O ex-cozinheiro e guarda auxiliar no Campo de Concentração de Chão Bom, diz ter o “sentimento de dever cumprido” e feliz por esta época que “uniu” Cabo Verde, Guiné, Angola e Portugal.
Fabrício Tavares, mais conhecido por Fafá, falava em entrevista à Inforpress nas vésperas da comemoração dos 50 anos da Revolução de 25 de Abril, conhecida também como Revolução dos Cravos.
Fafá tem hoje 82 anos e recorda com lucidez e alegria a época em que trabalhou no Campo de Trabalho/Campo de Concentração (quase seis anos), antiga prisão portuguesa construída no ano de 1936, no Tarrafal de Santiago.
Em declarações à imprensa, o ex-funcionário do Campo de Concentração fala com “orgulho” da época em que esteve no local, considerando que havia uma relação de companheirismo e amizade entre os presos e os colaboradores, uma época que segundo o mesmo também foi marcada por vários momentos de solidariedade.
Aliás, Fafá ressaltou que a ideia que todos os que não estiveram no Campo de Concentração partilhavam na época era que os presos sofriam maus tratos, mas para ele, o que recorda é de “bons momentos e tranquilidade”, embora, sublinhou que alguns dos presos viviam angustiados.
Já no seu caso recordou que brigou na prisão, mas que foi uma única vez.
Antes de entrar no Campo de Trabalho como cozinheiro e depois guarda prisional, contou que esteve a prestar o serviço militar obrigatório, mas não chegou a cumprir todo este tempo, porque a sua mãe tinha uma perna amputada, tendo o seu pai solicitado que fosse aliviado este tempo e a resposta foi favorável.
Questionado sobre as condições alimentares e de sobrevivência na época, disse que dentro das condições e limitações financeiras que a época permitia a situação era favorável num quadro de luta contra a pobreza, permitindo a todos se alimentarem, pese embora, reforçou que os presos políticos também tinham alimentação garantida.
Hoje diz com orgulho que o sentimento é de “dever cumprido” e se fosse morrer hoje, falecia “contente”, porque fez tudo o que estava ao seu alcance e cumpriu a sua missão nos quase seis anos de serviço no local.
O Campo de Concentração segundo o mesmo é um símbolo incontornável que uniu Cabo Verde, Guiné, Angola e Portugal, os presos tiveram uma missão que foi lutar pela paz, reforçando que sem a paz o mundo e o ser humano não são nada.
Neste sentido, este tarrafalense augura que a paz prevaleça, sempre, passados 50 anos do 25 de Abril de 1974 e o encerramento do Campo de Concentração de Tarrafal a 01 de Maio do mesmo ano.
A Semana com Inforpress
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