Emanuel Mendes, 52 anos, é um dos 60 vigilantes que ficam ao pé de contentores de lixo na capital cabo-verdiana, Praia, para acabarem com resíduos despejados no chão, atos de vandalismo e outras infrações.
"Este trabalho de vigilância serve para sensibilizar as pessoas, para colocarem o lixo nos contentores e não no chão", descreve à Lusa, no bairro da Fazenda, na cidade da Praia, numa altura em que a epidemia de dengue terá atingido o pico no país, concentrada sobretudo na capital.
A pouco menos de uma distância de 100 metros de três contentores, Emanuel é facilmente identificado por um colete verde, onde está escrito "vigilantes da Câmara Municipal" nas costas e que começaram a surgir nos últimos dias.
Para evitar o sol, senta-se todos os dias num tronco, sob uma árvore, com uma garrafa de água e controla todos os que aproximam do contentor, principalmente quem vai despejar o lixo.
"Antes havia lixo espalhado pelas ruas. Numa cidade, não fica nada bonito", disse, mas desde que os vigilantes entraram em ação, mesmo que tenha sido só há poucos dias, "os contentores estão mais organizados", sem resíduos atirados ao chão ou catadores e cães a tombá-los e a revolvê-los, em plena via pública, espalhando o lixo pelas ruas.
Em Cabo Verde, "as pessoas têm o hábito de deixar o lixo ao pé dos contentores", mesmo quando não estão cheios, um problema, sobretudo numa altura em que o país conta com duas mortes e mais de 8.000 casos acumulados de dengue, desde há um ano, concentrados na capital (75% dos casos).
O lixo é um dos locais propícios para a propagação do mosquito que espalha o vírus da dengue.
Há duas semanas, o presidente da Câmara Municipal da Praia (CMP), Francisco Carvalho, anunciou que cerca de 60 vigilantes iam ser colocados ao lado de contentores na capital, para travar vandalismo e para combater o despejo indevido.
Houve diferentes reações, especialmente nas redes sociais, contra e a favor, questionando o trabalho do sistema de recolha, parodiando a opção ou considerando-a pertinente: a página intitulada "Provedor da Praia", conhecida no Facebook como um radar à cidade, tem defendido medidas "repressivas" para a "incivilidade", ilustrada com banheiras antigas ou até tanques de betão abandonados ao lado de contentores apinhados de lixo.
De olho em clientes específicos está Guilherme Tavares, 21 anos, em Chã de Areia.
Além de evitar que o lixo seja despejado de forma indevida, impede que os contentores fiquem sobrelotados com os resíduos sólidos que chegam das lojas nas imediações.
É preciso vigiar e conversar, manter o posto, exceto numa hora especial: Por volta das 13:00 procura nas redondezas "qualquer coisa para comer" ou vai a casa e regressa às 15:00.
"Eu decidi vir [trabalhar] para não ficar em casa, sem nada por fazer", justificou.
Emanuel Mendes, vigilante na Fazenda, já tinha "perdido a esperança" de um dia ter trabalho e está contente por vigiar contentores, um trabalho das 09:00 às 18:00, sem direito a fins de semana.
Recebe 24 mil escudos (217 euros), importante para sustentar a família, diz.
"No primeiro dia [de trabalho], encontrei este lugar cheio de lixo no chão. Agora já não está assim", aponta à Lusa outra vigilante, Loriana Garcia, 26 anos, sentada num passeio, à beira da estrada, de olhos postos nos contentores num local movimentado da Achada de Santo António.
Depois de serem abordadas, as pessoas "colaboram bastante".
"Quando veem que estou aqui, já não colocam o lixo no chão", contou, ao aproximar-se para ajudar uma criança que não chegava ao cimo do contentor para deitar o lixo.
Segundo Loriana, para muitos a "iniciativa é boa e aplaudida", mas "para alguns, é motivo de chacota".
Mesmo assim, sente-se "sempre respeitada".
A Semana com Lusa
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