Pirinha era um rebuçado que Natasha Craveiro comprava quando era criança e que agora dá nome a um filme, com antestreia hoje e que alerta para a amargura do abuso de menores em Cabo Verde.
“Pirinha era um rebuçado da minha infância”, recorda a realizadora, natural da ilha de São Vicente, indicando que era um doce que comprava com dinheiro oferecido pela avó e que era “uma coisa boa, a inocência da infância”.
“Sendo um filme que trata um assunto sério, eu quis dar um nome que destoasse dessa problemática [de abuso de menores]. O nome é o que deve ser a infância, deve ser ´pirinhas’, não abusos”, reforçou a realizadora, em entrevista à Lusa, na cidade da Praia.
Esta é mais uma produção da KoriKaxoru Filmes, com antestreia hoje, no salão nobre da Assembleia Nacional, na Praia.
"Pirinha" é uma viagem de uma jovem mulher “às masmorras” do seu subconsciente para se encontrar e libertar de traumas da infância, contou a realizadora.
Nessa viagem, prosseguiu, a jovem tenta perceber porque é que tem uma doença mental para, eventualmente, “chegar à cura”, mesmo encontrando “de tudo”, desde boas e más recordações, medos e “coisas que ficam escondidas”.
Segundo a realizadora, o filme fala ainda da importância da memória, neste caso de “memórias afetivas”, para a vítima se libertar “dos abusadores”, mas não abre o véu sobre o fim da história.
“Nessa parte, eu convido as pessoas a irem ver, para saberem qual é o desfecho”, riu-se.
Produzido por Emília Wojciechowska, o filme foi rodado na ilha de Santiago, é falado em crioulo e acompanhado por música cabo-verdiana.
Toda a equipa é cabo-verdiana e todas as fases de produção tiveram lugar no arquipélago.
O elenco é composto por Luciény Kaabral, Paola Rodrigues, Vicência Delgado, Rosy Timas, Mayra Almeida e Rony Fernandes, todos a dar os primeiros passos no cinema.
Natasha Craveiro salientou que estes atores amadores não têm “todas as artimanhas” dos profissionais, mas a vantagem é que oferecem uma “magia” e uma “inocência” que dão um sabor particular ao filme.
Na entrevista à Lusa, a realizadora considerou que Cabo Verde regista uma dinâmica “muito interessante” na área do cinema e as condições estão a ser criadas para a evolução do setor.
“Há mais pessoas a querer fazer filmes, há pessoas com mais vontade em contar as nossas histórias”, sustentou, avançando que chegar às salas de cinema continua a ser o “grande sonho” de qualquer realizador, mas abrem-se novos meios, através do ‘streaming’ nas plataformas digitais.
“Uma pessoa, quando faz um filme, quer que o mundo o veja, então todos os canais são bem-vindos”, afirmou, na entrevista à Lusa.
A antestreia de "Pirinha" está enquadrada no programa de comemoração do mês da Europa, e conta com apoio da União Europeia, da Agência Espanhola de Cooperação Internacional, da Organização das Nações Unidas em Cabo Verde e da Cooperação Luxemburguesa.
A entrada é livre (20:00 locais, 22:00 em Lisboa), mas mediante inscrição prévia nas plataformas digitais que promovem a película.
Depois da capital do país, o filme vai ser exibido, em agosto, na Suíça, para, no mês seguinte, ir ao Brasil, e os seus autores querem levá-lo a todas as ilhas de Cabo Verde, para continuar a chamar a atenção para o drama dos abusos de menores.
A Semana com Lusa
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