O escritor cabo-verdiano e editor da Rosa de Porcelana, Filinto Elísio, defendeu hoje, em Lisboa, a candidatura da cachupa e a cultura da cachupa a Património Material da Humanidade, devido à sua importância na vida dos cabo-verdianos.
O repto foi lançado durante uma palestra que proferiu no evento denominado “A simbologia do milho na cultura cabo-verdiana - Em tempos de ‘Azágua’”, promovido pelo Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), no âmbito da programação “Outubro - Mês da Cultura e das Comunidades”, em parceria com o espaço gastronómico By Milocas, Milocas.
“Faz sentido que o Estado de Cabo Verde incorpore esta importância do milho e candidata a cachupa, o fazer cachupa e a cultura da cachupa como Património Material da Humanidade”, defendeu, sublinhando a importância desse prato que é feito de várias formas, dependendo das condições de cada família e da particularidade de cada ilha, como cachupa rica, cachupa pobre.
Em relação ao milho, cereal com o qual é feito a cachupa e outros pratos em Cabo Verde e que hoje foi degustado os vários tipos, Filinto Elísio disse que o milho tem uma simbologia forte, porque é um elemento central da vida cabo-verdiana e determinante para que fixasse gente em Cabo Verde.
“É o único cereal que se adapta à produção agrícola no ciclo das chuvas de Cabo Verde. Há gente em Cabo Verde, em parte, também pela existência do milho, em particular o milho raiz do Brasil. Isto, quando chega o milho, quase a estrutura primária da culinária cabo-verdiana é feita à base de milho, como cachupa, xerém, pastéis, cofongos pão ou bolo de milho”, indicou.
Entretanto, o escritor realçou que também há uma diversificação de elementos que entram na culinária cabo-verdiana, mas que a par da questão do produto agrícola milho e do alimento milho e da composição alimentar milho, toda uma vida social e cultural cabo-verdiana é a volta do milho, como o pilão, o milho cochido, a música, a dança e o ritual.
“Nós vivemos numa sociedade que historicamente houve grandes ciclos de fome que tinham a ver com secas extremas, em que o ciclo do milho não chega ao seu fim. Às vezes chove em Julho e já não chove em Setembro ou Outubro. Quando há essa rotura pluviométrica, acontecia em várias épocas da história do cabo-verde fome (…). Usando aqui abusivamente uma metáfora, nós somos filhos do milho”, explicou.
Por essas e outras razões, o escritor e editor cabo-verdiano Filinto Elísio defende e desafia o Estado de Cabo Verde a apresentar a candidatura da cachupa como Património Imaterial da Humanidade.
A Semana com Inforpress
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