A Biosfera, associação ambiental cabo-verdiana, estima que 1.090 tartarugas tenham desovado, este ano, na única ilha desabitada do arquipélago, um pouco mais que em 2023, apesar de enfrentarem cada vez mais riscos para chegarem às ilhas.
“As tartarugas continuam a sofrer no mar, porque está a aumentar a pesca fantasma e o ‘by-catch’”, explicou à Lusa a bióloga Zuleica Duarte, membro da Biosfera.
A pesca fantasma acontece quando a tartaruga fica presa em redes descartadas no mar ou noutro tipo de detritos à deriva, enquanto o termo inglês ‘by-catch’ é usado quando são capturadas inadvertidamente com outros peixes.
“As tartarugas continuam a ser afetadas” mas, ainda assim, a estimativa daquelas que visitam a ilha de Santa Luzia registou um ligeiro aumento, segundo os dados divulgados pela Biosfera, relativamente à temporada deste ano, entre maio e setembro.
“Nos últimos anos temos tido um aumento do número de desovas de tartarugas”, mas longe do “boom” de 2021, explicou Zuleica Duarte, clarificando que as tartarugas marinhas “não visitam as praias todos os anos: têm de fazer repouso, porque é bastante cansativo” percorrer os areais duas a sete vezes, por temporada.
Várias ilhas de Cabo Verde recebem tartarugas marinhas.
A Biosfera cuida das que passam por Santa Luzia, que tem a particularidade de ser a única ilha desabitada do arquipélago, e por São Vicente, oito quilómetros a poente, a segunda mais povoada de Cabo Verde, com 76.000 habitantes.
“Este ano temos uma estimativa de que cerca de 1.090 tartarugas adultas foram para as praias da ilha de Santa Luzia, desovar” e que São Vicente terá sido escolhida por 222.
As estimativas de 2023 apontaram para 1.086 tartarugas em Santa Luzia e 175 em São Vicente.
A visita destas tartarugas levou à identificação de cerca de 5.500 ninhos em Santa Luzia e 1.100 em São Vicente.
Se, por um lado, os ninhos e rastos de tartarugas aumentaram, apesar dos obstáculos detetados no mar, o total de voluntários em terra tem descido.
No caso das atividades em Santa Luzia, um dos motivos para travar a adesão “pode ser a permanência mínima na ilha, de duas semanas”.
“Continuamos a apelar para que nos ajudem. Não conseguimos fazer este trabalho sem a ajuda de voluntários e monitores”, referiu Zuleica Duarte.
Em terra, na ilha de São Vicente, há outras ameaças à espreita: “o maior desafio foram os cães”, que atacaram nove tartarugas.
Foi preciso colocar 14 pessoas a fazer vigilância nas praias, porque houve ataques de cães “quase todos os dias”.
Outra ameaça é a caça, que é ilegal, com três capturas registadas, mas a suspeita de que outros casos passam despercebidos.
Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas em 1987, proibindo a captura em época de desova.
A lei prevê outros tipos de crime desde 2018, nomeadamente o abate intencional, bem como a comercialização, transporte e consumo.
Os números divulgados pela Biosfera dizem respeito à tartaruga Caretta caretta, uma espécie emblemática e globalmente ameaçada, sendo Cabo Verde o segundo local de concentração mais significativo do Atlântico Norte.
Em Santa Luzia, foi também detetada a tartaruga-verde e tartaruga-oliva, registos que a Biosfera está ainda a tratar, referiu Zuleica Duarte.
A associação tem, desde julho, um viveiro na praia de Salamansa, na ilha de São Vicente, para onde já transladou 80 ninhos que estavam em zonas de risco (por causa do mar ou cães), com o objetivo de aumentar a taxa de eclosão.
De metade deles já saíram 1.631 pequenas tartarugas, acrescentou.
Ao mesmo tempo, o espaço serve para recolha de dados num estudo sobre a influência da temperatura do ninho na definição do sexo das tartarugas.
“Com o aumento de temperatura, a tendência é de nascerem mais fêmeas que machos”, explicou Zuleica Duarte, pelo que o estudo vai avaliar se a colocação de ninhos à sombra “vai aumentar o número de machos”.
Os dados devem ser processados até final do ano.
A Semana com Lusa
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