O presidente da Câmara de Turismo de Cabo Verde, Jorge Spencer Lima, defendeu ontem em entrevista à Lusa a demolição de projetos turísticos abandonados, caso não haja respostas por parte dos promotores.
“Em todo o lado temos projetos inacabados”, referiu, no que classifica como uma “pouca-vergonha”, com betão e restos de construções ao abandono a proliferar pela paisagem de diferentes ilhas e povoações.
“Já chegou a hora de o Governo sentar-se à mesa com os promotores, questionar, saber o que se pode fazer para ajudar e, se [os projetos] não são para ser recuperados, vamos demolir e limpar aquela área”, disse.
Questionado sobre se não será uma solução radical, Spencer Lima pensa que não, porque nada acontecerá sem se tentar o diálogo com quem lançou o betão.
Caso nada aconteça, o presidente da Câmara de Turismo considera importante “limpar aquelas áreas e partir para outra”, expressão com que pretende significar um “virar de página” que acompanhe o crescimento do setor, que representa cerca de um quarto da riqueza do país.
“Pelos contactos que temos feito, o ano de 2023 foi muito positivo”, superando a estimativa típica atribuída a Cabo Verde de 800 mil turistas por ano, tornando plausível que se alcance a meta de 1,2 milhões por ano até 2026, referiu, em linha com projeções do Governo.
O arquipélago tem potencial para chegar lá, o que seria um “recorde absoluto”, mas o problema “é a capacidade de acolhimento”.
“Os hotéis já estão praticamente todos a 100%. Estamos a colocar a fasquia alta, mais 50% de turistas e ninguém fala de aumentar infraestruturas. Com os mesmos hotéis e estruturas de base, não temos hipótese”, referiu.
Spencer Lima acrescentou que os últimos governos, não importa o partido, têm dotado o país com obras públicas importantes: “estamos contentes, mas vamos exigir que se faça mais”.
O Governo entregou, em 2023, a concessão dos serviços aeroportuários à multinacional Vinci, que em troca promete modernizar os aeroportos, a partir deste ano (80 milhões de euros na primeira fase de investimento), estando criada a expetativa de que o país conquiste mais voos e turistas.
“É ver para crer”, disse Spencer Lima.
“O Governo vendeu-nos um produto, tenho de dar tempo para ver se o produto está certo”, alinhado com o que foi anunciado, referiu à Lusa o antigo administrador dos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV).
Segundo diz, é preciso “deixar a Vinci trabalhar”, assinalando um dos pontos que considera essenciais: “falou-se muito da vinda de operadores ‘low cost’, vamos esperar para ver”.
As companhias aéreas de baixo custo vendem bilhetes a preços mais baixos que as marcas tradicionais, o que, segundo Spencer Lima, teria um efeito positivo não só para o turismo, mas para toda a população.
“Estamos a viajar para o exterior a preços exorbitantes”, concluiu.
Demolir projetos abandonados e construir alojamento e infraestruturas, que acompanhem o aumento de turistas, são medidas que devem ser complementadas com atenção aos detalhes.
Spencer Lima não vislumbra uma solução para as dificuldades crónicas em ligar as ilhas, seja por mar ou por terra, mas o dirigente gostava de “sentar à mesa todos os intervenientes do setor, operadores hoteleiros, restaurantes, transportes aéreo e marítimo e Governo”.
O momento exige concertação porque “o turista não vive só na praia e nos hotéis” e é preciso investir em estradas e noutros percursos, para o turismo não ficar “acantonado nas ilhas do Sal e Boavista”, as que mais estrangeiros recebem.
A Semana com Lusa
15 de Fevereiro de 2024
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