O presidente sudanês Omar al-Bashir, de 75 anos, deposto em abril, foi condenado na segunda-feira, por um tribunal de Cartum, a dois anos de prisão por corrupção. Essa é a pena máxima que a lei aplica a quem tenha mais de setenta anos e Bashir vai cumpri-los num ’reformatório’. Mas o TPI-Tribunal Penal Internacional, na Haia, quer que ele seja extraditado para responder por crimes de genocídio puníveis com a pena máxima, que é a prisão perpétua.
A sentença do tribunal sudanês deixou indignados os milhares de sudaneses pró-democratas, em especial os que foram vítimas da ditadura de Omar Bashir que esteve trinta anos na presidência, desde o golpe de Estado que liderou em 1989.
O último ato da presidência contestada terminou em sangue, entre dezembro e abril passado. Largas dezenas de pessoas morreram na repressão pelas forças governamentais dos protestos de cidadãos contra a "ditadura".
Foi em 19 de dezembro de 2018 que se deu a primeira fagulha da contestação que começou devido ao aumento do preço do pão: manifestantes juntaram-se em frente ao Ministério da Defesa, na capital, Cartum. Ali voltariam quatro meses a fio, todas as terças-feiras para pedir a demissão do presidente.
Em abril, Bashir saiu. Mas instalou-se uma ‘Junta Militar’, confirmada pelo ministro da Defesa, Awad Ahmed Ibn Auf. Horas antes, um comunicado na cadeia televisiva Al Hadath lido por um ’ministro de Darfur-Norte’, cujo nome não foi indicado pela fonte RTBF , terá sugerido que a ação resultava dum ultimato, dado pelas "capitais ocidentais" para a solução das reivindicações de "maneira responsável".
A situação tornou-se tão confusa que os jovens que lideraram as manifestações, menos de 24 horas após a queda do presidente começaram a clamar que houve manipulação.
"Vamos continuar na rua, em frente a cada quartel das Forças Armadas, para gritar contra esta solução militar, disse um jovem manifestante, porta-voz do grupo dos que se declaram "Pela Liberdade e Mudança".
TPI quer julgar o ditador
Bashir/Bechir — a braços com acusações que o podem levar ao tribunal da Haia — ao invés de ouvir as reivindicações dos sudaneses, que aos milhares sairam à rua, enviara primeiro as forças da ordem, com resultados catastróficos.
A repressão das manifestações, segundo o balanço do governo, fez um total de 43 vítimas mortais entre dezembro e abril. Mas as ONGs no terreno contradizem que “o número é muito superior” e “deve ultrapassar a meia centena”.
Fontes económicas dão conta que a inflação atinge por ano os 70 por cento desde que em 2011, com a secessão Norte-Sul, o Sudão ficou amputado de três-quartos das suas reservas petrolíferas – que estão em território da novel República do Sudão do Sul.
Kremlin condenou "golpe militar"
Enquanto via televisões nacionais vários governos ocidentais saudavam a decisão da retirada de Bashir/Bechir, ao fim de trinta anos no poder, o governo de Putin condenou de imediato o que classificou como um "golpe militar".
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Fontes: Le Monde/CNN/BBC/France 1/RTBF/WSJ/FT. Relacionado: Sudão: ’Conselho militar’ no lugar do presidente Bechir deposto e preso — Povo na rua desde dezembro por causa do preço do pão, 12.abr.019. Fotos: Esta segunda-feira Omar al-Bashir, enjaulado, ouve a sentença. Há meses, em abril, uma mulher, cujo nome não foi revelado para se entender que ’ela representa o coletivo’, "tornou-se símbolo do protesto e é ela que começa a entoar os cânticos, depois repetidos pela multidão"...manipulada?
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