A Venezuela instou o Brasil a deixar de imiscuir-se em assuntos dos venezuelanos, perante crescentes tensões com Brasília, que não reconhece a reeleição de Nicolás Maduro nas presidenciais de 28 de julho.
“O Governo bolivariano exorta, uma vez mais, à burocracia do Itamaraty [diplomacia do Brasil] a não se intrometer em assuntos que só dizem respeito aos venezuelanos, evitando deteriorar as relações diplomáticas entre os dois países, para o que deve assumir uma conduta diplomática profissional e respeitosa, como a Venezuela tem demonstrado através da sua política externa” afirmou, no sábado.
Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Venezuela acusou a diplomacia do Brasil de “tentar enganar a comunidade internacional” e atuar em “caráter de vitimários”.
“A Venezuela tem demonstrado, através de denúncias públicas, com dezenas de provas, como o Itamaraty tem empreendido uma flagrante e grosseira agressão contra o Presidente Constitucional, Nicolás Maduro Moros, as instituições e poderes públicos, assim como a sociedade venezuelana”, afirmou.
Segundo Caracas, o Brasil mantém “uma campanha sistemática” contra a Venezuela, “que viola os princípios da Carta das Nações Unidas, como a soberania nacional e a autodeterminação dos povos, violando inclusive a própria Constituição brasileira em seu mandato de não ingerência nos assuntos internos dos Estados”.
Em 29 de outubro, o assessor para assuntos internacionais do Governo brasileiro, Celso Amorim, declarou que nas eleições venezuelanas “não foi respeitado o princípio da transparência”, razão pela qual não pode reconhecer a vitória de Maduro.
Amorim, que foi o chefe da diplomacia durante os dois primeiros mandatos do atual Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, compareceu na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados para explicar a posição do Brasil em relação ao processo eleitoral venezuelano.
O assessor explicou que, nas suas tentativas de mediação, o Brasil tem-se pautado pelos princípios da “defesa da democracia, da não ingerência nos assuntos internos e da resolução pacífica das controvérsias”.
No entanto, Amorim sublinhou que, como não foram publicados os resultados detalhados das eleições na Venezuela, nas quais as autoridades eleitorais proclamaram a vitória de Maduro, “o princípio da transparência não foi respeitado”.
O assessor enfatizou que, por isso, o Brasil não reconhece nem o resultado nem a vitória que a oposição atribui ao seu candidato presidencial, Edmundo González Urrutia, exilado em Espanha.
O presidente do parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez, emitiu um comunicado na rede social Instagram a acusar Celso Amorim de ser “um agente” dos Estados Unidos e de querer manchar as eleições presidenciais.
Em 30 de outubro a Venezuela convocou o embaixador no Brasil, Manuel Vedell, para consultas, em resposta às declarações de Celso Amorim.
A tensão com a Venezuela piorou na semana passada, quando o Governo liderado por Lula da Silva se recusou a aceitar a Venezuela como novo membro associado do fórum BRICS, fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Essa posição foi considerada pela Venezuela como uma agressão e um gesto hostil, que enquadrou na “política criminosa de sanções que foram impostas contra um povo corajoso e revolucionário, como os venezuelanos”.
A Semana com Lusa
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