O historiador cabo-verdiano António Correia e Silva considerou que o 25 de Abril ainda é pouco estudado em Cabo Verde e sugeriu a recolha de memórias e a criação de material didático para introduzir o tema nas escolas.
“Tem havido algum esforço por parte dos professores do ensino secundário e do superior em trazer o 25 de Abril e todo o processo subsequente para a sala de aula, mas esbarram na falta de materiais didáticos”, constatou o também professor universitário cabo-verdiano, em declarações à agência Lusa.
Para o antigo ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação de Cabo Verde (2011-2016) e primeiro reitor da Universidade de Cabo Verde (2006 - 2011), os professores não ensinam “por querer” ou por “perceções”, indicando que precisam de “material didático validado” pela autoridade curricular.
António Correia e Silva notou que o 25 de Abril é “muito estudado” em Portugal e noutras partes do mundo, mas entendeu que essas obras têm de ser convertidas em material didático em Cabo Verde, para o estudo do tema nas escolas.
O historiador considerou que o cinquentenário, que este ano se comemora, terá impacto no esforço de trazer a data e todo o seu processo para a sala de aula e para os currículos escolares.
“Deste modo, teremos um saldo positivo”, salientou Correia e Silva, dizendo que, o que os professores têm feito é levar pessoas para a sala de aula para dar o seu testemunho sobre essa data.
Nessa linha, recomendou a recolha e registo de memórias individuais no país porque “a história tem versões oficiais”, mas ela “enriquece-se muito com perceções subjetivas”.
“Urge, 50 anos depois, que haja projetos de recolha de depoimentos e que nos possam dar perceções diversas, amplas deste marco da memória coletiva, e para que as novas gerações venham a entender o 25 de Abril em toda a sua riqueza”, completou.
António Correia Silva verificou que, durante muito tempo, o 25 de Abril não foi muito lembrado no país, o que considera ser uma “injustiça à verdade histórica”, mas constatou que a data está a ter visibilidade, numa reposição da história.
Segundo referiu, a comemoração do cinquentenário “está a facilitar” o processo.
Na entrevista à Lusa, fez referência ainda às duas narrativas sobre o 25 de Abril de 1974, uma que diz que é um movimento português que tem a ver com as tensões na sociedade que nas décadas anteriores também estiveram na origem dos movimentos de libertação em África.
A outra narrativa é que se trata de uma data, pelo menos em parte, “filha” dos movimentos de libertação, que terão criado uma pressão sobre o regime fascista ditatorial português, levando à sua erosão no seio do exército.
“As duas narrativas terão as suas razões e devem ser suturadas pelo filtro dos historiadores”, entendeu o investigador, autor de vários livros sobre História em Cabo Verde.
A Semana com Lusa
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