O ex-vice-primeiro-ministro e antigo chefe da diplomacia portuguesa Paulo Portas classificou como “interessante” que o último ato de política externa do Presidente norte-americano, Joe Biden, tenha sido visitar Cabo verde e Angola.
“Não deixa de ser interessante que a saída de cena do Presidente Joe Biden, que retomou as cimeiras África-América, seja em visita a dois países lusófonos”, destacou Paulo Portas, na quinta-feira à noite, em Lisboa.
Paulo Portas, que intervinha numa conferência sobre os desafios da Lusofonia, a pretexto do lançamento do próximo número da revista “Democracia e Liberdade”, do Instituto Adelino Amaro da Costa, considerou que os Estados Unidos “começaram a redescobrir África”.
“Os Estados Unidos voltaram a África, onde já não estavam há muitos anos e vamos ser verdadeiros: Barack Obama faz um discurso absolutamente extraordinário sobre África na Universidade do Cairo e esse discurso não tem grande consequência”, salientou Portas, referindo-se ao discurso de 04 de junho de 2009 do antigo presidente norte-americano.
“No mandato inicial de Donald Trump não houve África”, frisou o ex-chefe da diplomacia portuguesa, ao destacar que Biden retomou as cimeiras Estados Unidos-África.
“A última foi em 2014. Os Estados Unidos quando se retiram do mundo dão espaço à China. É tão simples quanto isso. Em globalização não há espaços vazios. Quem deixa a cadeira volta lá e se calhar a cadeira está ocupada”, explicou.
Na intervenção, Paulo Portas lamentou o “mau momento” que a França está a passar no Sahel.
“Vejo com lamentação que uma das potências europeias relevantes em África - certamente nessas histórias há responsabilidades dos dois lados -, não está a passar um bom momento em África desde há uns anos a esta parte. Refiro-me à França e à Francofonia no Sahel. Mas isto é um facto”, afirmou.
Segundo Paulo Portas, uma parte deste “ressentimento no Sahel contra a França é gerado por golpes de Estado e isso, para muitos africanos, sobretudo mais jovens, é uma preocupação, porque África tinha feito um progresso extraordinário através das suas organizações regionais, que são muito fortes e através da União Africana, para institucionalizar a constitucionalidade”.
Portas referia-se à posição de princípio da União Africana de não reconhecer juntas ou governo que não sejam escolhidos por via eleitoral.
“Nós tivemos sete golpes de Estado, tentados ou conseguidos, na África do Sahel nos últimos três anos. Isso é uma coisa que só os africanos podem resolver, como é evidente com as suas organizações. Mas é preocupante. É uma espécie de regressão e que é decisiva para o investimento”, alertou.
O antigo ministro português considerou que houve “participação e interferência” de Moscovo nesses golpes de Estado.
“Uma parte destes golpes de Estado tiveram reconhecidamente, publicamente dito pelas autoridades africanas, a participação e a interferência russa. Uma coisa é fazer cooperação militar, outra coisa é mudar regimes e depor presidentes”, frisou.
Relativamente à importância da Lusofonia, Paulo Portas deu relevo à língua como fator de unificação do mundo lusófono.
“A visão da Lusofonia não é uma visão de Portugal. É uma partilha dos Estados que falam português. O fator que mais unifica o mundo lusófono é a língua. O que dá relevância a uma língua é o seu caráter multicontinental”, defendeu, vincando que essa é uma condição para que a língua portuguesa esteja entre as mais relevantes e mais utilizadas.
A Semana com Lusa
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