sexta-feira, 04 julho 2025

ENTREVISTA: Dino D`Santiago partilha cicatrizes em livro escrito nas insónias da paternidade

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O artista Dino D`Santiago lança em outubro um livro com textos escritos durante as insónias da paternidade, no qual partilha as suas cicatrizes, sendo a maior de todas a memória de quando o exército apontou armas à sua família.

“Essa imagem é a imagem mais horrível que eu tenho e que eu não consigo apagar, nem com tantas terapias; e não consigo perdoar também”, diz à agência Lusa, a propósito do livro "Cicatrizes".

Trata-se de um conjunto de cerca de 80 textos, de um universo de 200 que foi desenvolvendo durante o seu processo psicoterapêutico e a fase pré e pós paternidade, além dos “encontros e desencontros” consigo próprio.

Textos escritos nas madrugadas após o nascimento da filha, em que Dino D`Santiago despertava e a mente “começava a ferver”.

“Entre a uma e as seis da manhã fui escrevendo, sem pensar que iria escrever um livro. Fui escrevendo, fui pintando mais de 70 obras e escrevendo canções”, conta.

Dino tem atualmente três álbuns gravados e ainda está a pensar como os vai editar, estando convencido que terão muita conexão com o Brasil.

A aventura literária será publicada em outubro e em 13 de dezembro, dia do seu aniversário, serão expostas pela primeira vez as 70 obras que desenhou.

“É mais um caminhar sobre as minhas cicatrizes e um fechar de feridas abertas na infância”, diz, ressalvando que ficaram de fora as mais viscerais, que eram os seus exercícios de purgar, no âmbito do seu processo psicoterapêutico.

Questionado sobre a sua mais dolorosa cicatriz, o cantor fecha os olhos e, como a acordar de um transe, responde de rompante: “A que doeu mais, porque também envolveu a minha família e doeu mesmo muito e não se curou até hoje, foi o dia em que o exército invadiu a nossa casa, ali nos anos 90 [do século XX]”.

“O meu pai tinha ido trabalhar às seis da manhã, eles arrombaram a nossa porta e ver a minha mãe a chorar e depois, quando fomos para a escola, eles apontarem-nos as G3 e a abrirem as nossas mochilas e ver a minha irmã a chorar e o meu irmão a chorar, essa é uma imagem que eu não perdoo ao país que me viu nascer, nunca”.

“Foram cruéis. E quando o meu pai chegou, veio de Vilamoura a correr até lá a casa, e foi a pessoa que ‘peitou’ estes guardas a dizer: Somos pessoas de fé, nós não temos nada, podem procurar o que quiserem, mas aqui não vão encontrar nada, mas vocês não têm o direito de fazer o que fizeram”, prosseguiu.

Filho de pais cabo-verdianos, da ilha de Santiago, Dino nasceu em Portugal e cresceu no Bairro dos Pescadores, um antigo bairro degradado da cidade algarvia de Quarteira, cujas últimas barracas foram demolidas em 2011.

A escassez marcou a sua infância e para ajudar os mais desfavorecidos fundou, com Liliana Valpaços, a associação Mundu Nôbu, destinada a ajudar jovens de comunidades menos representadas a atingirem todo o seu potencial, através da educação, da participação cívica e da celebração cultural.

A Mundu Nôbu terá em breve a funcionar “um braço” em Cabo Verde, que será sedeado na capital, Praia, com a filosofia adaptada à realidade do arquipélago, mas com o mesmo objetivo: “Trabalhar a auto eficácia e a autoconfiança dos jovens”, disse.

O autor de “Nova Lisboa”, que interpretou com Madonna o tema “Sodade”, de Cesária Évora, tem também novos projetos musicais prontos. A lusofonia e o crioulo estarão presentes nestas obras.

 

A Semana com Lusa

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