De todos aqueles que passaram pela cena política portuguesa desde a revolução do 25 de Abril de 1974, Mário Soares foi, sem dúvida, o mais notável: fundador e primeiro secretário-geral do Partido Socialista, primeiro-ministro por três mandatos (1976-1979, 1983-1985), Presidente da República em dois (1986-1996), é por muitos considerado o "pai da democracia portuguesa" e foi o grande obreiro da adesão do país à então Comunidade Económica Europeia (CEE), antecessora da União Europeia, que se concretizou a 1 de janeiro de 1986. Nas décadas que antecederam a revolução, foi uma das mais destacadas figuras de oposição ao regime, tendo sido várias vezes preso, deportado e exilado
No discurso na Assembleia da República, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa lembrou "a paixão política, a coragem, a visão antecipada, a capacidade de mobilização e a capacidade de aproximar as pessoas" e lembrou "uma vida singular, irrepetível no seu tempo histórico".
Da campanha que o levou ao Palácio de Belém em 1986 ficou, para sempre, o slogan "Soares é fixe".
Regressou à ribalta política em 1999, quando foi eleito para o Parlamento Europeu e tentou, sem sucesso, um terceiro mandato presidencial em Portugal em 2006.
Falecido em 2017, faria este sábado, se estivesse vivo, 100 anos. O atual poder político português não quis deixar a data em branco e organizou, esta sexta-feira, uma sessão solene de homenagem, com honras militares, presença de convidados de todos os quadrantes políticos e discurso do Presidente da República. Uma cerimónia marcada pela presença de alguns dos nomes mais falados para ocupar o lugar que foi de Soares, após as presidenciais que irão decorrer em 2026.
O primeiro-ministro Luís Montenegro homenageou o antecessor através de um artigo publicado no jornal Público, em que expressa "respeito pelo legado político, gratidão pelo contributo para a democracia e admiração pela coragem política".
No artigo, Montenegro recorda o episódio do comício na Fonte Luminosa (Lisboa) em 1975, em que alertou para o perigo de Portugal se vir a tornar uma ditadura de extrema-esquerda no período conturbado do pós-revolução. Exemplo de moderação política, foi tão ativo na luta pela democracia no tempo do regime ditatorial como na luta pelo estabelecimento de uma democracia multipartidária de modelo ocidental nos anos que se seguiram à revolução de 1974.
No discurso na Assembleia da República, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa lembrou "a paixão política, a coragem, a visão antecipada, a capacidade de mobilização e a capacidade de aproximar as pessoas" e lembrou "uma vida singular, irrepetível no seu tempo histórico".
Já o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, anunciou para breve a inauguração de um busto de Mário Soares na Sala do Senado.
Para Joaquim Vieira, jornalista e autor da mais completa biografia do antigo chefe de Estado, "o legado de Mário Soares é, sobretudo, o legado da liberdade, pela qual sempre lutou, antes e depois do 25 de Abril. Pensava sempre pela própria cabeça, independentemente do que os outros lhe diziam, e isso foi fundamental na luta que teve para instaurar um regime democrático em Portugal. Nessa luta, Mário Soares está, sem dúvida, no primeiro lugar", disse à Euronews.
Joaquim Vieira conheceu Mário Soares quando ambos eram exilados políticos em Paris e lembra que Soares o ajudou então a obter o estatuto de refugiado político: "Ajudava todos os exilados".
Se a biografia que escreveu foca não só os aspetos mais positivos como também os menos lisonjeiros da vida de Mário Soares, como as polémicas com os financiamentos partidários ou a atribulada vida amorosa do líder político, Vieira garante que Soares nunca lhe guardou rancor: "Sempre aceitou falar comigo, foi sempre afável. Não gostou da biografia e tivemos então um desentendimento, mas passado pouco tempo, voltou a falar comigo como se tudo estivesse esquecido". "Dava sempre um passo em frente e estendia a mão aos adversários", conclui o biógrafo.
A Semana com Euronews
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