sexta-feira, 27 dezembro 2024

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REPORTAGEM: Moçambique/Eleições: Entre o caos e a destruição o Natal faz-se a cozinhar arroz na rua em Maputo

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Um cenário de caos, barricadas, destruição e saques marca hoje a cidade de Maputo, um dia depois da proclamação dos resultados das eleições gerais, mas no meio das mesmas avenidas, bloqueadas por manifestantes, também se cozinha arroz com repolho.

Não foi a nossa vontade, não é? Mas está a acontecer, não há outra coisa”, explicava Jorge Olímpio, enquanto a panela com arroz e outra com repolho cozinhava na fogueira em plena avenida de Angola, centro de Maputo, totalmente bloqueada por manifestantes e população.

Um Natal passado a cozinhar na rua, como forma de protesto, mas sem carne, porque não há dinheiro. Ainda assim, o dia é passado nas panelas, no asfalto, entre barricadas e pneus a arder.

Não estamos contra ninguém, estamos contra aquilo que ouvimos [anúncio dos resultados das eleições] (…) Depois de falarem o que falaram, íamos fazer o quê”, questionava ainda, enquanto já se preparava para servir o arroz com repolho à família e amigos.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização, com registo de pelos três mortos e vários feridos, segundo levantamentos provisórios de organizações não-governamentais no terreno, nomeadamente em Maputo.

Um pouco por toda a capital moçambicana há hoje, ainda, barricadas, pneus em chamas e manifestantes que impedem a circulação automóvel, enquanto a destruição das horas anteriores, e sobretudo da noite, torna mais visível a destruição e o caos.

Bancos incendiados nos arredores do centro, como do Millennium BIM, do grupo português BCP, e postos de combustíveis saqueados, nomeadamente da Galp, entre pneus em chamas marcam o cenário da véspera de Natal na capital moçambicana, com várias avenidas tomadas por manifestantes, que contestam os resultados eleitorais anunciados.

Semáforos e postos de eletricidade derrubados, juntamente com sinais de trânsito, paus, troncos, garrafas e vidros, além de sinais de trânsito, impedem a já quase inexistente circulação automóvel na capital, exceção de alguns jornalistas e ambulâncias, perante a forte presença policial e de militares, e a ameaça de arremesso de pedras por alguns manifestantes.

Os acessos ao aeroporto internacional de Maputo encontram-se sob forte vigilância policial, como foi possível ver no local, e os poucos postos de combustível em funcionamento na capital registam filas para abastecimento.

O mesmo acontece nas padarias, com dezenas a fazerem fila, como Marisa Parquim, que ao fim de mais três horas conseguiu comprar pão para levar para as oito pessoas que vivem na sua casa.

No caminho de regresso a casa cruza a avenida de Angola, totalmente bloqueada, e recorda a noite passada: “Muito complicada. A população saiu à rua”.

Conta que a polícia reagiu e tentou dispersar com o lançamento de gás lacrimogéneo e tiro.

“De noite senti um cheiro de gás na minha casa, porque vivo aqui atrás”, relata, descrevendo que logo de seguida tudo “pegou fogo”.

O Natal está todo prejudicado. Não há Natal, infelizmente não há de haver Natal. Para mim, para a minha família, não há de haver Natal”, desabafa.

Já para Rabia Satat, muçulmana, o desgosto é a morte do marido, no domingo, que foi a enterrar apenas hoje, e não no próprio dia como prevê a sua religião, mas que devido à “confusão” nas ruas não conseguiu assistir.

Muito lamentável, tentem resolver da vossa forma possível, mas deixem a nós, o povo, pelo menos enterrar os nossos entes queridos (…) Resolvam. Pelo menos façam o mínimo pelo povo”, explicava, depois de chegar a Maputo apenas com recurso a mototáxi, ao mesmo tempo que o marido era enterrado.

Estas manifestações e paralisações, que desde 21 de outubro já provocaram a morte de pelo menos 120 pessoas, têm sido convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados inicialmente anunciados pela Comissão Nacional de Eleições e agora proclamados pelo Conselho Constitucional, que lhe atribuem cerca de 24% dos votos.

A Semana com Lusa

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Colunistas

Opiniões e Feedback

D. G. WOLF
3 days 4 hours

Fazer árvore genealógica dos outros é o refúgio de um falhado.

D. G. WOLF
3 days 23 hours

Volta, Leâo Vulcão. Estás perdoado.

Carlos Reis
10 days 23 hours

Faz sentido isso? O dinheiro compra quase tudo mesmo. Uma vergonha US.

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