O Partido da Renovação Social (PRS) e a Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) acusaram a Presidência do país de sequestrar instituições do Estado, receando que possam colapsar “com consequências imprevisíveis”.
A posição do PRS e APU-PDGB está num comunicado assinado pelos líderes dos partidos, Fernando Dias e Nuno Nabiam, respetivamente, a que a Lusa teve hoje acesso, no qual reagiram “com surpresa” perante as “declarações irresponsáveis” do ministro do Interior, Botche Candé.
Numa conferência de imprensa na segunda-feira, em Bissau, o governante criticou as afirmações de Nabiam, ex-primeiro-ministro e atual conselheiro do chefe de Estado guineense, Umaro Sissoco Embalo, segundo as quais a Guiné-Bissau estaria inundada de droga neste momento.
Nabiam fez estas declarações no sábado num comício popular em Bissora, norte do país, e ainda apelou à comunidade internacional para prestar apoio às autoridades guineenses, que disse não terem capacidade para combater o flagelo.
Botche Candé pediu provas a Nabiam, sob pena de serem acionados mecanismos para que responda à Justiça por ter colocado em causa a imagem da Guiné-Bissau.
No comunicado assinado pelos líderes, o PRS e a APU-PDGB questionam “o porquê do alarmismo de Botche Candé” perante a denúncia de Nuno Nabiam e ainda interrogam o facto de este ser sucessivamente nomeado ministro do Interior, mesmo tendo em conta os seus antecedentes no cargo.
Os dois partidos esclarecem que “não acusaram o Estado da Guiné-Bissau” de tráfico de droga, mas que alertaram pela sua “crescente proliferação nos últimos tempos perante a total incapacidade” das autoridades no combate ao problema.
“Os líderes dos dois partidos estão bastante surpreendidos com as declarações irresponsáveis, tudo no sentido de desviar a atenção das populações e parceiros da Guiné-Bissau face a esta grave situação. Quem não deve não teme”, observou Fernando Dias e Nuno Nabiam.
Lembram ainda que Nuno Nabiam, enquanto primeiro-ministro, esteve na base na exoneração de Botche Candé do cargo de ministro do Interior e que sabe dos motivos da sua saída do Governo.
“Em condições normais, Botche Candé nunca poderia voltar a ser nomeado para um posto governamental, pela gravidade dos mesmos motivos e muito menos no mesmo Ministério do Interior”, refere o comunicado.
Em outubro de 2022, o Presidente guineense exonerou Candé do Ministério do Interior na sequência de críticas e exortações de organizações da sociedade civil, após o desaparecimento de 600 quilos de droga apreendidos pela polícia.
Candé foi então transferido para ocupar a pasta de Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Fernando Dias e Nuno Nabiam salientaram ainda que a política, “num país democrático”, é feita por partidos políticos, representantes legítimos do povo, daí que, reforçam, as lideranças políticas têm a “suprema responsabilidade de cuidar da situação social e política” do país.
“As instituições do Estado estão totalmente sequestradas pela Presidência da República e correm o risco de colapsar socialmente com consequências imprevisíveis”, assinala-se ainda no comunicado do PRS e APU-PDGB.
Os dois partidos fazem parte do atual Governo de iniciativa presidencial no poder na Guiné-Bissau.
A Semana com Lusa
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