Os realizadores Elson Santos (Cabo Verde) e Lara Sousa (Moçambique) apresentam sexta-feira, na cidade da Praia, o documentário "Nós, Povo das Ilhas" que dá voz a combatentes cabo-verdianos na luta pela independência com a Guiné-Bissau.
O documentário "é um convite à celebração" dos 50 anos da independência de Cabo Verde, que se assinala no sábado, mas também a "cultivar, honrar e refletir sobre a história e memória da luta de libertação do arquipélago", disse à Lusa Elson Santos.
A estreia terá lugar no Auditório Nacional e no dia 11 será apresentado no auditório Onésimo Silveira, na ilha de São Vicente.
O filme nasceu da curiosidade de Elson Santos ao encontrar uma fotografia antiga de guerrilheiros cabo-verdianos em Cuba.
"O meu pai lutou pelo regime colonial dos portugueses e o meu tio por Cabo Verde e Guiné-Bissau. Eu ouvia histórias na minha casa, ainda criança, e havia vários álbuns da luta de libertação", explicou.
Estas recordações revelaram uma história que considera "esquecida": a preparação, em 1965, de 31 combatentes para uma operação militar que visava invadir Cabo Verde e pôr fim ao domínio colonial português.
A missão nunca se concretizou, mas daria origem às Forças Armadas cabo-verdianas e os recém-formados membros acabariam por receber formação na União Soviética e lutar na frente de guerra da Guiné-Bissau.
O documentário é "uma resposta, para reforçar o debate sobre a luta de libertação, o colonialismo e a história — processos que, em Cabo Verde, continuam a ser fortemente silenciados", considerou.
As filmagens decorreram entre 2019 e maio de 2025, nas ilhas de Santiago e São Vicente, e o documentário estabelece uma conversa com cinco protagonistas históricos, todos membros do grupo treinado em Cuba: o antigo Presidente da República Pedro Pires, que liderava a força, Agnelo Dantas, Silvino da Luz, Júlio de Carvalho (todos com a função de primeiro-comandante) e Maria Ilídia Évora, conhecida como Dona Tutu, a única mulher do grupo.
"A Dona Tutu foi muito importante. A voz das mulheres na luta é muitas vezes esquecida. Quisemos dar-lhe o devido destaque", explicou o realizador.
Mais do que um registo histórico, "Nós, Povo das Ilhas" é, "um mapeamento identitário" que traz uma mensagem universal.
"Amílcar Cabral acreditava que o cinema podia mostrar ao mundo que a libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde foi obra dos próprios povos. O povo das ilhas faz parte dessa história. Queremos que as pessoas se juntem a nós para honrar, cultivar e refletir sobre essa memória", afirmou.
Elson Santos disse que um dos principais desafios na realização foi a falta de financiamento e a dificuldade de acesso a arquivos históricos.
"Espero que, no futuro, haja mais abertura em Cabo Verde para apoiar projetos de cinema. Só assim conseguiremos contar a nossa própria história", defendeu.
Com coprodução da Soul Comunicação (Cabo Verde), Midas Filmes (Portugal) e Kulunga Filmes (Moçambique), o filme estreia-se no arquipélago um dia antes da celebração oficial dos 50 anos de independência, a 05 de julho, na cidade da Praia.
A Semana com Lusa
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