sábado, 23 agosto 2025

A ATUALIDADE

ENTREVISTA: “Sou uma pessoa muito tranquila e de simples trato mas não aceito coisas inaceitáveis” – Carlos Veiga

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O antigo primeiro-ministro Carlos Veiga considera-se uma pessoa “muito tranquila, moderada e de simples trato”, mas não aceita coisas inaceitáveis, realçando que a educação é a chave que abre todas as portas.

Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer, pelo que hoje, aos 75 anos, mantém um ritmo e um estilo de vida tranquilo, continuando a trabalhar porque, como se costuma dizer, o hábito faz o monge.

Levanta-se todos os dias às 05:00 e à noite procura também ir cedo para a cama às 21:00 e o mais tardar às 22:00.

Falamos de Carlos Alberto Wahnon de Carvalho Veiga, ex-primeiro-ministro de Cabo Verde no período 1991/2000, primeiro chefe de Governo da nação eleito através de eleições multipartidárias, e um dos principais nomes de oposição ao regime de partido único existente na altura.

Filho de Alfredo José de Carvalho Veiga e Maria Augusta Wahnon, nasceu a 21 de Outubro de 1949, no Mindelo, São Vicente, estudou na Praia, na chamada Escola Grande, onde foi aluno da dona Lourdes Miranda, fez os estudos secundários no Liceu da Praia, seguindo depois para Portugal onde licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Ali, viveu, nos primeiros anos, no lar D. Diniz, que o ajudou “a crescer bastante”.

Nesta entrevista à Inforpress, Carlos Veiga, sentado descontraidamente no seu escritório, em sua casa, o seu refúgio como o chama, fala um pouco sobre si, das suas alegrias, satisfações, aspirações, mas também decepções, numa tonalidade de voz muito calma e serena, no ambiente silencioso dos seus aposentos.

Até chegar ao seu gabinete lá em cima onde trabalha, sobe 30 degraus, e faz isso várias vezes ao dia, um autêntico exercício, o que lhe faz bem por sinal, já que se apresentava muito bem-disposto, em traje desportivo e cabelo bem aparado.

Mudou-se para a cidade da Praia onde ainda vive, era muito criança, e como pai era funcionário aduaneiro e na altura os funcionários aduaneiros circulavam pelas diversas ilhas, Carlos Veiga que é o primeiro dos cinco filhos, sendo quatro rapazes e uma menina, viveu também um bom tempo na ilha do Sal, guardando bonitas recordações da infância naquela ilha.

“Lembro-me ainda de estar metido num jeep a virmos de Santa Maria para os Espargos, com muito pó a levantar-se quando passava o carro. Lembro-me ainda disso (…) adorávamos também estar na Pedra de Lume. Passámos uma infância muito boa no Sal”, reviveu, referindo-se também a “momentos marcantes da sua adolescência” na Praia, no Platô, e em Santa Catarina, quando ia lá de férias.

Conta que nesta idade gostava muito de estar com os amigos na rua, conversar e jogar a bola, tendo vivido também “uma juventude inesquecível”, outros tempos, frisou.

Tinha 16/17 anos quando arranjou a sua primeira namorada, num dos passeios ao interior de Santiago, nos Órgãos, numa bela propriedade, mas nada sério, e até hoje relacionam-se “excelentemente”, embora ela viva em Lisboa.

Carlos Veiga, que não foi homem de muitas namoradas, casou duas vezes, do primeiro casamento tem dois filhos, um deles é o Augusto Veiga, actual ministro da Cultura, e do segundo matrimónio, outros dois, tendo o filho mais velho desta ligação 39 anos.

Oriundo de uma família “essencialmente de gente que trabalha”, Carlos Veiga, advogado de profissão, disse que sempre viveu do produto do seu trabalho.

“Aprendemos isso com a nossa mãe e o nosso pai. É assim que vivemos. A nossa família não é rica. Vivemos daquilo que é produto do nosso trabalho. Procuramos poupar naquilo que seja de poupar, mas para comer, não fazemos questão de não gastar. A gente gasta aquilo que considera necessário”, vincou.

Longe de ser um homem rebelde, de posições extremas, defendendo, porém, princípios e valores, Carlos Veiga disse que não aceita coisas que considera inaceitáveis, procura ser conciliador e chateia-lhe a ingratidão e a má fé das pessoas.

“Sou aquilo que resultou da família em que me integro. Ser educado, tratar toda a gente da mesma forma. Se as pessoas à nossa volta não estão bem, nós não podemos estar bem. Isso faz com que haja em nós um lado de querer ajudar o seu semelhante. Sou uma pessoa moderada e simples de trato”, referiu.

Instado a reflectir sobre o que a vida lhe ensinou ao longo desses anos, do seu percurso de vida, respondeu que os seus pais tinham razão, isto é, que é preciso trabalhar e respeitar primeiro para ser respeitado. 

Preza muito as amizades, a boa vizinhança, tem muitos amigos e não faltam almoços e jantares para uma boa prosa e convivência.

Durante o dia trabalha, lê bastante e dispensa tempo para estar com os netos, sempre que possível, transmitir-lhes aquilo que parece bom e receber deles também a amizade.

Sabe ou aprendeu a cozinhar, perguntamos, ao que, admitiu, neste particular, depender muito da mulher, mas lava os pratos, considerando-se um homem “um tanto ou quanto arrumado e metódico”.

A propósito, conta que no primeiro casamento, quando a mulher estava grávida, foi tentar cozinhar e foi um “desastre completo”, lembrando-se que era qualquer coisa que levava farinha e a cozinha ficou toda suja (risos).

Aprecia uma boa cachupa, gosta mais de xerém do que arroz, mais de carne do que peixe, mas não perdoa uma barriga de atum.

Carlos Veiga que disse ter sentido muito a morte da mãe, conta que outra história também marcante da sua vida foi a parte política, a possibilidade que teve de ajudar a passar de um regime de partido único para um regime de liberdade em que as pessoas, os cabo-verdianos, de facto, se sintam livres.

“Isto é qualquer coisa de que me orgulho. Eu não corri atrás. No fundo, acabei por ser escolhido, diante dos meus colegas, por aquilo que viram em mim de positivo, mas eu não trabalhei sozinho. Por isso, não quero essa história de que eu sou o pai da democracia. Eu não sou pai da democracia nenhuma. A democracia não tem pai”, exteriorizou, revelando que não quer mais fazer política deixando isso para as novas gerações.

Quanto a mágoas e decepções aponta que é ele não ter ainda direito a uma pensão aqui em Cabo Verde, e não esperava uma coisa dessas.

“Essa é uma grande decepção, porque nunca esperei que o meu país me fizesse isso. Se eu não tivesse forças para continuar a trabalhar na advocacia… teria que viver com 130 contos. Uma decisão completamente ilegal”, lamentou, confiante, num bom resultado, vir a ganhar no Supremo Tribunal de Justiça.

Carlos Veiga, que ocupa o tempo ainda com trabalhos de advocacia, disse que aos poucos vai deixar a profissão “muito dura”, para ficar mais livre, se dedicar à leitura e à escrita, continuar a escrever sobre o que passou, outras situações e experiências da sua vida que, conforme disse, carecem de um “aprofundamento”, planeando também viajar para relaxar.

Sempre quis visitar o Japão e foi lá comemorar os seus 75 anos numa viagem/presente proporcionada pelos filhos, agora tem que ver outros destinos para se descontrair.

Quanto ao legado que gostaria de deixar para Cabo Verde, Carlos Veiga almeja uma democracia cada vez mais forte e, sobretudo, com um nível de desenvolvimento de forma a que todos possam viver, não só em liberdade, mas em condições justas de vida.

“Foi para isso que se fez o 13 de Janeiro, para que a gente tivesse liberdade, para que a gente tivesse desenvolvimento”, enfatizou.

 

A Semana com Inforpress

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