Numa cidade balnear no extremo sul da China, a comunidade cabo-verdiana prepara-se para assinalar os 50 anos da independência do seu país com uma panela “bem grande” de cachupa, no restaurante recém-aberto por um compatriota.
Hélder Fernandes vive por cima do seu restaurante, a 10 metros da praia. “Nas cidades grandes na China há muitos carros, muita gente, muito barulho. Ninguém tem tempo para nada: é casa – trabalho – trabalho – casa”, observou, sentado numa cadeira dobrável à porta do restaurante. “Aqui vive-se mais devagar”, salientou.Aprendeu a cozinhar com a mãe para cuidar da irmã mais nova. “Faço a minha comida desde os 12 anos. Comecei pelo arroz, depois aprendi a temperar carne, fazer bolos, pastéis, pão", contou.
“Certamente, faremos uma panela bem grande”, garantiu Hélder Fernandes, a propósito do 05 de julho, dia em que Cabo Verde celebra 50 anos de independência. Natural da ilha de Santiago, vive há uma década na província insular chinesa de Hainan, onde residem dezenas de estudantes cabo-verdianos ao abrigo de um intercâmbio com bolsas atribuídas pelo Governo chinês, em vigor há 14 anos.
De Cabo Verde até Hainan são 13.500 quilómetros de distância, mas as centenas de cabo-verdianos que por aqui passaram desde 2010 sentirão poucas diferenças.
“Cheguei com 17 anos e senti-me logo em casa”, contou Fernandes. “Hainan é muito longe de Cabo Verde, mas há coisas em comum: o calor tropical, o mar. A vida de ilha, que é sempre diferente”, descreveu.
Situado no extremo sul da China, paralelo ao norte do Vietname, Hainan oferece um clima tropical, praias de areia branca e marisqueiras à beira-mar.
A ilha recebeu 97,2 milhões de turistas em 2024, um aumento de 8% face ao ano anterior, segundo dados oficiais. O número de visitantes estrangeiros ultrapassou um milhão, duplicando em relação a 2023, impulsionado pela crescente procura do mercado russo, após o início de ligações aéreas com cidades como São Petersburgo, Moscovo, Krasnoyarsk e Ufá.
Estabelecido na cidade balnear de Sanya, no extremo sul da ilha, Hélder veio em 2015 para estudar Engenharia Informática na Hainan Tropical Ocean University.
Em fevereiro passado, abriu um restaurante em Houhai, uma aldeia piscatória que nas últimas décadas se tornou destino de referência para surfistas e casais jovens chineses. Com vista para o mar do Sul da China, Houhai preserva elementos do seu passado rural: casas baixas em alvenaria, ruas de terra batida e uma comunidade que ainda vive da pesca e da pequena agricultura, mas que partilha hoje espaço com cafés, bares e hotéis de charme.
Hélder Fernandes vive por cima do seu restaurante, a 10 metros da praia. “Nas cidades grandes na China há muitos carros, muita gente, muito barulho. Ninguém tem tempo para nada: é casa – trabalho – trabalho – casa”, observou, sentado numa cadeira dobrável à porta do restaurante. “Aqui vive-se mais devagar”, salientou.
Aprendeu a cozinhar com a mãe para cuidar da irmã mais nova. “Faço a minha comida desde os 12 anos. Comecei pelo arroz, depois aprendi a temperar carne, fazer bolos, pastéis, pão", contou.
O espaço que gere com outro compatriota cabo-verdiano pertencia antes a um restaurante brasileiro, frequentado por turistas e residentes estrangeiros. Herdaram a grelha, mas estão a renovar o menu, com planos para introduzir pratos como arroz de polvo, arroz de peixe ou pastel de milho.
“A comida cabo-verdiana vai ser a base”, assegurou Hélder. “Mas queremos também trazer outros sabores. Sempre um pouco de cada”, acrescentou.
Depois de cinco anos sem regressar a casa, devido à pandemia da covid-19, Hélder Fernandes visitou a ilha de Santiago há sete meses. A intenção, no entanto, é permanecer em Sanya.
“Sinto falta da família e da comida da mãe”, confessou. “De resto, tenho tudo aqui”, afirmou.
A Semana com Lusa
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