O presidente do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) defendeu um reforço financeiro da instituição para que possa cumprir, 35 anos depois da sua criação, o papel de divulgação do português reconhecendo as suas variações.
Criado em 01 de novembro de 1989, o IILP é uma instituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com sede na Praia, Cabo Verde e com autonomia de funcionamento.
“Há 35 anos criámos esta instituição única no panorama da gestão das línguas”, algo que não existe para o inglês, francês ou espanhol, de “gestão multilateral da língua” – ou seja, o português é parte de diferentes países e o IILP é a ferramenta, ainda pouco aproveitada, para gerir estas diferentes dimensões.
“Se queremos, de facto, que a instituição possa cumprir esse papel, é necessário pensarmos em reforçar os seus recursos”, referiu.
As contribuições ordinárias dos Estados-membros rondam 310.000 euros por ano e só graças a parcerias para novos projetos com alguns do estados é que a verba conseguiu ascender, em 2024, a 800.000 euros.
“É uma diferença substantiva, temos uma margem muito grande de financiamento diretamente vocacionada para projetos, permitindo uma ação muito mais abrangente e válida, sem descartar a necessidade de rever as contribuições ordinárias, indicou.
Criado em 01 de novembro de 1989, o IILP é uma instituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com sede na Praia, Cabo Verde e com autonomia de funcionamento.
Segundo João Neves, o IILP está a incrementar projetos, nas ruas e com academias, porque há desafios “que não se resolvem de forma isolada”.
A evolução da inteligência artificial serve de exemplo, “pela magnitude do desafio de se constituírem acervos, bases de dados e ferramentas que permitam contrabalançar a hegemonia do inglês” no processamento das línguas naturais.
“Dificilmente o faremos com uma estratégia isolada”, referiu, defendendo que o português só tem a ganhar com uma gestão que reconhece as variações da língua (pluricêntrica), sem pôr em causa a sua unidade.
A Internet e novas tecnologias são outros desafios que pedem uma visão pluricêntrica, assim como o português como língua cientifica ou em organizações multilaterais como a ONU, apontou.
Segundo o presidente, um exemplo do que o IILP pode fazer está relacionado com novas palavras (léxico) criadas em Portugal ou no Brasil e que passam a constar nos dicionários e aferir se são reconhecidas nos outros países e vice-versa.
É uma reflexão em curso, “em busca de mecanismos, formas de articulação, de consensualização”, que deixem ser apenas bicêntricas, em matéria lexical como em tantas outras, até no ensino, disse.
João Neves defendeu que o IILP pode ainda aproveitar convites em aberto para feiras do livro internacionais – além das representações habituais de Portugal e Brasil – e apresentar novas obras e autores de outros países, dando maior projeção à língua.
“Se nós dizermos que o pluricentrismo é esse reconhecimento da voz de uma determinada comunidade, que moldou a língua portuguesa, que a constrói e projeta nela a sua identidade, então temos de encontrar mecanismos que permitam que essa singularidade possa ter expressão”, precisou.
O IILP tem mais de 30 projetos em curso e poderá superar 50 no próximo ano – alguns dos quais desmultiplicando-se noutras ações locais.
Como centro de formação especializada, o IILP oferece formação gratuita para professores e outros grupos profissionais que trabalham com a língua portuguesa, incluindo um portal usado em mais de 70 países, que disponibiliza recursos pedagógicos, com mais de um milhão de visitantes.
Outros tipos de formação envolvem terminologia, literatura pluricêntrica ou Internet multilingue, áreas em que há também projetos a decorrer com universidades e discussões em aberto, por exemplo, sobre como reforçar a produção ‘online’ de conteúdos de valor, em português.
Outra vertente do plano em curso envolve uma aproximação à sociedade civil.
“O IILP estava arredado da rua, quando muito lidava um pouco com a comunidade académica”, mas “não há língua sem rua” e a organização partiu “à procura dessas organizações, que trabalham com a língua no terreno, em condições muitas vezes difíceis”.
Foi instituído um fundo de apoio a pequenos projetos, que suporta atualmente 14 iniciativas, em oito países: “a maior satisfação é que 65% decorrem fora das cidades capitais”, dando acesso a literacia ou tecnologias, criando impacto com pouco dinheiro, disse.
Neste âmbito há ainda apoio à organização de congressos e bolsas com que jovens investigadores já conseguiram apresentar ciência em português (uma área a exigir atenção, diz João Neves) em palcos internacionais a que não costumam ter acesso.
“O IILP está, devagarinho, a esticar-se mais no terreno, sobretudo junto da sociedade civil e não apenas junto da comunidade académica”, disse.
“Estamos a falar de um universo quase inesgotável de pessoas, não só aquelas que já conhecem, mas aquelas que querem aceder à língua”, referiu João Neves, dizendo que há muita margem para crescer.
“Hoje em dia ainda não temos uma oferta de língua portuguesa que consiga chegar a contextos economicamente frágeis, onde as pessoas não têm dinheiro para estar a pagar cursos, que são muito caros”, lamentou.
No espaço da CPLP, há países “onde a presença da língua é massiva do ponto de vista da população”, mas noutros “há uma progressiva margem para crescimento”, sobretudo olhando para as projeções do crescimento demográfico.
A Semana com Lusa
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