Os 81 estados-membros do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) elegem hoje, em Abidjan, Costa do Marfim, uma nova presidência da instituição, que vai enfrentar cortes à ajuda internacional de que precisa.
Quem vencer terá de obter aquilo que o regulamento eleitoral designa como “dupla maioria”: reunir mais de 50% dos votos dos países membros africanos e mais de metade dos votos totais, que incluem os países de fora do continente, como Portugal.
A eleição vai ter lugar durante a penúltima sessão do Conselho de Governadores da reunião anual da instituição que decorre esta semana, onde têm assento ministros das finanças, planeamento, governadores dos bancos centrais ou seus representantes.
O conselho tem estado reunido desde terça-feira em encontros que já incluíram conversas com as cinco candidaturas: Amadou Hott (Senegal), Samuel Maimbo (Zâmbia), Sidi Tah (Mauritânia), Abbas Tolli (Chade) e Bajabulile Tshabalala (África do Sul), a única mulher na corrida, vice-presidente da atual presidência, liderada por Akinwumi Adesina.
Os currículos publicados pelo BAD mostram diferentes experiências nas áreas de economia e finanças, em cargos ministeriais, lugares de topo em instituições financeiras internacionais e no setor privado.
Quem vencer terá de obter aquilo que o regulamento eleitoral designa como “dupla maioria”: reunir mais de 50% dos votos dos países membros africanos e mais de metade dos votos totais, que incluem os países de fora do continente, como Portugal.
No seu último discurso nos encontros anuais (tecnicamente, a saída só acontece em setembro), Akinwumi Adesina assinalou recordes conquistados em apoio financeiro concedido durante os seus 10 anos, consolidando o BAD como maior financiador multilateral de África – seja através de fundos concessionais (para países mais frágeis) ou de outros instrumentos.
Ajudar a levar eletricidade a todos os cantos de África, aumentar a produção alimentar, fomentar a indústria e o comércio regional, melhorando a qualidade de vida, estão entre os objetivos estruturais.
“A fasquia estará elevada para o próximo presidente”, apontou Alassane Ouattara, Presidente da Costa do Marfim e anfitrião dos encontros anuais.
Só que o ponto de partida parece estar a afundar-se.
“É lamentável que a ajuda global ao desenvolvimento tenha diminuído em 2024, após cinco anos de crescimento contínuo. É ainda mais preocupante que alguns dos principais doadores tenham sinalizado reduções adicionais, e bastante significativas, nos próximos anos", afirmou, há um mês, o presidente do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Carsten Staur.
Nestas reduções, incluem-se transferências para instituições multilaterais (como o BAD e seus instrumentos) por parte dos EUA, um dos principais doadores globais, entre outros.
As estimativas iniciais do CAD preveem uma queda da ajuda ao desenvolvimento de entre 9% e 17% este ano, relativamente ao ano passado.
No grupo BAD, um dos desafios está aí à porta: a próxima recapitalização do Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD), fonte de financiamento a baixo custo para os países mais pobres, que deverá acontecer até final do ano.
“Vai ocorrer num momento crítico para África: exorto os parceiros internacionais a comprometerem-se com uma reposição robusta”, referiu Adesina, num dos mais recentes relatórios de atividades.
A última recapitalização, em 2022, foi de 8,9 mil milhões de dólares (7,8 mil milhões de euros) e a ambição já expressa apontava agora para 25 mil milhões de dólares (22 mil milhões de euros).
Quem ficar à frente do BAD terá de encontrar soluções, seja junto dos parceiros tradicionais, procurando novos ou negociando maiores contribuições dos países membros.
A Semana com Lusa
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