A Associação Moçambicana de Polícias defendeu a aproximação urgente entre a corporação e as comunidades, considerando que as autoridades foram colocadas à prova pelas manifestações que marcaram o país nos últimos três meses.
“É preciso, com urgência, que a polícia saia do escritório para a comunidade. Fazer entender às comunidades o que é o policiamento e qual é a sua importância. Tentar resgatar esta confiança (…) No seio da polícia, atualmente, há um nervosismo. Este nervosismo resulta do facto de a ação da polícia estar a atualmente beliscada”, disse à Lusa Nazário Muanambane, o presidente da associação.
Em causa está um clima de forte agitação social que Moçambique vive desde outubro, com protestos na rua que, quase sempre, culminam em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes, que já provocaram mais de 300 mortos e centenas de feridos a tiro por todo país, segundo a sociedade civil moçambicana, além de um rastro de destruição.
Para Nazário Muanambane, a forma como os protestos têm ocorrido provocaram um “nervosismo” na corporação e a polícia moçambicana enfrenta hoje um teste, com os líderes na corporação a exigirem uma postura, por vezes oposta aos interesses das comunidades, embora admita que haja também excessos por parte da população.
“O que a sociedade quer é respeito pelas liberdades das pessoas, mas estas liberdades acabam ultrapassando os limites (…) Por exemplo, recentemente, um agente da polícia foi apedrejado até à morte. Quando os colegas deste agente assistem a isso, qual reação que vão ter”, questionou.
Segundo Nazário Muanambane, em Moçambique, há uma tendência de olhar a polícia como “instrumento do partido no poder”, mas os agentes enfrentam os mesmos desafios que a comunidade.
“Os problemas que o cidadão comum passa são os mesmos por que o polícia passa, o custo de vida, os problemas dos transportes, são os mesmos problemas. O polícia vive na comunidade”, disse.
Nazário Muanambane defende a aproximação da corporação as comunidades, além de criticar uma alegada falta de responsabilidade dos intervenientes políticos moçambicanos, que acabam “incentivando a violência”.
Segundo dados avançados pelo ex-comandante-geral da polícia Bernardino Rafael, em 27 de janeiro, pelo menos 17 membros da polícia morreram 187 ficaram feridos durante as manifestações, que também provocaram a destruição de 77 comandos distritais da corporação.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
Atualmente, os protestos, em pequena escala, têm ocorrido em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
A Semana com Lusa
Terms & Conditions
Report
My comments