sexta-feira, 04 julho 2025

É preciso "assumir prioridades" no financiamento ao desenvolvimento

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O subsecretário-geral da ONU Jorge Moreira da Silva diz que além de mobilizar mais recursos para projetos de desenvolvimento é necessário "assumir prioridades", sublinhando que países frágeis e em conflito dificilmente conseguirão atrair investimento privado.

O também diretor executivo da UNOPS (Agência das Nações Unidas para Serviços de Projetos) falava à Lusa em Sevilha, no âmbito da IV Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento da ONU, que termina esta quinta-feira.

Uma cimeira em que se insistiu na necessidade de atrair o setor privado para projetos nos países em desenvolvimento, “mas com reconhecimento que existem outras dimensões, além da mobilização, que passam pelo alinhamento do financiamento com aqueles que mais necessitam”, aspeto “em que a UNOPS está apostada”, disse Moreira da Silva. “Os números são muito eloquentes quanto ao tamanho do problema. A ajuda pública ao desenvolvimento está na ordem dos 200 mil milhões de dólares e a lacuna de financiamento está na ordem dos 4,2 bilhões de dólares anuais. Há mais necessidades do que disponibilidades, o que comprova que sem financiamento privado não é possível”, disse.

No entanto, acrescentou, “não basta falar de financiamento, é necessário também tratar de assumir prioridades”. “Preocupa-me muito que se fale apenas da mobilização de financiamento e que não se olhe para as zonas onde o financiamento privado nunca chegará sem o apoio do financiamento público”, disse Jorge Moreira da Silva, lembrando que a agência da ONU que dirige “trabalha no terreno”, na implementação concreta de projetos, em 130 países (é a quinta maior agência da organização), “mas com um grande enfoque em países frágeis, em conflito e em guerra”.

O diretor da UNOPS sublinhou que muitos países acabarão por ter, com financiamento privado, soluções de desenvolvimento, “mas em países de conflito ou altamente frágeis, sem o investimento público para alavancar financiamento privado, isso não será possível”.

Neste momento, 25% da população mundial está “a viver em guerra” e nunca houve “um número tão grande de refugiados”, lembrou, antes de acrescentar que, “ainda por cima, há uma concentração nos mesmos países da guerra e das alterações climáticas”. “Quando se fala de prioridades, é necessário assumir que existem países que nunca conseguirão ultrapassar os seus problemas apenas numa lógica de atração de investimento privado. Quantas empresas portuguesas estarão disponíveis para ir para o Sudão, ou para Mianmar, ou para a Afeganistão, ou para a Somália, quando são países que estão em guerra, em conflito? Se estes países não forem apoiados, o ciclo da pobreza nunca será terminado”, explicou.

Moreira da Silva defendeu que o financiamento público tem de “assumir a sua responsabilidade” e “claramente, países em conflito e que enfrentam a mudança climática, têm de fazer parte da prioridade”, assim como infraestruturas que o setor privado dificilmente desenvolverá, como redes de energia, por exemplo. No entanto, alertou, o setor privado é necessário, mas não pode servir de álibi para que os governos não façam o que devem”.

Os países mais desenvolvidos assumiram há décadas, no seio da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), e depois no âmbito da ONU, o compromisso de dedicar 0,7% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) à ajuda pública ao desenvolvimento, mas é uma “meta que está muito longe de ser cumprida”: a média da OCDE está nos 0,33% e em países como Portugal não supera os 0,18%. “Portanto, é necessário que, além desta conversa toda sobre mais investimento privado, que os governos também façam a sua parte, que aumentem o financiamento público e depois, obviamente, que com esse aumento se possa alavancar também o investimento privado”, afirmou Jorge Moreira da Silva.

Na conferência que esta quinta-feira termina em Sevilha, 192 dos 193 países da ONU subscreveram o documento “Compromisso de Sevilha”, com compromissos para relançar a cooperação internacional e a mobilização de recursos para o desenvolvimento e a erradicação da pobreza.
 
Jorge Moreira da Silva considerou importante que o documento chame a atenção, precisamente, para “os contextos frágeis de países em conflito e países altamente expostos às alterações climáticas” e realçou que “a grande novidade” é a “integração do tema das alterações climáticas de uma forma mais preponderante”. “Assumindo que não é possível combater as alterações climáticas sem uma aposta na solidariedade com os países mais pobres”, realçou.

 

Destacou ainda, no documento, “a promoção de uma nova arquitetura financeira internacional”, com mais participação e peso dos países em vias desenvolvimento.

 
 
A Semana com Lusa

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