sexta-feira, 11 outubro 2024

Os limites de certezas

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A moral que nos vincula, todavia, nos adstringe as aventuras da existência. Quem tem prescrições morais como certezas torna-se cativo\a do prescrito e se esquece de sondar o mais, reprimindo até a imaginação. Moral: o “conjunto de valores, individuais ou coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens” (Houaiss). O busílis está no “universalmente”.

Por Léo Rosa de Andrade*

 

No Facebook, a frase de Nietzsche extraída de Assim Falava Zaratustra: “Homens convictos são prisioneiros”. Do que seria prisioneira a pessoa convicta? Seria prisioneira dos limites da sua convicção.

Convicção é opinião assentada a respeito de alguma coisa. Nietzsche falava de convicções que opinioso\as adquirem e às quais se apegam obstinadamente: convicções (ideológicas) de pensamento.


Adriano Gregório comenta a publicação. Edito: “convicções como certezas inflexíveis certamente inviabilizam transição de ideias, então, barram a chegada do super-homem proclamada por Zaratustra.


Ocorre que são opiniões arraigadas que nos permitem acordar todos os dias e não encarar cada minuto de nossa existência como uma infinidade assustadora de possibilidades. Carecemos da certeza cotidiana. Uma vida com ausência de certezas tem o fio de realidade no qual nos sustentamos rompido, e o que sobra é obviamente loucura. Assim, certezas são essenciais ao desenvolvimento da vida humana”.


Gregório se modula: “O problema não está em sustentar uma convicção, mas em nutri-la como verdade absoluta. Certezas engessam aqueles que se apegam a elas tão fortemente que, sem elas, não existiriam”. Então remata com uma hipótese que, conjecturo, Zaratustra avalizaria: “Quem sabe se certeza significasse a ausência de uma melhor e mais sólida opinião, aí faríamos das barras da prisão uma escada”.


O comentário polemiza tema central em Nietzsche: as formatações ideológicas – as religiosas sobretudo – condicionam o humano a viver os valores morais circulantes sem indagá-los e, pior, convicto deles. A moral estabelecida é mesmo um “conforto” existencial.

 

Ela nos dá as certezas de que precisamos para tocar a vida. Forma as balizas do bem e do mal. É como uma fórmula oferecida pelo\as “sábio\as do mundo”.


A moral que nos vincula, todavia, nos adstringe as aventuras da existência. Quem tem prescrições morais como certezas torna-se cativo\a do prescrito e se esquece de sondar o mais, reprimindo até a imaginação. Moral: o “conjunto de valores, individuais ou coletivos, considerados universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta dos homens” (Houaiss). O busílis está no “universalmente”.


Sistemas de valores são objeto de estudo da ética. A ética investiga os sentidos dos preceitos morais, buscando compreender as razões de sua validade.

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*Doutor em Direito pela UFSC.Psicanalista e Jornalista.

 

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