humano e competências especializadas para as empresas privadas de segurança e precisa de uma restruturação profunda, sendo que “demorará anos até que a polícia reúna as competências à disposição do setor privado”, sublinhou.

“Enquanto estiver a ser restruturada, a polícia, assumindo a liderança, como o impõe a Constituição sul-africana, deve trabalhar com equipas multidisciplinares integrando o setor privado. Neste momento, penso que essa é a única solução para combater este tipo de coisas”, concluiu.

Nhamirre apontou igualmente para a necessidade de uma grande reforma, tanto em Moçambique como na África do Sul, nos setores de defesa e segurança”, que lhes proporcione uma “inteligência efetiva”.

“Precisamos de uma reforma profunda no setor de defesa e segurança com um objetivo final de remover o crime organizado do Estado, que está junto e cresce dentro dele. Dizer que está infiltrado é pouco para a realidade de Moçambique e da África do Sul”, disse.

“Por causa desta realidade é que Moçambique e África do Sul estão na lista cinzenta do GAFI” - Grupo de Ação Financeira, organismo intergovernamental que tem como objetivo o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, com sede na OCDE em Paris, disse.

“Esse branqueamento de capitais, no caso de Moçambique e da África do Sul, relacionam-se com atividades criminosas, que incluem os raptos. Estamos a assistir ao colapso das instituições, com efeitos nefastos para os cidadãos e para os empresários e empresas”, afirmou.

A Semana com Lusa 

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Opiniões e Feedback

Mindoca
15 hours 6 minutes

O que esse homem quer é fazer prova de vida. É que ele parece que está vivo, mas não está. Nem agora nem quando ele foi ...

Terra
20 hours 47 minutes

Deve ser fiscalizado antes de sair de Cabo Verde tb o dinheiro de contracto deve ser investido nos coitados de Cabo Verde nao ...

liberdade
1 day 20 hours

Mesmo complicado se ha verdade adiver essas brucracia pela mor de Deus?

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