quarta-feira, 13 novembro 2024

Entrevista: Mundo precisa voltar a estudar ciências sociais e ler Cabral, diz filha, no centenário do líder

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O mundo precisa de voltar a estudar História e Filosofia para evitar erros passados e ler Amílcar Cabral, disse Iva, filha mais velha, no ano do centenário do líder das independências de Cabo Verde e Guiné-Bissau.

 

Espera que não haja uma guerra mundial, mas acredita que o mundo tem um caminho difícil pela frente, até melhorar: “Tenho esperança que o meu neto nasça já num ambiente menos belicoso e menos horroroso”.

Neste contexto, a obra de Cabral pode ser utilizada “para pôr um pouco de seriedade nas coisas. Ele é muito atual”, disse.

“Pensar com as nossas cabeças” é um dos seus princípios mais citados – de especial significado anticolonial – e que Iva destaca a par de outra ideia: “Unidade e luta. Acho fundamental, principalmente na Guiné-Bissau”, onde nasceu e que ainda procura estabilidade política e desenvolvimento, 51 anos após a independência.

 

“Não é só em Cabo Verde, é no mundo. Pôs-se a História de lado e agora a História está a dar-nos bofetadas e a mostrar que é fundamental conhecê-la para não cometer os mesmos erros”, referiu a historiadora de 71 anos, em entrevista à Lusa.

Quais erros? “É só abrir a rádio e uma pessoa fica na Segunda Guerra Mundial, às vezes, até na Primeira”, responde, face à guerra na Ucrânia, à prevalência de Trump nos Estados Unidos depois de condenado, a Macron “que se acha Napoleão” ou à ofensiva de Israel em resposta ao Hamas.

Sinto vergonha de ser humana quando deixamos uma coisa dessas acontecer e ninguém diz nada”, acrescentou, face ao número de mortes e vítimas na Faixa de Gaza.

“Estamos numa situação em que a História está a mostrar que existe e que é séria”, depois de “há uns 20 anos” o ensino ter mudado.

“O ensino das ciências sociais quase desapareceu. O que é que nós damos? Informática, gestão, economia. [Ciências] humanísticas estão postas de parte”, disse Iva Cabral, que já foi reitora em Cabo Verde.

As novas áreas de formação “dão dinheiro”, mas não são tão férteis a dar ideias, pelo menos não como História ou Filosofia, disciplinas que acha que fazem muita falta aos políticos.

Uma pessoa olha para o nível dos chefes da União Europeia e dá vontade de chorar. Já não falo de África, porque estamos mais ou menos acostumados. Não sei como é que chegámos ao ponto de ter governantes tão medíocres” a nível global.

Cada um é pior que o outro. Onde estão Miterrand, Giscard [D’Estaign] ou Mário Soares, onde estão eles?”, questionou, evocando antigos estadistas franceses e de Portugal e apontando para um vazio de exemplos, “muito por causa do ensino que houve. Tenho a certeza, é muito por causa do ensino. Se for ver, esses meninos todos que estão a governar-nos, de onde é que eles saíram? Falta cultura. Faltam ciências sociais”. 

Para Iva, este não é um problema de ideologias, não tem a ver com estar à esquerda ou à direita, “mas com conhecimento”, com consciência da “dignidade humana, sabendo o que é”. 

Espera que não haja uma guerra mundial, mas acredita que o mundo tem um caminho difícil pela frente, até melhorar: “Tenho esperança que o meu neto nasça já num ambiente menos belicoso e menos horroroso”.

Neste contexto, a obra de Cabral pode ser utilizada “para pôr um pouco de seriedade nas coisas. Ele é muito atual”, disse.

“Pensar com as nossas cabeças” é um dos seus princípios mais citados – de especial significado anticolonial – e que Iva destaca a par de outra ideia: “Unidade e luta. Acho fundamental, principalmente na Guiné-Bissau”, onde nasceu e que ainda procura estabilidade política e desenvolvimento, 51 anos após a independência.

A realidade é que, quanto mais se estuda, mais se encontra” e o reconhecimento global de Amílcar Cabral prova a pertinência da sua ação, que deixou registada – como nas comunicações do seminário de quadros de 1969, em Conacry (onde o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, PAIGC, tinha base), escritos publicados pela Fundação Amílcar Cabral.

E há ações em Portugal e noutros países que me orgulham muito”.

“Gostaria que houvesse mais apoio dos Estados para que os currículos escolares em Cabo Verde e na Guiné-Bissau falassem de Cabral, da luta de libertação e dos antigos combatentes com mais amplitude”, referiu, reiterando uma sugestão que já faz há muitos anos.

Só que os Governos passam e nada muda, lamentou, sendo que “há formas de falar sobre isso de maneira a que as crianças compreendam. As ditas grandes nações começam a falar dos seus heróis muito cedo”.

Esquecê-los chega a ser perigoso, disse, porque é o conhecimento da História que permite construir o futuro.

Amílcar Cabral celebraria 100 anos a 12 de setembro de 2024, decorrendo atividades em diferentes países para assinalar a efeméride.

Em Cabo Verde, várias comemorações estão associadas à Fundação Amílcar Cabral, cujo papel Iva Cabral destaca como dinamizadora de um trabalho admirável, que inclui um colóquio internacional sobre o líder histórico, a realizar em setembro, como ponto alto do programa.

 

A Semana com Lusa

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Colunistas

Opiniões e Feedback

David Dias
12 hours 57 minutes

Todos querem ser escritores. Todos, todos, todos.

António
2 days 11 hours

Descilpem, mas os antigos reformados não vivem assim, pois pensões não foram atualizadas.

António
10 days 10 hours

Quando as eleições terminarem fiscalize essas construções em russ estreitas e que são autenticas autenticas bombas

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