Frederico Hopffer Almada é arquitecto de formação, com uma extensa obra saída do seu punho, mas a música também cruzou os seus caminhos, tendo já lançado no mercado dois CD e o “Subriviventi” está para breve.
Nesta última obra discográfica, que já começou a preparar com o arranjo do músico Quim Alves, Nhonhô Hopffer conta a história do seu estado actual de saúde e quer dedicá-la ao seu amigo Antero Simas, recentemente falecido.
Apesar de dominar muito bem a língua portuguesa, por ser um paladino do crioulo cabo-verdiano, preferiu que a entrevista fosse conduzida na língua materna.
“A arquitectura que é minha formação, como se diz em crioulo, é nha katxupa [minha cachupa], enquanto a música é mais um hobbie”, afirmou, acrescentando que a música para ele é uma terapia.
Na sua perspectiva, todos os cabo-verdianos gostam da música e é capaz de jurar que todos os arquitectos gostam também desta arte.
“É difícil imaginar um arquitecto que não goste de pintura, escultura, teatro ou artesanato”, indicou, afirmando que a arquitectura é das maiores artes existentes no mundo.
Por isso, sente-se “mais rico e complementado” depois que entrou no mundo da música.
É autor de vários projectos de arquitectura emblemáticos espalhados um pouco por todo o País, mas o do Ministério dos Negócios Estrangeiros, outrora denominado Palácio das Comunidades, marcou a sua vida profissional, apesar de não gostar das obras de acabamento.
“Aproveitaram o momento em que me encontrava de férias para meterem o material que quiseram na pavimentação do edifício”, lamenta Nhonhô Hopffer Almada.
Segundo ele, há pouco tempo o edifício foi pintado de novo e, enquanto autor da arquitectura, não foi nem tido nem achado.
“Isto é um erro grave que tem de ser corrigido em Cabo Verde. Precisa-se de ser respeitado o direito de autor. Pode-se mexer em qualquer obra, mas sempre com a autorização do autor da obra”, sugeriu, admitindo que em Cabo Verde, no campo musical, muitas vezes, se respeita os cantores e os intérpretes, mas se esquece do autor das letras da música.
Actualmente, por causa da doença que o obriga a viver maior parte da sua vida nos Estados Unidos de América, a arquitectura ficou um pouco de lado e, mesmo assim, continua com o gabinete aberto para quem o queira contactar através de e-mail ou redes sociais, porque ainda tem lá alguns colaboradores que continuam a trabalhar com ele.
“Hoje, com a internet, pode-se fazer um projecto a partir de qualquer parte do mundo”, afiançou o arquitecto e músico.
Ainda muito jovem, antes da independência de Cabo Verde, começou a dar os primeiros passos no mundo da música, fazendo serenatas juntamente com alguns amigos ligados à política, pelo que as coisas eram feitas com muito cuidado por causa da Polícia Política (PIDE).
“Foi praticamente na Roménia que comecei a cantar, chegando a pertencer a um grupo formado por cabo-verdianos e guineenses. Tocamos sobretudo por ocasião do Dia da África”, indicou.
Entretanto, em 2007, colocou no mercado o seu primeiro CD intitulado Nhara Santiago, uma homenagem à sua filha primogénita. Em 2018, gravou “Santamaria”. em honra à sua caçula.
Garantiu à Inforpress que a sua próxima obra discográfica, que deve chegar brevemente ao mercado, apresenta uma “grande diferença” porque traz a primeira composição saída da sua lavra.
“Devido à minha doença e a pedido de alguns amigos, compus uma música a que dei o nome de “Subriviventi”. Foi musicalizado pelo Maruca Tavares, um grande compositor do Tarrafal”, afirmou Nhonhô Hopffer.
Segundo ele, quando lhe foi diagnosticada a doença na Europa, lhe foi dito que tinha seis meses de vida, mas que está vivo há quatro anos.
Para ele, a Europa o deixou, enquanto os Estados Unidos da América lhe deram a mão para ainda continuar a viver.
Assume-se como defensor ferrenho da ilha de Santiago, em particular Santa Catarina, sua terra natal e recusa a etiqueta de bairrista.
“Não tenho um milímetro de bairrismo. Defendo cada ilha e cada cultura de cada ilha. Sou regionalista porque defendo que cada um deve defender seu cutelo e sua ribeira”, observou, para depois dizer que o simples facto de uma pessoa defender Santiago é suficiente para ser conotado com bairrismo.
Em entender, o Governo da República devia dar um pouco mais de atenção àqueles que contribuíram para a construção dos alicerces de Cabo Verde.
Um outro desejo de Nhonhô Hopffer Almada é ver oficializado o crioulo.
“Antes de morrer, gostaria de ver oficializada a nossa língua materna, o crioulo”, desejou, esperando para o efeito uma “grande contribuição” do actual Presidente da República, José Maria Neves. A Semana com Lusa
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