A poucos dias do Dia do Município e de Nhu Santo Amaro Abade, Santo padroeiro do Tarrafal de Santiago, que se celebra a 15 de janeiro, o presidente da Câmara Municipal, José dos Reis Varela, dirige-se em entrevista exclusiva ao Asemanaonline a todos os tarrafalenses no país e na diáspora palavras de esperança num futuro risonho para o concelho. Um futuro que, segundo perspetiva o autarca que vai se recandidatar ao cargo nas eleições deste ano, será de melhores condições de vida para todos os filhos de Santo Amaro, pois confia no potencial do Tarrafal para se transformar num município desenvolvimento económica e socialmente. “A tradição da devoção a Santo Amaro baseia-se na esperança e na confiança. São estas duas palavras que endereçamos às pessoas, nesta altura”, afirma revela Varela. Ainda nesta entrevista, o autarca anuncia a retoma ainda este ano da antiga tradição da corrida de cavalos, no dia 15 de janeiro, a qual considera ser um dos pontos altos das festividades deste ano, que estão a ser marcadas também por várias inaugurações que se juntam à obra estruturante do Terminal Rodoviário já entregue aos munícipes. Confira ainda na entrevista que se segue a forte movimentação política e cultural que se vive neste momento no Tarrafal que, segundo Varela, é fundamental para o desenvolvimento deste concelho.
Entrevista conduzida por: Silvana Gonçalves/Redação
A festa do Dia do Município e de Santo Amaro 2024 já começou a movimentar a cidade do Tarrafal.
– Sim, claramente. O movimento dos emigrantes que vêm nesta quadra festiva e aproveitam para tratar dos seus assuntos na Câmara Municipal e nos bancos, dos feirantes que instalaram a Feira de Santo Amaro, desde 8 de janeiro, dos turistas em número mais abundante este ano, aproveitando o clima extraordinariamente quente que se faz sentir…. Enfim, os batismos e casamentos como sempre acontece por altura de Santo Amaro. Sim, é notável o movimento nas ruas.
Pontos fortes das festividades e ato central
Quais são os pontos fortes da festa deste ano?
– A Missa de Santo Amaro, na manhã do dia 15 de janeiro, e o Festival nos dias 12 e 13 são os dois momentos de maior aglomeração de pessoas. São muitos milhares, vindos de todos os municípios de Santiago e do estrangeiro. Temos ainda a Sessão Solene da Assembleia Municipal, no dia 12 de janeiro, e a inauguração da exposição fotográfica sobre o Centenário de Amílcar Cabral, que será aberta pelo Presidente da Fundação Amílcar Cabral, Pedro Pires. Retomamos, este ano, a antiga tradição da corrida de cavalos no dia 15 de janeiro, que também junta muita gente. Teremos ainda o habitual Encontro de Emigrantes, em Trás-os-Montes. Nesta quadra festiva temos também várias inaugurações. Todos estes acontecimentos ajudam a animar a festa.
O que está previsto para o ato solene do dia do Município e quem presidirá a cerimónia?
– A Sessão Solene da Assembleia Municipal conta sempre com muitos convidados, entre os quais os autarcas da ilha de Santiago, e, por vezes, de outras ilhas, e ainda as forças vivas do concelho. Incluirá como habitualmente as intervenções dos partidos políticos e movimentos de cidadãos com assento na Assembleia Municipal, do Presidente da Câmara e do Presidente da Assembleia Municipal. O convidado especial deste ano é o Presidente da República, que é muito amigo do Tarrafal e faz sempre o possível para participar nas festas de Santo Amaro, e que, certamente, trará também reflexões sobre o exercício do poder local em Cabo Verde.
Obras a serem inauguradas e mensagem aos munícipes, emigrantes e festivaleiros
Que obras vão ser inauguradas durante a festa?
– O programa das Festas de Santo Amaro começa em dezembro, indo por vezes até depois do dia 15 de janeiro. Teremos a inauguração pelo Senhor Ministro da Energia de um dos postos de carga de carros elétricos junto à zona turística, e do Gabinete de Turismo. Depois das festas teremos ainda a inauguração do Polidesportivo de Monte Iria e do Polidesportivo de Ponta Rubera. Teremos igualmente a inauguração das obras de requalificação urbana de Ribeira Prata e do Largo de Santo Amaro, na cidade do Tarrafal.
Que mensagem dirige aos emigrantes e pessoas vindas dos outros municípios de Santiago para festejarem o Santo Padroeiro do concelho (Santo Amaro)?
– A tradição da devoção a Santo Amaro baseia-se na esperança e na confiança. São estas duas palavras que endereçamos às pessoas, nesta altura. Esperança de que os nossos sonhos se realizarão e uma grande fé num futuro de melhores condições de vida para todos os filhos de Santo Amaro e de Cabo Verde. Uma esperança muito certeira de que Tarrafal pode ter um papel de relevo no desenvolvimento de Santiago, trazer equilíbrio entre o norte e o sul da ilha, mais qualidade de vida, oportunidades e iniciativas para Santiago Norte. E Confiança no potencial que Tarrafal encerra como um município que pode vir a ser uma terra de desenvolvimento económico e social, que valoriza todo o potencial cultural e ambiental que tem e, sobretudo, uma terra que tem gente capaz de lutar pelos seus ideais, além de confiança na equipa que dirige atualmente o município e que já demonstrou que é possível Tarrafal recuperar muito do tempo perdido, pois já mostramos que temos ideias novas que podem criar novas oportunidades e revelar novas potencialidades e que trabalhamos de forma séria e dedicada, que é a chave que abre as portas do futuro.
Desempenho da Câmara Municipal e situação herdada
A menos de um ano do término do mandato, que balanço faz do desempenho da equipa que dirige até a presente data?
– Uma avaliação honesta geral dos resultados alcançados deve começar pela análise do contexto em que iniciamos o mandato. Estávamos em plena crise provocada pela pandemia da COVID-19, pelo que foi necessário antes de mais invertermos as prioridades para podermos socorrer uma população castigada por meses de inatividade imposta e reduzido acesso a rendimentos e oportunidades de obtenção de recursos. A nossa emigração ajudou durante muitos meses, mas é claro que essa situação não podia perdurar. Devo aqui lembrar um momento que ficou na memória de todos os cabo-verdianos, a revolta das vendedeiras aquando da tentativa de anulação do Festival de Peixe, em 2021. Essa era a primeira oportunidade que se abria para muitas famílias obterem algum rendimento, depois de mais de um ano de fechamento. A frustração das expetativas no momento gerou um impulso de revolta difícil de conter. Também herdámos uma câmara municipal sem projetos, apenas com dívidas avultadas aos bancos, ao fisco, ao setor público administrativo e ao setor privado. A única herança positiva era a expetativa gerada pela mudança tão esperada. A nossa primeira medida foi no sentido de aliviar as famílias do stress do custo do transporte escolar, reduzindo 50% do preço e criando novas linhas. A educação é um ativo de Cabo Verde absolutamente intocável. Em segundo lugar, aproveitamos para investir em trabalhos de requalificação urbana e ambiental nas zonas rurais e mais empobrecidas, contribuindo para uma mais justa redistribuição de recursos, lá onde mais falta fazia. Ao mesmo tempo, retomamos os trabalhos da Casa do Pescador e criámos o projeto do Terminal Rodoviário, empregos e condições de operação para muitas famílias de pescadores e dos setores dos transportes e comércio. E iniciámos a requalificação ambiental da cidade do Tarrafal, preparando-a para ser a cidade turística que queremos, com plantação de árvores para termos muito verde e muita sombra nas ruas da cidade, e a requalificação do centro histórico da cidade, que passará a trazer mais passeios, mais trânsito pedonal e menos viaturas. É também de salientar o apoio aos produtores agrícolas e aos criadores de gado e a criação de uma agenda de eventos culturais, aproveitando as festas de romarias em todas as localidades para promover oportunidades de negócio para os trabalhadores do setor informal. Finalmente, temos sido diligentes em facilitar o investimento tanto dos emigrantes como de outros empresários que escolhem Tarrafal para criar novos empreendimentos. Todos os setores são abrangidos, desde os pescadores e agricultores aos investidores na produção de inertes para a construção, que vão aliviar as nossas praias e ribeiras da extração de areia, até aos investimentos de turismo, alojamento e lazer, que geram empregos e rendimentos para as famílias e para os jovens que aspiram ao setor dos serviços.
Obras estruturantes realizadas e em curso
Que obras mais estruturantes a Câmara Municipal do Tarrafal já realizou até agora no concelho?
– A primeira obra estruturante e com visibilidade foi o Terminal Rodoviário da cidade, concebido como um modelo de requalificação ambiental, contendo um módulo de educação da comunidade para a qualidade de vida e estética urbana de uma cidade que se quer acolhedora e exigente na ocupação dos espaços urbanos e ainda criou uma imagem e uma projeção de novas centralidades, que já estão a nascer. Outro projeto é a Casa do Pescador, concebida para uma transformação da frente marítima da cidade, em que a pesca artesanal e o turismo se casam e se entrelaçam em harmonia. O projeto de requalificação do cais e dos seus arredores, financiado pelo Banco Mundial vai dar continuidade a essa proposição de arranjo urbano moderno, adequado e funcional. A terceira intervenção estruturante tem a ver com a ideia de Tarrafal ter diversos espaços de atração e não apenas um. Trazer a Baía de Fazenda, outrora esquecida e abandonada, para o turismo, requalificar e valorizar Ribeira da Prata e Cuba, assim como Achada Tenda ou Ponta Furna são decisões estratégicas de diversificação territorial e de oportunidades para as populações de Tarrafal. O acesso à ZDTI de Alto Mira, obra concluída recentemente com financiamento do Governo, é também estruturante para o município, na medida em que abre perspetivas de investimentos de grande dimensão. A requalificação do centro histórico da cidade e a drenagem das águas superficiais são projetos que se seguem. Também já iniciámos a discussão com o Governo a continuação da obra de requalificação da orla marítima e a recuperação das praias, tendo em vista fazer de Tarrafal um destino turístico forte, com uma oferta robusta capaz de dinamizar toda a ilha de Santiago.
Que outros projetos ou obras estão em curso?
– As obras da Pedonal de Comércio e Lazer na cidade vão ser retomadas no sentido de conseguirmos a tal nova centralidade, o mesmo é dizer do centro histórico. Acabamos de garantir o financiamento de uma infraestrutura de saúde para Achada Tenda, que servirá toda aquela região. Vamos continuar as obras na Ribeira da Prata, na Fazenda e arrancar a construção de uma unidade administrativa em Achada Moirão para iniciarmos uma nova fase da desconcentração administrativa no interior do município. Temos mais projetos em mente, mas antes é preciso mobilizar os recursos, dentro e fora do país, o que leva tempo e exige também recursos. Mas não nos detemos perante as dificuldades, vamos encontrar caminho para fazer acontecer.
Medidas relevantes tomadas e relacionamento com o governo central.
Destaque as medidas relevantes tomadas em diferentes áreas.
– Na área social temos três prioridades: a primeira é apoiar as famílias na escolarização dos filhos. A segunda prioridade são as famílias com crianças com deficiência e doentes acamados, que ficam muito fragilizadas e com dificuldades acrescidas. A terceira prioridade são os idosos, particularmente quando têm problemas de habitação condigna. Qualquer uma dessas áreas exige muitos recursos e é um desafio para um município como Tarrafal conseguir dar conta de todos os problemas. Neste aspeto, achamos que o Estado deve colaborar mais com o município, que tem de arcar com responsabilidades pesadas que são obrigação constitucional do Estado. Outra linha de ação é o empoderamento das famílias, garantindo acesso a micro-finanças às AGR (Atividades Geradoras de Rendimento). Tem funcionado bem uma linha de financiamento da OMCV-Crédito através de um Fundo de Garantia financiado pela Câmara Municipal do Tarrafal. Para os domínios de agricultura, pesca e comércio a Câmara Municipal vem encontrando meios para apoiar atividades profissionais geradoras de rendimentos para as famílias. Na mesma linha, iremos inaugurar nos próximos dias o Centro Jovem Emprego. A nossa estratégia é autonomizar sempre que possível. Temos uma loja social para apoiar situações extremas, mas não é nossa política distribuir sacos de arroz!
Como tem sido o relacionamento institucional entre a Câmara e o governo central?
– Nós elegemos o Governo como nosso principal parceiro de trabalho. Temos responsabilidades repartidas, atribuídas pela Constituição da República. Sabemos que o grosso dessas responsabilidades são atribuídas ao Governo, mesmo quando na prática são realizadas pela Câmara Municipal. Quando achamos que a repartição não está a ser feita de forma justa, não temos problemas em dizer abertamente o que pensamos. Aliás, nós tomamos sempre a iniciativa de marcar encontros com o Governo para discutir os assuntos. Entramos no carro, vamos à cidade da Praia, sentamos à mesa com o Governo e discutimos, com argumentos e dados. Não temos problemas em falar, precisamente para não ficar sufocados. Escolhemos não digladiar com ninguém na via pública, a não ser em situação muito extrema, esperamos não chegar a esse ponto. Todos os municípios de Cabo Verde sabem o que é sufoco financeiro e todos se esforçam para continuar a desempenhar o seu papel, mas é claro que o farão melhor se tiverem os meios para o fazer.
Recandidatura e desafios do Tarrafal
O que move a sua recandidatura à Câmara Municipal do Tarrafal nas eleições autárquicas deste ano?
– Temos todos a consciência de que o trabalho está apenas iniciado, tendo em conta um primeiro mandato muito reduzido por causa da incidência da crise pandémica, da crise mundial, da alta dos preços, do aumento da dívida nos bancos no seguimento do lay-off, etc. Não seria honesto, nem uma decisão acertada deixar o trabalho apenas iniciado. É com este espírito de missão a cumprir que temos de encarar o Povo do Tarrafal para prestar contas do trabalho feito, debaixo das restrições que tivemos, e mostrar a nossa disponibilidade para continuar, se assim o povo entender.
Quais poderão ser os principais desafios que enfrentará caso seja reeleito?
– Continua a ser um grande desígnio para Tarrafal a ideia de empoderar as pessoas, as famílias, garantir oportunidade aos jovens, gerar um espaço para iniciativas que possam trazer rendimentos, bem-estar e dignidade para todos. Por outras palavras, fazer de Tarrafal uma terra de profecia realizada de todo o seu potencial, tão falado. Dito assim, parece fácil, mas vencer os problemas da pobreza e obter o sucesso económico não é coisa que se realize em pouco tempo, sabemos isso perfeitamente. Qual a fórmula? Todos os dias que Deus põe na cruz, estamos lá com a mesma determinação, pedindo logo de manhã sabedoria para fazer cada vez melhor.
Que mensagem dirige aos tarrafalenses residentes e na diáspora sobre o futuro do seu município?
– Gosto da ideia de os tarrafalenses se sentirem, agora, mais confiantes e mais orgulhosos da sua terra, do seu nome e das suas perspetivas e de acreditarem que era preciso mudar, e fizeram-no bem, escolhendo a mudança. Sem dúvida, é preciso continuar a acreditar. Esta é a lição que devemos retirar da experiência vivida. Aos nossos emigrantes digo que venham investir na sua terra e no seu futuro. Quanto melhor Tarrafal estiver, mais vão gostar de voltar, trazer os filhos e netos para conhecer e mais felizes estarão.
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