O presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, lamentou hoje a forma como se demitiu o seu Conselheiro Especial, expondo as razões numa carta ao invés de falar com ele.
O chefe de Estado reagiu, à margem de uma visita ao Mercado Central de Bissau, à carta de demissão que lhe foi dirigida pelo antigo primeiro-ministro Nuno Nabiam, divulgada hoje com as razões que o levaram a abandonar o cargo.
“Lamento a carta que ele fez, porque tem acesso a mim”, disse o chefe de Estado aos jornalistas, acrescentando que não esperava da parte do conselheiro demissionário a atitude de escrever e tornar pública a carta.
“Eu também posso ter coisas que não gostei da parte dele, mas prefiro manter-me, chamá-lo para falarmos”, acrescentou.
Sissoco Embaló lembrou que também ele no passado, enquanto primeiro-ministro, pediu a demissão ao então Presidente, José Mário Vaz, mas sem elencar as razões.
O Presidente da República diz que tem uma postura diferente e deu como exemplo o caso em que o Ministério Público notificou Nuno Nabiam, na sequência das denúncias que fez, há mais de um mês, na qualidade de presidente da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), sobre a existência de droga no país.
“Não pude aceitar que ele vá responder à justiça. Até hoje tenho comigo a carta que o Ministério Público me mandou a pedir a minha autorização para que vá responder. É o meu conselheiro. Tenho ainda a carta comigo. Falei com o Procurador-geral da República na concertação que temos, disse-lhe que esperasse, porque cada um tem o seu temperamento”, afirmou o chefe de Estado.
Sissoco Embaló referiu que, desde 2014, quando Nuno Nabiam quis entrar para a política, que os dois andam juntos, pelo que lamentou a carta de demissão e a publicação da mesma.
“Estamos juntos e vamos continuar juntos (…) vamos conversar”, acrescentou o Presidente.
O antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau Nuno Nabiam pediu demissão do cargo de Conselheiro Especial do Presidente da República, alegando discordância com a atuação do chefe de Estado.
Na carta datada de 16 de fevereiro, a que a Lusa teve hoje acesso, justifica a decisão com a “falta de diálogo”, “constantes interferências”, “assim como a tentativa de politizar e sequestrar as forças de segurança” por parte do Presidente da República.
Nuno Nabiam aponta a necessidade de marcação de eleições depois da dissolução da Assembleia Nacional Popular, em dezembro, e considera que o Presidente “não [se] mostrou aberto ao diálogo para a criação de condições para uma governação pacífica e estável do país”.
Nabiam refere, também, entre as razões para a demissão, “as constantes interferências” do Presidente “no funcionamento das instituições democráticas do país”, nomeadamente nos órgãos de soberania como o parlamento, Governo, Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Procuradoria-Geral da República e partidos políticos.
Aponta ainda a Umaro Sissoco Embaló “a tentativa de sequestrar e politizar as forças de segurança do país, apenas para cobrir interesses eleitorais, agindo como senhor absoluto”.
Nabiam refere, também, “discursos de intimidação e ofensa da moral pública” e “reiteradas violações dos direitos humanos, cometidas pelas forças palacianas contra as populações, sem direito de reivindicação”.
A Semana com Lusa
22 de Fevereiro de 2024
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