segunda-feira, 21 julho 2025

I INTERNACIONAL

Independências: Amílcar Cabral e luta de libertação longe do consenso em Cabo Verde - investigadores

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Os investigadores portugueses Inês Nascimento Rodrigues e Miguel Cardina defendem que a memória da luta de libertação e de Amílcar Cabral está longe de ser consensual em Cabo Verde 50 anos depois da independência.

 

 

Miguel Cardina e Inês Nascimento Rodrigues são autores do livroO dispositivo mnemónico. Uma história da memória da luta de libertação em Cabo Verde”, editado em Portugal, em 2023, pela Imprensa da Universidade de Coimbra.“Há quem celebre esse passado como um marco identitário incontornável e quem, embora em menor escala, o procure desvalorizar ou relativizar. O mesmo acontece com Amílcar Cabral: continua presente, mas de formas muito diversas e por vezes contraditórias”, enfatizou a investigadora do CES.

 

 

 

A luta e Cabral são ainda hoje objeto de disputas memoriais acesas”, disse esta sexta-feira à agência Lusa Miguel Cardina, que, tal como a sua colega, se encontra na antiga colónia para participar em atividades evocativas do meio século de emancipação política do arquipélago africano.

Inês Nascimento Rodrigues vê também “como a memória da luta de libertação em Cabo Verde está longe de ser consensual”.

“A figura de Cabral pode funcionar, por um lado, como símbolo identitário e força agregadora. Por outro, como ponto de fricção e debate político-partidário”, declarou à Lusa.

Os dois investigadores do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra intervieram esta semana, na capital cabo-verdiana, Praia, em realizações académicas evocativas dos 50 anos da independência do país, organizadas pela Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), em parceria com o CES.

Na sequência da revolução do 25 de Abril de 1974, chegou a verificar-se no país de Cabral, líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), uma “mobilização de setores adeptos de uma qualquer manutenção da relação política com Portugal”, recordou Miguel Cardina.

“Cinquenta anos depois, Cabo Verde está pacificado com a ideia de ser um estado independente. Algo que não foi consensual nas elites de então, na década de 1970”, quando “setores claramente pró-independência e envolvidos na luta” contaram com “a adesão popular ao ideário da independência”, referiu.

Segundo o historiador, “se hoje a independência é um dado inquestionável e valorizado, não é tão consensual assim a evidência histórica de que a independência resulta de um processo ancorado na luta de libertação”.

“A luta de libertação – e a própria figura de Cabral – nem sempre é equacionada de forma consequente com o papel histórico que efetivamente tiveram”, admitiu.

Miguel Cardina e Inês Nascimento Rodrigues são autores do livro “O dispositivo mnemónico. Uma história da memória da luta de libertação em Cabo Verde”, editado em Portugal, em 2023, pela Imprensa da Universidade de Coimbra.

“Há quem celebre esse passado como um marco identitário incontornável e quem, embora em menor escala, o procure desvalorizar ou relativizar. O mesmo acontece com Amílcar Cabral: continua presente, mas de formas muito diversas e por vezes contraditórias”, enfatizou a investigadora do CES.

Em Cabo Verde, a luta de libertação e a independência nacional “continuam a ser evocadas de várias formas, muitas vezes atravessadas por lógicas político-partidárias” e “ainda hoje há monumentos, discursos e até performances populares que o homenageiam, mas também há silêncios, omissões e leituras críticas”, ressalvou Inês Nascimento Rodrigues.

Amílcar Cabral, assassinado em Conacri, em 1973, “continua a ser apropriado de muitas maneiras”, desde “a figura quase mítica que circulava no meio rural ainda em tempos coloniais”, passando pela sua “presença em práticas religiosas contemporâneas” e pelas “críticas mais duras que o classificam como uma figura ultrapassada ou uma fraude”, acrescentou.

“Ao mesmo tempo, há setores jovens e da diáspora que o reinventam, como se vê, por exemplo, na Marxa Cabral [desfile em homenagem do cofundador e líder do PAIGC], usando o seu legado como ferramenta crítica para pensar as injustiças do presente”, salientou a investigadora de Coimbra.

Na Cidade da Praia, o programa comemorativo na Uni-CV incluiu a exibição de três documentários da autoria da jornalista portuguesa Diana Andringa.

Um acordo entre Portugal e o PAIGC, assinado em 1974, permitiu a instalação de um governo de transição em Cabo Verde, seguido da eleição da Assembleia Nacional Popular que proclamou a independência, em 05 de julho de 1975.

 

A Semana com Lusa

jcf
A verdade incómoda sobre o assassinato de Amílcar Cabral: traição interna e o mito conveniente da PIDE
Amílcar Cabral não foi morto pela PIDE nem por colonos portugueses — foi assassinado pelos seus próprios camaradas guineenses dentro do PAIGC, em Conacri, em 1973. Um acto cobarde, fruto da tensão étnica e do ressentimento crescente na Guiné-Bissau contra o domínio caboverdiano dentro da estrutura do partido. Na verdade, a liderança do PAIGC era maioritariament e caboverdiana e, aos olhos de muitos guineenses, isso soava a uma nova forma de colonização — desta vez por “irmãos” africanos.

Desde então, criou-se uma narrativa conveniente — e confortável — que aponta o dedo à PIDE como autora do crime, numa tentativa mal disfarçada de lavar a culpa interna e preservar a imagem mítica de Cabral. Mas quem conhece os bastidores da luta de libertação sabe que houve traição dentro de casa. O consenso em torno da memória de Cabral é forçado, manipulado e cada vez mais questionado — especialmente por uma juventude que não engole mais histórias fabricadas para consumo oficial.

E como sublinham os investigadores Miguel Cardina e Inês Nascimento Rodrigues, essa memória está longe de ser unânime em Cabo Verde. Há culto, sim, mas também muito silêncio e desconforto. Porque no fundo, todos sabem o que se passou — só fingem que não.

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Eurico Pinto Monteiro
Quem proclamou a Independência
Não foi a Assembleia Nacional Popular que proclamou a independência de Cabo Verde, em 05 de julho de 1975, mas, sim , a Assembleia Nacional. Uma investigação séria sobre o processo juridico para a proclamação da Independência Nacional porá em causa a correção juridico-formal de alguns dos atos praticados na tarde de 4 de julho e no dia 5 de julho.
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Estanislau di Nhaga
Direito morreu em CV
Qual processo jurídico! Qual carapuça !Processo jurídico são os tribunais do MpD que não servem para nada. Esteja calado ,o seu comentário não vale nada. O Direito morreu!
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Opiniões e Feedback

jorge lopes
2 days 23 hours

Chega de tretas. A sério. Este teatrinho de acusações sobre “manuais secretos”, “estratégias de guerra suja” e ...

djonsa
3 days 16 hours

Ah, estas megaoperações com nome pomposo — “Plano Operacional Verão 2025 em Segurança” — são mesmo o equivalente ...

jl
3 days 22 hours

E lá vêm eles outra vez com os planos públicos de “segurança”, com nomes sonantes como “Verão Seguro 2025”, chei ...

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