A Polícia moçambicana lançou hoje gás lacrimogéneo contra o local onde o candidato presidencial Venâncio Mondlane fazia declarações aos jornalistas, a apelar à calma no âmbito da marcha que convocou, obrigando o político a fugir
O candidato falava com os jornalistas junto à rotunda da Organização das Mulheres Moçambicanas, no início da Avenida Joaquim Chissano, no centro de Maputo.
Os manifestantes que se encontravam no local estavam a tentar fazer um cordão humano, mas a polícia voltou a lançar gás lacrimogéneo.
Venâncio Mondlane estava a prestar declarações aos jornalistas e foi obrigado a fugir.
Um jornalista foi ferido nesta ação depois de outro ter também ficado ferido na carga policial que ocorreu ao início da manhã.
Nas declarações, o candidato presidencial condenou a carga policial sobre os manifestantes, considerando que “é muito triste” esta “violência gratuita” da polícia.
“A população queria pura e simplesmente fazer uma manifestação pacífica, uma manifestação sem violência e a polícia está a reagir desta maneira. Eles matam as pessoas, roubam-nos e ainda por cima, quando nós queremos fazer o uso de um direito constitucional básico que é mostrarmos o nosso repúdio pela violação dos nossos direitos, a reação é esta”, referiu.
Mondlane fez ainda um apelo à população para que vá para casa.
“Queria apelar a todo o mundo, não vamos confrontar-nos com a polícia, vamos para casa, queria exortar todo o mundo a ir para casa. Penso que hoje já foi um grande sucesso, já se mostrou que é possível paralisar o país por um dia”, disse Mondlane, elogiando “a cultura cívica dos moçambicanos”.
O candidato presidencial prometeu que vai continuar os protestos e que a marcha de hoje “foi apenas a primeira etapa”.
“Foi apenas um dia, chegará a altura em que será possível paralisar o país por três, quatro, cinco dias. O país vai entrar no colapso”, disse.
Mondlane felicitou o povo moçambicano porque “hoje pelo menos 95% da atividade laboral está interditada”, no âmbito da greve geral que havia convocado.
Cerca das 10:00 locais (09:00 em Lisboa), a polícia dispersou a manifestação no centro de Maputo convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane repudiando o homicídio de dois apoiantes, carregando sobre dezenas de pessoas que se concentraram no local, que responderam com o arremesso de pedras e com o lançamento de artefactos pirotécnicos.
Os confrontos entre a polícia e os manifestantes começaram cerca das 07:30, com a força policial a dispersar os grupos que se começavam a juntar para participarem nas marchas pacíficas.
A polícia está também a recorrer a elementos com cães e um helicóptero estava a sobrevoar a baixa altitude na zona da saída da marcha, o local do duplo homicídio de sexta-feira.
Os manifestantes gritavam palavras de ordem como “Salvem Moçambique” e “Este país é nosso”.
As marchas pacíficas foram convocadas por Venâncio Mondlane, no sábado, no local em que dois apoiantes foram assassinados, referindo que a greve, no setor público e privado, que tinha pedido para hoje, em contestação aos resultados preliminares das eleições de 09 de outubro, era para manter, passando agora para a rua, e responsabilizou as Forças de Defesa e Segurança (FDS) pelo duplo homicídio.
A polícia moçambicana confirmou no sábado, à Lusa, que a viatura em que seguiam Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoia Mondlane, mortos a tiro, foi “emboscada”.
O crime aconteceu na avenida Joaquim Chissano, centro da capital, e segundo a polícia uma mulher que seguia nos bancos traseiros da viatura foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada para o hospital.
A polícia moçambicana avisou, antes do duplo homicídio que levou à convocação da marcha, além da paralisação, que vai travar qualquer ato de violência e desordem pública que ocorra hoje.
As eleições gerais de 09 de outubro incluíram as sétimas presidenciais - às quais já não concorreu o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite de dois mandatos - em simultâneo com legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, data que se cumpre em 24 de outubro, cabendo depois ao Conselho Constitucional a proclamação dos resultados, após concluir a análise, também, de eventuais recursos, mas sem prazo definido para esse efeito.
A Semana com Lusa
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