Chegou ao fim na madrugada deste domingo, 13, na cidade da Praia, mais uma edição do Kriol Jazz Festival, 14ª, com um encerramento memorável do artista angolano Bonga. Ele agitou o festival, provocou muitas risadas e trouxe lembranças das suas passagens por Cabo Verde. O artista não apenas cantou, mas conversou, brincou e emocionou o público, mostrando o porquê de ser uma das figuras mais emblemáticas da música angolana. Foram três noites de muita música, com artistas de África, Europa e América.
Por Silvana Gonçalves
O angolano não deixou de enaltecer o compositor, produtor e editor cabo-verdiano, Djunga de Biluca, o qual considera uma grande personalidade para a África e sobretudo para Cabo Verde. “Djunga de Biluca foi aquele homem que incentivou e impulsionou a produtora Morabeza Records. Gravou e financiou todas as mornas e coladeiras. Vendia discos para todo o mundo e era um centro motor da reivindicação social e política dos cabo-verdianos na Holanda, Roterdão”.
Em declarações à imprensa depois do concerto na cidade da Praia, Bonga falou porque demorou a vir a Cabo Verde.“Acontece agora porque eu tenho uma carreira. E, às vezes, nem tenho tempo para mim, o que é mau. Porque com a idade que tenho- 83, é preciso ter tempo para mim. Chega a uma altura em que eu digo: não quero ir ali. Agora já não faço mais de oito horas de voo. Não quero isto. O avião me chateia, o ar condicionado do avião arrebenta com a minha garganta”.
“O segredo da minha juventude é estar em sintonia com as coisas que fazem parte da raiz- alimentar-se com protudos naturais. É a maneira de estar. Evitar as mentiras e ser frontal”, disse Bonga com um imenso humor.
O autor de um dos sucesso «Mariquinha vem comigo p'r Angola» e que gravou a canção cabo-verdiana «Sodade»,falou ainda que participar no Kriol Jazz, “um festival dessa envergadura”, teve uma responsabilidade de trazer música e poesia que retrata a vivência daqueles que são da geração do seu tempo, que deram um tremendo contributo para cultura mas que morreram frustrados e esquecidos.
“Somos, muitas vezes, hipócritas: não reconhecemos o que é nosso. Esquecemos da vivência das grandes pessoas das nossas vidas. Isso é que é verdadeiramente triste. Só quando aparece um estrangeiro, com algum "combustível", umas promoções, é que damos por isso, disse ao ser questionado da falta de reconhecimento das grandes personalidades da lusofonia e da CPLP que já desapareceram.
O angolano não deixou de enaltecer o compositor, produtor e editor cabo-verdiano, Djunga de Biluca, o qual considera uma grande personalidade para a África e sobretudo para Cabo Verde.
“Djunga de Biluca foi aquele homem que incentivou e impulsionou a produtora Morabeza Records. Gravou e financiou todas as mornas e coladeiras. Vendia discos para todo o mundo e era um centro motor da reivindicação social e política dos cabo-verdianos na Holanda, Roterdão”.
Nancy Vieira regressa ao palco do Kriol Jazz
Antes de Bonga, quem abriu a noite foi Nancy Vieira, que mostrou estar muito enimada em apresentar-se novamente no Kriol Jazz. A artista que já se apresentou no mesmo festival há anos atrás, agora regressou para apresentar temas do seu mais recente álbum “Gente”. Abriu o palco cantando temas como “Sol di nha vida”, Princesa”, ambos da autoria de Mário Lúcio, que se apresentou este ano no segundo dia do festival.
A cantora, nascida em Guiné Bissau e trazida para Cabo Verde com apenas quatro meses de vida-viveu na Praia, brindou o público com a interpretações delicada e intimista de mornas e coladeiras, arrancando aplausos dos presentes.
Nancy recebeu no palco Luís Firmino, que juntamente com Henrique, do coletivo Acácia Maior, fizeram arranjos de uma música do novo álbum.“Para mim é uma grande honra estar aqui com Nancy Vieira, que é um grande ídolo para mim desde pequeno, quando na época ouvia e me emocionava com a música "Manu". Hoje em dia, para mim, é uma honra imensurável estar aqui com ela, um dos grandes nomes de Cabo Verde, e ainda ter o privilégio de a ter connosco”, contou Luís.
Em seguida Michelle David, acompanhada pela sua banda e The True Tones (EUA), proporcionaram uma noite brilhante, mesclando diversos estilos, ritmos clássicos de soul e sons contemporâneos. A vocalista manteve a energia sempre lá em cima, com sua voz potente e comovente. Com sua presença vibrante, não houve ninguém que ficasse parado.
Quem também sacudiu o público foi Las Karamba (ver este jornal), um grupo composto por seis mulheres, originárias da Venezuela, Argentina, Espanha, Panamá e Cuba. Elas levaram ao palco uma explosão de ritmos latinos, com letras que abordam temas sociais e de empoderamento feminino.
Este ano, embora não tenha sido intencional, como disse o mentor do festival Djo da Silva, é uma edição em que se destacou o talento feminino. “O festival deste ano trouxe grandes artistas mulheres”, afirmou.
"Público aumentou significativamente este ano"- Djô da Silva
À imprensa, no final dos espetáculos, Djô fez um balanço positivo do festival, embora houvesse alguns cortes, nomeadamente na viagem de trinta jornalistas, corte na promoção, devido à quebra de parceria da Câmara Municipal da Praia, um dos principais parceiros do Kriol Jazz Festival.
“O balanço é bom, musicalmente correu tudo bem. Penso que surpreendemos com artistas de sucesso que ainda Cabo Verde não conhecia. E também demostramos que somos capazes de fazer um festival sem certas ajudas”.
Apesar desses desafios, o idealizador do festival frisa que conseguiu alegrar o público.
Sobre o público, ele falou que superou as suas expectativas. "Desde a pandemia o público caiu, mas notei que cada ano tem vindo a aumentar. E este ano aumentou significativamente”.
Agradeceu o apoio do público, dos hotéis e restaurantes, particularmente por causa dos problemas com financiamento. “Muita gente quis muito nos ajudar para conseguirmos fazer o festival. Isto é algo que tocou no meu coração. E muita gente durante todo o festival nos parou para dizer que tínhamos que continuar. E que era para entrar em contacto caso precisasse. Isto é muito bom”.
Mudanças nas próximas edições do festival
José da Silva reconheceu que talvez seja o momento de fazer alguma mudança no festival, adaptando-o mais aos tempos atuais. Declarou que musicalmente, muita coisa está a mudar e talvez trazer algumas músicas mais adaptadas à cultura de hoje em dia sejam necessárias.
“Já estou com certa idade e talvez seja melhor ficar mais nos back stage. E buscar mais meios para fazer o festival, mais a parte do financiamento, do que estar a produzir. Tem atualmente muitos jovens com capacidade. Vamos tentar encontrar algum jovem para fazer isso”, concluiu.
O Kriol Jazz Praia 2025 terminou assim, com casa sempre cheia, e o público a permanecer até o último momento no largo da Praça Luís de Camões, onde decorreu os espectáculos.
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