O Governo cabo-verdiano apresentou, esta segunda-feira, o programa de comemorações dos 50 anos do 25 e Abril e da libertação dos presos políticos do Tarrafal, como forma de dizer “não” a qualquer limitação de liberdades no mundo.
Ao todo, foram presas no "campo da morte lenta" mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas. Numa lápide evocativa erguida no interior do campo, estão inscritos os nomes de 36 pessoas que morreram no campo: 32 portugueses, dois guineenses e dois angolanos.
“Fazemo-lo também com esta ideia: Tarrafal nunca mais. A frase que ecoou pelo período revolucionário do 25 de Abril”, em contraste com o que disseram, “tristemente, alguns candidatos nas legislativas [deste mês] em Portugal”, disse Abraão Vicente, ministro da Cultura de Cabo Verde.
“O Tarrafal não pode ser nomeado em nenhuma nova tentativa de trazer o fascismo, o totalitarismo, quer para Portugal, quer para outro território. E cabe-nos a nós, com estas celebrações, encerrar definitivamente qualquer devaneio público, de qualquer político”, acrescentou.
"[Hoje, o Tarrafal é] um espaço de memória, um espaço museológico, um espaço de reflexão e de diálogos, nunca mais um espaço onde a nossa dignidade humana seja posta em causa”, declarou.
Bruno Fialho, presidente do Alternativa Democrática Nacional (ADN), partido português sem representação parlamentar, defendeu, numa entrevista durante a campanha para as eleições legislativas em Portugal, que alguns crimes e figuras deviam ser punidos com penas no Tarrafal.
Abraão Vicente falava num conferência de imprensa, na Praia, ladeado pelos embaixadores de Portugal e da Guiné-Bissau, co-organizadores das comemorações, juntamente com Angola, países de origem dos presos políticos.
Paulo Lourenço, diplomata português, adiantou que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já aceitou o convite de José Maria Neves, chefe de Estado cabo-verdiano, para estar presente na cerimónia de 01 de maio, para a qual também foi convidado o Presidente angolano, João Lourenço.
Ibrahima Sanó, embaixador da Guné-Bissau, disse hoje que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, também já aceitou o convite que lhe foi endereçado.
O cinquentenário será a última data marcante em que será possível contar com o testemunho de viva voz de alguns dos presos, devido à idade avançada, destacou Ana Samira Baessa, presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), ao apresentar o programa.
Os testemunhos farão parte de um simpósio internacional marcado para 09 de maio, sendo que Cabo Verde já fez 12 convites e a Guiné-Bissau procura levar ao arquipélago alguns dos sete antigos presos ainda vivos.
O programa inclui várias atividades: logo no dia 25 de abril haverá uma conversa aberta com investigadores de Portugal e de Cabo Verde e no 01 de maio, dia da libertação do Tarrafal, vai ser aberta uma exposição sobre a memória dos presos.
Visitas guiadas, um concurso para escolas, publicação de um livro e espetáculos – incluindo um festival de encerramento – serão partes de um programa que pretende ser um convite para a reflexão, que contribua para a liberdade, referiu Ana Samira Baessa.
O antigo Campo de Concentração do Tarrafal, hoje um município da ilha de Santiago, foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.
Reabriu em 1962, com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom", destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Ao todo, foram presas no "campo da morte lenta" mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.
Numa lápide evocativa erguida no interior do campo, estão inscritos os nomes de 36 pessoas que morreram no campo: 32 portugueses, dois guineenses e dois angolanos.
Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, desde 2000 alberga o Museu da Resistência e em 2004 foi classificado Património Cultural Nacional e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.
A Semana com Lusa
19 de Março de 2024
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