As palavras do ancião Raimundo Mura, de 73 anos — "Para defender nossa floresta, vou lutar até derramar minha última gota de sangue" — , expressam o sentimento de toda a aldeia, como relatado na reportagem sobre o povo Mura, totalmente ausente da imprensa brasileira.
Na última semana, pessoas da nação Mura mostraram à Reuters as centenas de hectares devastados pelo fogo nas áreas contíguas a uma das aldeias. Noutro povoado, a área circundando a floresta desapareceu arrasada pela maquinaria pesada de exploradores agrícolas e extratores de minérios.
A destruição dos territórios indígenas na Amazónia, processo acelerado desde janeiro corrente – que já atingiu 67 por cento, segundo dados do INPE-Instituto Nacional de Investigação Espacial —, é objeto de uma grande reportagem da Reuters que na semana passada visitou a região amazónica.
"Em cada novo dia vemos o avanço da destruição", disse Handerch Wakana Mura, líder de uma das aldeias, habitada por umas sessenta a setenta pessoas.
Em compasso com as preocupações climáticas, o chefe da aldeia expressa "tristeza" por ver que "está a morrer a floresta" da qual "o mundo precisa".
Quem são os Mura
Atual minoria ameaçada de extinção, a outrora próspera nação Mura conta hoje pouco mais de dez mil pessoas que habitam povoados sitos ao longo do complexo hídrico dos rios Madeira, Solimões e Purus.
Segundo descrição do ISA-Instituto Socioambiental "encontram-se dispersos em mais de 40 Terras Indígenas, em diferentes estádios de regularização fundiária, distribuídas pelos municípios de Alvarães, Anori/Beruri, Autazes, Borba, Carceiro da Várzea, Novo Aripuanã, Itacoatiara, Manaquiri, Manicoré e Uarini; todos situados no Estado do Amazonas”.
Fora dos registos contudo estarão os "assimilados" que, vivendo em centros urbanos — tais como Manaus, a capital estadual, Belém, a segunda cidade do Amazonas, e as sedes dos municípios referidos — , deixaram de manter estreitos vínculos com os moradores das aldeias situadas nos referidos territórios indígenas.
A primeira notícia da existência dos Mura parece ter sido a "Memória sobre o Gentio Mura, de 30 de Agosto de 1787" que resultou da expedição que a Coroa incumbiu a Alexandre Rodrigues Ferreira.
A designada Viagem Philosophica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato-Grosso e Cuiabá, conduzida por um naturalista e com meios logísticos do ministério do Ultramar sediado em Lisboa e da Capitania Geral no Brasil — incluindo uma comitiva de militares — , tinha um objetivo explícito e um oculto.
Explicitamente, a Viagem Philosophica iniciada em 1783 visava: "coletar, descrever, herborizar e taxidermizar animais, plantas, minerais, cultura material de várias etnias". Mas o ímplicito era o mais importante: delimitar as fronteiras em litígio com a Espanha e, na Guiana, com a França e Holanda.
Fontes: Reuters/INPE/ISA/Histórica referida. Foto (Reuters) obtida no dia 20 do corrente no município de Humaitá.
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