Um pouco por todo o mundo, há cientistas a trabalhar para descobrir a cura para os diversos cancros. E quantas vezes são anunciados novos medicamentos que proclamam estar a obter sucesso na cura? Isso leva a que muitos ponham em dúvida o alcance das descobertas que se vão fazendo, dos tratamentos experimentais que, por vezes feitos à revelia das autoridades de saúde, custam quantias enormes. Mas a esperança que move os pais consegue tocar corações e abrir bolsas para curas experimentais obtidas só à custa de financiamentos solidários.
O recente caso da bebé portuguesa, Matilde, que nasceu com a Atrofia Muscular Espinal e luta pela vida, conseguiu comover milhões de pessoas que contribuiram para a compra do medicamento experimental em que a família deposita todas as esperanças, lembra-nos que essa família é uma entre muitas que lutam para obter a cura ou então um pouco mais de tempo, na esperança de que o tempo pode ser um aliado na busca da cura de doenças raras e cancros infantis.
"Não nos arrependemos de nada. Demos tudo para comprar tempo para a Annabelle", dizem os pais de Annabelle Potts, vítima de um tumor cerebral.
A família Potts está entre as dezenas de pessoas que em países anglófonos desenvolvidos, como a América a Inglaterra, a Austrália, conseguiram ‘comprar tempo para filhos com cancro’ através de crowdfundings / financiamentos solidários.
Quanto tempo? Foram pouco mais de dois anos para a Annabelle Potts, de 2 anos, a quem os médicos deram no início de 2017 o máximo de nove meses de vida.
Em 2017, os pais inconformados moveram mundos e fundos para obter um medicamento novo numa clínica em Inglaterra. O custo: 300 mil libras (c.40 milhões CVE). A família vendeu a casa e obteve ajudas, mas viram que não podiam obter a tempo o montante necessário para salvar a vida da pequena Annabelle.
Descartada a ida para o Reino Unido, os Potts utilizaram os 300 mil dólares (AUD, 20,6 milhões CVE) para se dirigirem à Clínica OCA, em Monterrey, México — que clama ter curado o DGIP /DIPG a 19 crianças com cancro terminal.
Desde 2017 e até 2019, de seis em seis semanas, o pai deslocava-se ao México, com custos na ordem dos trinta mil dólares (AUD, dois mil contos). Dezoito meses depois da data prevista da sua morte, a menina festejou o seu quarto aniversário. Os seus médicos mexicanos tinham-na dado como curada, em março de 2018, confiantes de que estava afastado o risco de recidiva. No regresso a casa, o pai deu entrevistas nos principais meios de comunicação, certo da cura da filha, a pedir a intervenção do governo “para que os médicos australianos falem com os médicos mexicanos”.
Mas tudo mudou, pouco mais de um ano depois. A “cura pioneira” – que a clínica mexicana dizia ter obtido com a reversão do processo de crescimento do carcinoma, mesmo se a restante classe médica considera o cancro do cérebro irreversível – provou ser temporária: a menina australiana morreu aos cinco anos, anunciaram os pais em publicação recente nas redes sociais.
“O que torna o glioblastoma incurável é o seu rápido crescimento” segundo o médico-cirurgião neurologista Sunit Das, do St. Michael’s Hospital, Canadá, ouvido pelo diário Global News.
Pressão faz governo australiano enviar neurologista ao México
O diário The Sunday Telegraph acompanhou, na clínica mexicana OCA durante seis meses, as famílias australianas deslocadas. O objetivo era ver como resultaria nesses meninos "doentes terminais” a terapia que combina imunoterapia e quimioterapia inter-arterial, que os médicos neurologistas Alberto Garcia e Alberto Siller utilizam.
As reportagens do diário digital australiano que acompanhou algumas famílias australianas na clínica mexicana têm sido comentadas pelos médicos australianos, que destacam a inexistência de publicações dos dois médicos, necessárias para validar a sua intervenção junto da comunidade médica global.
Os neurologistas Alberto Garcia e Alberto Siller responderam que estão “muito ocupados a tratar setenta pacientes, vindos de todas as partes do mundo”.
Em março do ano passado, os média referiram que o governo australiano autorizou a deslocação ao México do especialista recomendado pela associação dos neurologistas. Na clínica OCA, o neurologista iria acompanhar o processo dos doentes deslocados –"o princípio do diálogo”. Até à data ainda não houve pronunciamentos oficiais.
Fontes: Referidas. Relacionado: Austrália “investiga” clínica do México que ’curou DGIP/DIPG a 19 crianças com cancro terminal’. Pais pediram diálogo entre médicos, 25.mar.018.;Bebé precisa de remédio de 2 ME para viver — Portugal uniu-se e em 3 dias atinge o montante, 03.jul.2019 Fotos: 1. Annabelle Potts e o pai, na clínica, com o dr. Siller. 2. Matilde, a bebé portuguesa.
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