A personagem principal da nova novela do escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Souza é um livro, em torno do qual os leitores fazem uma revolução e transformam o mundo numa livraria, história que começou nos “100 anos de solidão” de Gabo.
“Estava a reler os ‘100 anos de solidão’, de Gabriel Garcia Marques [também conhecido por Gabo], e fiz uma pergunta a mim mesmo: E se este livro nunca tivesse existido?”, contou Mário Lúcio à agência Lusa, a propósito da apresentação de “O livro que me escreveu”, que acontece sexta-feira, em Lisboa.
Por ser uma das obras mais lidas e traduzidas em todo o mundo, Souza concluiu que, sem o mesmo, “provavelmente a humanidade teria hoje menos imaginação e, certamente, muito menos escritores”.
“Comecei a escrever [‘O livro que me escreveu’] com a vaga ideia da história deste livro, tudo o que [Gabo] passou para o escrever. E se o livro tivesse desaparecido?”, questionou.
É, pois, em torno de um livro que desapareceu e do esforço de um escritor que demora 30 anos a escrevê-lo que o enredo da nova obra de Mário Lúcio Souza se desenvolve.
Apesar do protagonismo do autor e da mulher e de eventuais semelhanças com Gabriel Garcia Marques e Mercedes Barcha, o escritor esclarece que, sendo “em memória dos dois”, o narrador é uma personagem fictícia, lírica.
“O livro que me escreveu”, editado pelas publicações Dom Quixote, tem como centro do mundo o local onde o livro está e Mário Lúcio Souza acredita que “o livro nunca acabará”.
“Hoje, as pessoas não almejam mais, como se assomou para a Biblioteca de Alexandria, com um exemplar de todos os livros do mundo, mas um livro continua sempre a ser um livro”, disse.
O escritor não receia a revolução digital na literatura e até recorda que este já teve vários suportes, incluindo a pedra.
“O livro é um conceito, materializado é um objeto, mas o livro digital e noutra forma que apareça, continua sempre a ser um livro”, adiantou.
“Há livros que nos adoecem, mas eles mesmos trazem o remédio para a cura”, disse.
Nesta nova obra de Mário Lúcio Souza, “há povos que leem histórias que não estão no livro e há pessoas que leem sem saber ler”.
“Uma pessoa é um livro aberto, uma acumulação de saberes, à disposição da humanidade”, disse, reiterando o que se lê na obra: “A humanidade só se salva pelo acesso ao livro”.
Mário Lúcio Souza, que afirma só trabalhar quando tem prazer e só ter prazer quando trabalha, disse que se deliciou a escrever esta obra, tendo tentado ser “o mais brincalhão possível”.
Este é “um livro sem perspetiva moral”, do qual saíram coisas que o autor não planificou nem elaborou, mas que, de certo modo, deixa uma mensagem que tem a ver com “a latitude da generosidade, da ética, da paciência, do esforço jubiloso de 30 anos, da sabedoria para lidar com as perdas”.
“Na verdade, são vivências que têm muito a ver com a minha infância, a partilha, a generosidade, as coisas simples. Quando partilhamos, multiplicamos”, referiu.
Nascido no Tarrafal de Santiago, tema de um dos seus maiores sucessos musicais (“Ilha de Santiago”), Mário Lúcio Souza é o escritor cabo-verdiano mais premiado internacionalmente.
É cantor, compositor e multi-instrumentista, tendo recebido vários prémios e distinções.
A Semana com Lusa
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