A delegada da Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV) em São Vicente disse hoje que a mulher, principalmente a que mora na periferia, ainda precisa conhecer mais sobre os seus direitos e deveres para poder reivindicá-los.
Fátima Balbina falava à Inforpress a propósito deste mês de Março dedicado às mulheres e também mês que se celebra a criação da OMCV, que este ano completa 43 anos de existência.
Segundo a delegada da OMCV, a mulher na periferia é “forte e sofredora” porque ela enfrenta diversas dificuldades, desde o acesso à água, ao saneamento, à energia eléctrica e, por vezes, vive em habitações sem condições de sobrevivência, mas também é aquela mulher que luta para criar e dar aos filhos uma educação diferente da que ela recebeu.
“Mas ela precisa ainda saber sobre os seus direitos e seus deveres e mais conhecimentos sobre onde reivindicar os seus próprios direitos e deveres”, observou.
Enquanto a mulher não reivindicar ela própria os seus direitos e deveres, enquadrado numa perspectiva de igualdade e de equidade de género, enquanto for somente a OMCV ou outras organizações quaisquer a puxar pelos interesses da mulher, não chegaremos aonde realmente é possível chegarmos”, afirmou.
Para a delegada da OMCV, em São Vicente, é preciso que cada uma das mulheres nas comunidades e que estão a passar por essas dificuldades saibam onde é que podem ir para reivindicar os seus direitos e também quais são os direitos que lhes assistem, enquanto Direitos Humanos, e que constam da Constituição da República de Cabo Verde.
No seu entender, desde 1975, altura da independência de Cabo Verde, até agora, houve uma “evolução extraordinária na vida das mulheres”, mas argumentou que ela “ainda não atingiu toda gente” porque “há uma camada em que essa evolução passou ao lado”.
“Se por exemplo uma mulher que não tem energia em casa para ouvir rádio nem ver televisão, não tem condições de saneamento, água, luz e esgoto, levanta-se todos os dias para ir buscar água e é obrigada a servir com essa água de forma cautelosa porque a distância que percorre para ir buscá-la é grande e os meios financeiros para comprá-la são escassos não podemos falar de um desenvolvimento e um empoderamento nessas condições”, argumentou.
Face a todas essas dificuldades, Fátima Balbina disse que “a sensação é que se fez muito”, mas quando se repara para os resultados eles estão “aquém daquilo que se fez”.
Pelo que defendeu a necessidade de mudar “alguma estratégia” e estudar o que deve ser feito para contornar esta situação e mudar a desigualdade.
“Nós, na OMCV, estamos sempre em sintonia com as instituições que defendem a educação e a inclusão porque a educação é a maior arma do desenvolvimento e também preciso consciencializar as pessoas dos seus direitos. Temos uma frase célebre no corredor desta instituição que diz que quando a menina estuda e frequenta uma formação não há lugar para a pobreza, ou seja, se tem estudo, formação e conhecimento, ela poderá ir atrás do que quer”, sustentou.
Para Fátima Balbina a impressão é que as organizações, de uma forma geral, têm trabalhado de forma independente, cada um por seu lado, mas, assegurou, se houver um trabalho mais articulado e em rede poderão ter um “resultado maior”.
“Existe uma rede mais teórica do que prática. Se tiver esta união dessas organizações e associações poderemos encaminhar as mulheres para os lugares certos. Também já chegou o momento de darmos educação, formação e orientação de homens e mulheres em conjunto na mesma sala, porque se orientarmos somente as mulheres a mensagem não passa”, opinou a mesma fonte, para quem é preciso trabalhar com essas pessoas em conjunto para levar mais união ao seio familiar, mais amor, diminuir a violência e para que cada um entenda o seu papel na família e na sociedade.
Fátima Balbina também sugere uma outra abordagem na educação do menino e da menina, desde nascença até à vida adulta, para moldar os comportamentos das pessoas e para que a mudança nas condições de vida das mulheres e na sociedade seja efectiva.
Durante este mês de Março, a OMCV, em São Vicente, prevê uma série de actividades direccionadas às mulheres especialmente as mais desfavorecidos, desde orientação para negócio, atribuição de kits para negócios, rodas de conversas sobre saúde e bem-estar da mulher, cuidados com amor, realização de feiras em parcerias com outras pessoas e instituições, conversas sobre gestão e educação financeira e gestão e elaboração de pequenos projectos em parceria com a organização Turn On Success.
Estão programadas ainda actividades em parceria com o Voluntarismo SV, sessão de massoterapia, abertura de formações profissionais, exposição e venda de peças de artesanato, reciclagem e pintura, participação em programas na comunicação social e universidades, entre outras.
A Semana com Inforpress
07 de março 2024
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